sexta-feira, agosto 26, 2022

O AMOR E A MORTE... NOS ANTIGOS REGISTOS PAROQUIAIS ALBICASTRENSES – (10)

Por Manuel da Silva Castelo Branco

(Continuação)
Que fossem brandos e bem aceites os seus familiares e que tivessem horror aos vícios. Trouxe sempre diante dos olhos a observância da lei de Deus, frequentava os Sacramentos e tinha contínuas devoções; punha especial cuidado em que a sua família vivesse conforme as obrigações de cristãos e em remediar as necessidades dos pobres, com ardente caridade.
Gostava muito de tratar as pessoas, que reconhecíamos de virtude; foi de alegre conversação e de génio aprazível; e sendo, finalmente, um composto de perfeições que a conduziam a merecer o título de matrona e a parecer singular entre as mulheres e senhoras do seu tempo; e das mais capazes de viver no mundo, sendo nele tão precisa para a criação de dez filhos inocentes (dos quais, o mais velho contava 12 anos, o último, não bem completos 4 meses) e para o conduto da vida de seu marido, consolação de sua mãe, complacência de seus parentes e felicidade de toda a sua casa ... veio a morrer na flor da sua idade, com 28 anos menos três dias, em 19 de Outubro de 1723, uma terça-feira, pelo caso mais fatal e como uma das desgraças mais infaustas que se têm representado no triste teatro deste mundo» ...(24)
Efectivamente, na ausência do marido e do filho mais velho (em viagem para Portalegre e Castelo Branco), D. Francisca decidiu ir passar a tarde daquele dia à sua quinta da Serra do Bispo, no termo de Elvas.
Jornada de recreio, aproveitando a companhia da mãe e de duas filhinhas; e ali permaneceram durante algumas horas ...  No regresso, quando a seu pedido o cocheiro parou e desceu da sege afim de abrir a cortina dianteira, as mulas desataram numa corrida desenfreada e D. Francisca foi projetada para o meio da estrada.
Embora não apresentasse qualquer ferimento, expirava poucos momentos depois, já nos braços da mãe e rodeada pelas filhas, que saíram ilesas deste trágico acidente...

UM PARTO PRODIGIOSO.
Assento 16 (S1 - 4M, fl. 92v) 
- Aos catorze dias de Julho do anode 1716, nasceram duas crianças filhas de António Simão homem trabalhador e de sua mulher Maria Mendes Bragança, desta vila e freguesia. Ambas as ditas crianças com dois corpos da cintura para cima, distintos, com rosto cada uma de fêmea e bem afigurado, com dois corações, quatro braços e quatro pernas; e um só corpo da cinta para baixo, mas este tão inseparável e comum a ambas as crianças que é impossível por nenhuma arte poder separar-se um do outro, a via da urina é uma só e a outra via também uma. Às ditas crianças baptizei «sub conditione» por me parecer que o homem, que as baptizou nessa necessidade do parto, se perturbou vendo tal prodígio.
Foram-lhes postos os santos óleos a 21 do dito mês e, por ser caso não
visto nestas partes, se fizeram vários retratos que se mandaram não só a
cidades de Portugal mas ainda de Castela.
de 1716, nasceram duas crianças filhas de António Simão homem trabalhador e de sua mulher Maria Mendes Bragança, desta vila e freguesia. Ambas as ditas crianças com dois corpos da cintura para cima,
distintos, com rosto cada uma de fêmea e bem afigurado, com dois corações, quatro braços e quatro pernas; e um só corpo da cinta para baixo, mas este tão inseparável e comum a ambas as crianças que é
impossível por nenhuma arte poder separar-se um do outro, a via da urina é uma só e a outra via também uma. Às ditas crianças baptizei «sub conditione» por me parecer que o homem, que as baptizou nessa necessidade do parto, se perturbou vendo tal prodígio.
Foram-lhes postos os santos óleos a 21 do dito mês e, por ser caso não
visto nestas partes, se fizeram vários retratos que se mandaram não só a
cidades de Portugal mas ainda de Castela.
E, por verdade, fiz este termo que assinei./ O vig.° Frei António Gomes Assores.
Assento 17 (lbid.,fl.35v)
- A trinta e um de Julho de 1716, faleceram as duas crianças gémeas e prodigiosas. Foram sepultadas dentro da parede da envida de S. Brás (matriz que ora é desta vila), entre o altar do Nome de Deus e a porta travessa, por ordem do senhor bispo D. João de Mendonça.
Sobreviveu uma à outra 8 ou 9 horas e o mesmo senhor bispo mandou nelas fazer anatomia, de que fiz este termo que assinei / O
vig° Frei António Gomes Assores.
Comentário
Os Assentos 16 e 17, acima trasladados, dão-nos o relato bastante pormenorizado e sugestivo de um nascimento teratológico gemelar, ocorrido em Castelo Branco a 14.7.1716. A notícia deste acontecimento provocou a maior sensação quer na vila como em todos os locais de Portugal e Castela para onde se enviaram retratos do caso.
As duas crianças do sexo feminino achavam-se unidas pelo abdómen, mas não podiam ser separadas por intervenção cirúrgica pois possuíam algumas funções vitais comuns... Vieram a falecer no dia 31 do
mesmo mês, sobrevivendo uma delas à outra cerca de sete horas.
O bispo da Guarda, D. João de Mendonça, então residente no Paço de Castelo Branco, tomou logo algumas medidas indispensáveis...
Assim, além de assegurar às crianças todos os cuidados dependentes do seu ministério, mandou-as observar por médicos e cirurgiões, que nelas acabariam por praticar também anatomia. Por sua ordem, foram sepultadas na ermida de S. Brás, em um nicho aberto no paramento interior da parede, sito do lado da Epístola, entre o arco da capela absidal e a porta lateral virada ao Poente.
E, sobre ele, mandou colocar uma lápide de granito moldurada de 0,365x1,090m, com inscrição latina e escultura alusivas ao acontecimento.
(Continua)
O ALBICASTRENSE

