segunda-feira, julho 17, 2017

O BARROCAL


Manuel Costa Alves publicou na última edição do jornal “Reconquista”, o artigo que pode ser lido a seguir.
Como partilhe muitas das suas preocupações sobre o nosso Barrocal, só me resta posta-lo neste blogue e dar ao seu autor, os parabéns pelo excelente artigo.
           
SEMANÁRIO “RECONQUISTA / CATA-VENTOS" (13 Julho 2017)
A minha infância está a pouco mais de cem metros do Barrocal. E ainda está à mão de semear na minha memória. A maior parte dos leitores não saberá que o Barrocal começava muito para cá da divisória que a linha férrea fixou. A Escola Superior de Educação está onde nos insinuávamos por becos e quelhas e grandes pedras que faziam eco de aventuras inspiradas nos livros de caubóis. 
Convivíamos com lagartixas e grilos e pardais e cães sem dono e ervas e árvores numa periferia que já não era aldeia mas ainda guardava sumos de vida natural. Até hoje podemos encontrar algumas dessas pedras a irromperem na zona como rastos de um tempo e de um espaço desaparecidos. 
O lado esquerdo da avenida Nuno Álvares, de quem vai para a Estação depois da igreja, o que era? Era Barrocal que o caminho de ferro separou e isolou até que veio a ser explodido pelos blocos que lhe sucederam. Imagino como o olharíamos se a cidade tivesse evoluído preservando o que, no tempo, foi considerado um inútil amontoado de pedregulhos e hoje talvez apreciássemos como lugar habitado por um tesouro natural.
Mas, enfim, o que lá vai, lá vai. Em causa, está agora um projeto de intervenção do município com um orçamento que ronda um milhão de euros. O pouco que sei dele e a pobreza dos meus conhecimentos não me autorizam a ir além do básico senso comum.
Vejamos: a evolução da cidade determinou que fosse arredada do convívio com esse Barrocal da minha infância que nos abria às inocentes aprendizagens vagabundas que faziam também a nossa educação.
As crianças das gerações seguintes vão perdendo essa relação e até as ruas lhes vêm a ficar gradualmente interditadas. Daí que aceite como necessária e mais do que bem-vinda uma intervenção que estabeleça uma relação de Castelo Branco com os 50 hectares do seu tão abandonado Barrocal. Mas, cuidado!
Leio, ouço aqui e ali e sinto-me a atravessar uma ponte entre dois fundamentalismos. O de quem acha que pode fazer o que quiser no Barrocal e o de quem não quer que lhe mexam, nem com a flor de uma palha.
O Barrocal de Castelo Branco é um sítio de importância geológica e ambiental, um monumento natural local com valores intrínsecos, um espaço público que é património da cidade. Teremos de respeitar as suas dinâmicas e não servir-nos dele com arrogâncias de antroposfera dominante.
Escreveram Carlos Neto de Carvalho e Joana Rodrigues na sua “Proposta de Conservação e de Valorização do Barrocal de Castelo Branco” (2010): “A valorização do Barrocal deve reunir um conjunto de intervenções que obedeça a critérios de elevado controlo científico, gestão ambiental/ conservação da Natureza e sentido estético.”
A Câmara Municipal garante que vai ser um parque natural. Então, tratemo-lo como tal. Um parque natural não é um parque urbano. Muito menos um parque de diversões. Portanto, não lhe mexam muito. Mexam-lhe apenas o necessário e com bom senso para que possamos relacionar-nos naturalmente com ele não ferindo os seus equilíbrios. Construir infraestruturas?
Só as mínimas e, por favor, não metalizem. Dissimulem o mais possível tudo o que fizerem, utilizem os materiais mais leves, mais próximos ou mais familiares dos que estão lá. E não berrem nas cores nem intervenham como se quisessem fazer cidade ali. Há sempre um pato-bravo a querer saltar dentro de nós. Permitam que diga assim: Não criem elefantes-brancos! Nem pistas nem auditórios! E informem e façam pedagogia sobre o que se deve e não dever fazer no Barrocal.
Manuel Costa Alves
                                        A Albicastrense

1 comentário:

  1. josé pereira azevedo02:40

    Perante tantas alarvidades que já li sobre a intervenção no Barrocal, (em que jogos de baixa política local sobressaem)encontro finalmente um texto repleto de bom-senso, escrito por um homem inteligente, que há muitos anos me habituei a admirar (desde os tempo da Meteorologia na RTP). Grato pela sua lúcida intervenção, caro Manuel Costa Alves. P.S. - Conheci o Barrocal nos anos 80 do séc. XX. Para mim foi uma desilusão, devido à degradação que por ali pululava. Deste protituição de rua, toxicodependentes de drogas ditas duras... a lixeira, tudo ali era degradante e repugnante. Ainda assim, como amante da literatura nos meus jovens anos, arrsquei andar por ali e percorri o barrocal, sozinho, tendo descobreto enormes belezas escondidas ao comum dos mortais. Que as mesmas sejam dadas a conhecer a albicastrenses e turistas e que se elimine a degradação que ali assisti nos remotos anos 80. Sempre, de acordo com os princípios de rigor e discrição defendidos conciensiosamente por Manuel Costa Alves.

    ResponderEliminar

ZONA HISTÓRICA DA TERRA ALBICASTRENSE.

 PRAÇA CAMÕES      UM BELO EDIFÍCIO QUE NÃO PODE CONTINUAR COMO ESTÁ.   Não sei quantas vezes já aqui lamentei, o deplorável estado em que...