quarta-feira, julho 07, 2010

MUSEU DE FRANCISCO TAVARES PROENÇA JÚNIOR - IX

UM PEQUENO 
RESUMO HISTÓRICO
(1971 a 2010)
(Continuação)
Tal como disse no último posts, com a nomeação de António Forte Salvado para director do museu tudo iria mudar. O museu deixou de ser “aquela instituição onde se guardavam coisas velhas” e escancarou portas à comunidade que o enlaçava. Esse escancarar de portas, consistiu em unir-se à comunidade escolar da nossa cidade, (essencialmente através da arqueologia de Tavares Proença) e à restante população, (assim como a quem visitava a nossa cidade), através dos bordados de Castelo Branco.
Porém, não se pense que o dia-a-dia do museu, estava acorrentado a estes dois sectores, havia muito mais que essas duas áreas. Para se compreender melhor este “segundo fôlego” do nosso museu, eu dividiria esta segunda fase da sua existência, em duas fases a que vai de 1975/89 e a que vai até à presente data, pois queira-se ou não, qualquer instituição será sempre conotada (para o bem ou para o mal), com o indivíduo que a dirige.
Tal como disse anteriormente, o museu não era só os bordados e a arqueologia! Havia muito mais… dentro das paredes do velho edifício do Paço Episcopal. As exposições, os consertos, palestras, teatro, e cinema, foram algumas das muitas áreas em que o museu cimentou o seu trabalho ao longo dos quinze anos em que António Forte Salvado esteve como director.

AS EXPOSIÇÕES
Falar das exposições realizadas entre 1975 e 1989, não é tarefa fácil, pois elas foram tantas e tão diversa, que é quase impossível fazê-lo.
Nos quinze anos que vão de 75 a 89, terão sido realizadas no museu mais de 300 exposições.
Exposições que abrangeram praticamente todas as áreas culturais e que trouxeram ao nosso museu, praticamente todos os nomes consagrados e menos consagrados da pintura portuguesa do século XX.
Mas não se pense que apenas existia a preocupação de dar sala a quem era conhecido! Existia igualmente, a preocupação de dar espaço a quem começava... e muitas foram as exposições realizadas por jovens pintores desconhecidos.
Em homenagem a algumas dessas exposições e aos seus autores, vou tentar evocar aqui uma mão cheia delas, pedindo desde já desculpa aos autores das muitas outras, por as deixar no baú do passado.
Na minha procura de dados, (mentais e documentais) sobre as exposições realizadas nas décadas de setenta e oitenta do século passado, recuei às citadas décadas e vasculhei mentes e arquivos na busca de eventos que pudessem ser uma mais-valia, para aqui poder recordar.
No ano de 76 decorreu no museu uma exposição que penso merecer ser aqui lembrada: “Albitex -76” Exposição realizada pelo Núcleo Filatélico e Numismático “Amato Lusitano” e o Museu Francisco Tavares Proença.
Um artigo publicado no jornal “Reconquista” no dia 10 de Dezembro de 76 sobre esta exposição, tinha por título: A “Albitex-76” já foi vista por mais de duas mil pessoas.
Mais de duas mil pessoas numa exposição!..
A pergunta só pode ser uma! Seria possível organizar nos dias de hoje na nossa cidade, uma exposição que fosse visitada por mais de dois mil visitantes!?
Responda quem quiser e souber.
Em 1977 decorreu uma outra exposição que tenho gratas recordações: “Angola-Culturas Tradicionais” organizada pelo Instituto de Antropologia de Coimbra e o Museu.
O jornal “Reconquista” dizia nessa reportagem a respeito dessa exposição, entre outras coisas, o seguinte: “Esta exposição merece que toda a comunidade escolar, da nossa cidade, dediquem um pouco de atenção e alertem os estudantes para o enriquecimento cultural que a visita lhes poderá proporcionar”. Terminava dizendo: “Trata-se em nosso entender, de uma das mais válidas que têm passado pelo edifício do antigo Paço Episcopal”:
Dos muitos pintores que tive o privilégio de conhecer durante o tempo em que António Forte Salvado esteve à frente do museu, houve um, por quem tenho uma admiração do tamanho do mundo. ´
Esse homem chama-se Barata Moura e expôs no museu pela primeira vez em 1978, bisou a graça em 1981, e triplicou a proeza em 1983. A primeira exposição era composta por setenta quadros, (se a memória não me atraiçoa) e tinha por tema, a nossa cidade.
Sobre essa exposição deixo algumas palavras publicadas no jornal “Reconquista” a propósito da mesma: “Os quadros expostos e que tivemos ensejo de apreciar, tem qualquer coisa de nós próprios, como pedaços de alma beiroa, testemunhos vivos muito expressivos e de singular fisionomia da nossa região, de sedutor encanto, mas nem sempre devidamente admirada e valorizada”. Esta terá sido uma das exposições que mais gente levou ao museu.
Em 1981 Barata Moura volta ao museu com a exposição: ”Pelourinhos e Castelos da Beira Baixa”.
Em 1983 regressa com a exposição: “Encontros Com o Tejo”. Sobre esta exposição muito se pode dizer, porém, fico-me por um pequeno excerto retirado do catálogo da exposição: “Mais que mostra de pintura estes sessenta trabalhos de Barata Moura patenteiam-nos a comunhão ou a luta difícil, no espaço e no tempo, entre o homem e a natureza, numa das mais curiosas, originais e belas zonas da península ibérica”.
O mestre Barata Moura tinha por hábito estar presente nas suas exposições, por vezes um outro visitante ao saber que ele era o homem que tinha pintado aqueles quadros, dirigiam-se a ele e abraçavam-no com enorme carinho. Durante a primeira exposição no museu, aconteceu um episódio que ele gostava de contar a quem visitava as suas exposições.
"Um casal de velhotes que viera casualmente visitar o Museu, entrou na sala onde estavam os meus quadros, viram-nos e depois o homem exclamou".
- Tantas obras de defuntos! - Ai que pena que este pintor também já tenha morrido e não possa estar aqui com a gente, a ver estas belezas da nossa terra... (o mestre que estava na sala, ouviu o velho homem e respondeu).
- Estou aqui amigo! "E assim nos abraçámos e congratulámos".
Terminava este posts contando que os quadros referentes às exposições:“PELOURINHOS E CASTELOS DA BEIRA BAIXA E ENCONTROS COM O TEJO”.

 Foram praticamente “Dados” ao museu pelo Mestre Barata Moura, (mais de noventa quadros) e são hoje uma mais-valia para o nosso museu, e para a nossa cidade.
(Continua)
O Albicastrense

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