UMA TRISTE SITUAÇÃO
QUE ENVERGONHA A TERRA ALBICASTRENSE.
EM DEFESA DO CHAFARIZ DE SÃO MARCOS
O
primeiro poste de 2019, só podia ser sobre uma pérola da terra albicastrense
abandonada por todos nós.
Em 2008 postei
aqui uma publicação sobre o nosso velhinho chafariz de S. Marcos, depois disse,
voltei a falar do assunto mais cinco vezes. Onze anos depois, o velho chafariz continua
abandonado e acha-se cada fez pior, ou seja, de nada ajudaram as minhas súplicas
para que algo fosse feito em seu beneficio.
Fui visita-lo
no primeiro dia do novo ano, confesso que vim de lá enfurecido e disposto a
apertar o pescoço a quem me aparecesse pela frente, que tivesse responsabilidades
pela desgraçada situação em que o triste chafariz de se encontra.
As imagens aqui postadas foram recolhidas nessa minha visita, imagens, que deveriam cobrir de vergonha, todos os responsáveis políticos da terra albicastrense, assim, como enfurecer todos os albicastrenses que verdadeiramente adoram a sua terra.
Como forma de agradecer ao velho chafariz o muito que deu a terra albicastrense, resolvi voltar a postar uma entrevista feita pela dupla "Bigodes & Companhia" em 2008.
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O
chafariz de São Marcos está classificado como Imóvel de Interesse Público pelo
Decreto nº 95/78, DR 210 de 12 Setembro 1978.
A
dupla, “Bigodes e Companhia”, conhecedores das minhas intenções de apresentar
neste bloque o historial dos Chafarizes da nossa cidade, resolveram fintar-me,
(são uns invejosos) e munidos dos respectivo acessórios para esta tarefa, foram fotografar e entrevistar o velho
chafariz de S. Marcos.
Aqui
fica a entrevista entre o velho chafariz e a dupla "Bigodes e Companhia". Gostaria
no entanto de esclarecer, que o blogue, “Castelo Branco – O Albicastrense”, não se responsabiliza por este trabalho
maluco.
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- Eminente chafariz, em
primeiro lugar gostaríamos de agradecer esta conversa, pois somos
sabedores que um tal, ”Albicastrense”
se preparava para o vir chatear com perguntas patetas.
-
Perguntem, eu gosto de contar a minha história.
- Como
é ter nome de Santo?
-
Sabem eu nem sempre tive este nome, no início era conhecido como Chafariz da
Devesa.
- Da
Devesa! Sim
…
Por
volta do século XVI ou XVII, (a minha
memória já deixa muito a desejar) já aqui estava instalado. Este local
fazia parte da extensão de terreno que ia desde a antiga muralha, (atual rua Vaz Preto) até ao sítio do
cansado.
Só
muito mais tarde e graças à Capela que tenho como vizinha, foi batizado com o
nome porque me conhecem hoje.
Sabem,
esta coisa de ser chafariz é uma tristeza, já nada querem connosco, pois estamos
praticamente abandonados.
- São
mais de 400 anos de existência.
-
Foram muitas as gerações de albicastrenses, que por aqui passaram.
Nos
primeiros tempos, os albicastrenses vinha beber a água que jorrava da minha
boca, conversar, desabafar, namorara e até brincar com a minha água. Com o
passar dos tempos perdi beleza e popularidade.
Os
residentes da nossa cidade esqueceram-me, os políticos desprezaram-me, e até as
mulheres que aqui vinham lavar a roupa deixaram de o fazer. Por
fim até a bicharada que aqui vinha beber a minha água, deixou de aparecer.
- Está
muito magoado com os albicastrenses?
- E
com razão… vocês sabem de onde vinha a água que eu dava a beber aos moradores
da nossa cidade nesses tempos?
- Não!
- Pois, ninguém sabe!
- Hoje
já ninguém quer saber da história dos velhos chafarizes da nossa cidade. Mas eu vou dizer-lhe; a minha água era oriunda de um nascente que germinava
numa das encostas do castelo da nossa cidade, e conduzida até mim por meios
subterrâneos. Hoje nada sei do líquido que me corre nas entranhas.
Sofri
muitas reparações ao longo dos tempos, porém, muitas delas foram autênticos
absurdos. Vocês acham que estou bem conservado?
- Para
ser-mos sinceros… está uma autêntica desgraça.
-
Vocês têm cara de parvos mas pelo menos são honestos! Vejam
no século XIX, sofri mais uma das muitas reparações que me fizeram ao longo
dos tempos. Nessa reparação entre outras coisas, substituíram-me a boca de
granito que dava de beber à bicharada, por um tubo de ferro!
- Não
pode ser!
- Pode… pois, ainda hoje a tenho. No século XX (a
última reparação que sofri), o meu tanque que tinha sido construído no
século XVII, foi quase engolido pelo chão como podem ver. Mas nem tudo foi mau
nestes cerca de 400 anos!
- Ah…
então também ouve coisas boas!
- Sim!
- Em
Abril de 1655 a autarquia da nossa cidade reconhecendo a minha importância, (nessa altura ainda me chamavam de Chafariz
da Devesa) aprovou um documento em sessão Camarária, onde determinou o
seguinte:
“Toda a pessoa de qualquer
qualidade que seja, que lavar no dito tanque dele ou fora dele roupa ou outra
qualquer coisa pagará pela primeira vez dois mil réis e pela segunda quatro;
toda a pessoa que lançar alguma pedra pequena ou grande no dito tanque pagara
dois mil réis e a mesma pena terá qualquer pessoa que tirar pedra do cano do
dito chafariz ou derrubar alguma pedra do bordo por baixo do tanque; toda a
pessoa que derrubar alguma das ameias do tanque pagará seis mil réis de coima;
toda a pessoa que no dito tanque aguçar alguma ferramenta no bordo ou em alguma
pedra do dito tanque pagará dois mil réis. As quais condenações todas serão
pagas na cadeia e sendo filho, pagará seu pai por ele e qualquer pessoa com uma
testemunha o pode a coimar”.
- Bons
tempos esses! Tempos, em que se preocupavam comigo.
- Mas
em 1978, foi considerado Imóvel de Interesse Público.
- De
que serve tal distinção! Se a
água que irrompe da minha boca, não serve para matar a sede a quem por aqui
passa.
Se o
meu tanque está cheio de porcaria e ninguém se preocupa em limpa-lo.
Se as
minhas paredes estão uma indecência e ninguém as pinta.
Se
alguém quiser uma fotografia minha, tenha que levar como brinde na minha foto a
imagem e de uma carrinha que aqui tem garagem.
É
caso para dizer: “Sou considerado
imóvel de Interesse Publico, no entanto, ninguém cuida de mim, como seria se não tivesse
qualquer classificação”?
- Amigo
Chafariz de S. Marcos, a dupla “Bigodes e
Companhia” lamenta profundamente o seu miserável estado de saúde. Promete-mos
voltar quando tivermos boas notícias, Bigodes e Companhia
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PS. Onze anos
depois da publicação desta pateta "entrevista", mas com dados históricos verdadeiros, nada mudou (perdão!.. está tudo
pior), acabo atestado o seguinte: O infame estado em que se encontra o
nosso velhinho Chafariz de S. Marcos, faz rebolarem nos seus túmulos os
albicastrenses que no passado o ergueram, os de hoje, (independentemente de se
estarem borrifando para ele), assim como a terra albicastrense.
O Albicastrense