sexta-feira, julho 27, 2018

EFEMÉRIDES MUNICIPAIS – CXXVIII

A rubrica Efemérides Municipais foi publicada entre Janeiro de 1936 e Março de 1937, no jornal “A Era Nova”. Transitou para o Jornal “A Beira Baixa” em Abril de 1937, e ali foi publicada até Dezembro de 1940.
A mudança de um para outro jornal deu-se derivada à extinção do primeiro. António Rodrigues Cardoso, “ARC” foi o autor desde belíssimo trabalho de investigação, (Trabalho que lhe deve ter tirado o sono, muitas e muitas vezes).

 RELATO DA PASSAGEM DOS INVASORES
FRANCESES E ESPANHÓIS POR CASTELO BRANCO 
EM DEZEMBRO DE 1806

Atravessando a Espanha, o exercito Francês com tropas Espanholas à mistura transpôs a fronteira e, na noite de 20 de Novembro de 1807, cinco mil homens desse exército entravam em Castelo Branco.
Umas três horas antes, tinha cá chegado um comissario francês que, com ordem do corregedor da comarca, exigiu que sem demora se aprontassem cinco mil rações de pão, carne e vinho para os soldados que iam chegar. Pôs-se tudo em campo para se arranjar o que era exigido pelo francês e, para que nada faltasse, tirou-se à pobre gente da terra o pouco que tinha para comer.
Apesar de todos esses cuidados, os soldados franceses e os seu amigos espanhóis, que tinham sido acomodados nos conventos e nas casas particulares e recebidos e tratados com todas as atenções não houve violência que não praticassem. Roubaram, violaram mulheres, maltrataram homens etc.
No dia seguinte, porem, foi pior.
Chegaram dezasseis mil franceses e espanhóis, teve de se arranjar de comer, de beber e dormir e, não obstante ficaram bem comidos e bem bebidos, arrombaram portas, arrancaram sobrados e deitaram-lhes o fogo, mataram centenas de porcos, entravam em todas as casas, onde roubavam o que lhes agradava, iam às adegas e, depois de beber até fartar, vazavam o vinho que correu pelas ruas em regalo, roubavam as alfaias das igrejas. Em suma, um horror.
No dia seguinte toda aquela tropa, depois de ter obrigado as autoridades a aprontar-lhes, dentro do prazo de uma hora, guias, dezenas de juntas de bois, bestas de tiro e de carga, ferramentas, fizeram tudo o que lhes pareceu.
Foi um alívio que pouco durou, porque no mesmo dia chegaram dois mil homens de cavalaria e infantaria e foi forçoso fornecer-lhes outras tantas rações de pão, carne e vinho.
No dia 23 chegaram mais três mil soldados, que ficaram no campo, mas lá teve de levar-se a cada um a sua ração.
No dia 24 apareceram mais seis mil soldados de infantaria, que ficaram também no campo, mas de noite vieram à cidade em grande número e roubaram, incendiaram, fizeram toda a casta de distúrbios e violências.
No dia 25 saíram estes, mas logo no dia 26 chegaram 800 soldados de cavalaria e foi forçoso aboletá-los e arranjar a ração para cavalos. Saíram no dia seguinte bem municiados, mas de tarde vieram mais mil e cem soldados, que saíram de manhã do dia 28. Porém, no mesmo dia ai chegam mil soldados de cavalaria e depois mais uns centos com ordem para lhes fornecerem os cavalos necessários para transporte da artilharia, que tinha ficado no Ponsul, para onde também tiveram de ser enviados mantimentos.
No dia 30 chegou a artilharia, escoltada por mil infantes e seiscentos soldados de cavalaria. Tiveram de sair no mesmo dia, mas saíram bem municiados. Logo, porém de tarde ai chegam mais perto de dois mil soldados de infantaria e cavalaria, que se aquartelaram nas capelas e conventos, aboletando-se os oficiais por casas particulares.
No dia 1 de Dezembro chegou o trem do hospital do exército, acompanhado de soldados de cavalaria. Aboletados como foi possível numa terra a que já tinham tirado tudo, não se mostraram satisfeitos e não houve violência que não praticassem.
No dia 2 saiu a cavalaria em direção ao Perdigão, mas a infantaria saiu no dia 3 pelo Salgueiro em direção a Sarzedas. Neste mesmo dia, de tarde, chegou a bagagem do general Junot, guardada por mais de mil soldados de infantaria e cerca de um cento de cavalaria. Aquartelaram-se nos conventos, aboletando-se os oficiais o melhor possível.
E isso continuou pelo mês de Dezembro fora e passou ainda para Janeiro. A maior parte da gente fugiu para os campos, porque na cidade não tinham que comer nem sossego.
Que haviam de fazer os pobres vereadores no meio de toda esta balburdia? Sofriam e calavam, que não tinham outro remédio.
(Continua)
PS. Aos leitores dos postes “Efemérides Municipais:
O que acabaram de ler é uma transcrição do que
 foi publicado na época.
O Albicastrense

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