terça-feira, agosto 23, 2022

AVENIDA NUNO ÁLVARES

RECUPERAR DUAS BELAS VIVENDAS 
NA 
AVENIDA NUNO ÁLVARES 

Nos últimos anos os responsáveis por várias vereações da autarquia albicastrense, recuperaram algumas das vivendas existentes na avenida Nuno Álvares.Todavia, ainda existem duas por recuperar.


As imagens aqui publicadas mostram-nos as duas belas vivendas que aguardam por melhores dias. 
Este albicastrense apela a quem agora ocupa o poder na terra albicastrense, que o caminho só pode ser um: "recuperar as duas  vivendas, é  um dever maior para quem sucedeu aos que recuperaram as outras". 

Deixar para quem os venha a suceder a recuperação das vivendas, será uma vergonha para eles e uma tristeza para a nossa mais BELA AVENIDA.
O ALBICASTRENSE

sexta-feira, agosto 19, 2022

MEMÓRIAS DA TERRA ALBICASTRENSE

RECUPERAR E ALINDAR UMA VELHA IMAGEM, DA TERRA ALBICASTRENSE.



 





A imagem aqui publicada foi captada em 1941, altura em que decorria a 2ª guerra mundial.
A imagem faz parte de um grupo de vinte imagens que me foram oferecidas por uma amiga. 
A imagem documenta uma missa Campal na Devesa. 



Na imagem, podemos ver um altar nas escadinhas que davam da Devesa para o passeio verde, assim como tropas em parada frente ao antigo Quartel da Devesa. 

Enfim... uma verdadeira preciosidade que alguém captou para nos deixar.

O ALBICASTRENSE

quinta-feira, agosto 18, 2022

O AMOR E A MORTE... NOS ANTIGOS REGISTOS PAROQUIAIS ALBICASTRENSES – (9)

Por Manuel da Silva Castelo Branco

(Continuação)
Nesta ordem se dirigiu este fúnebre cortejo.Sé desta cidade, aonde a Câmara havia mandado construir uma soberba essa coberta de baeta preta eguarnecida de galões e emblemas da Morte, tendo em cima do túmulo uma Coroa Real. Ali assistiu todo este luzido acompanhamento e imenso povo a um pomposo ofício e missa de defuntos, celebrado pelo Ilmo. e Rmo. Vigário Capitular e Governador deste Bispado, Dr. Manuel dos Reis Soares, assistido por todo o clero secular e regular de 2 léguas de circunferência, que para este efeito tinha convidado, sendo grande o concurso de pessoas de um e outro sexo.
No fim da missa, Rdo. P. Frei Joaquim de S. Martinho, definidor da Província da Soledade, pregou um eloquente sermão, seguindo-se as Absolvições na forma do ritual, a que assistiram todos os eclesiásticos com velas acesas (que a Câmara lhes mandou distribuir). Durante a cerimónia, o Regimento de Cavalaria 11, que se achava postado no grande Largo da Catedral, deu as suas descargas.
Findas estas piedosas cerimónias, o cortejo recolheu na mesma ordem à casa do dito juiz de fora, manifestando todos no seu semblante o grande sentimento de que estavam penetrados pela lamentável perda da nossa amabilíssima soberana»(21) José Manuel Vaz Touro, o autor deste relato, nasceu em Castelo Branco a 5.5.1770, sendo filho de João Mendes do Amaral e de sua mulher D. Francisca Bernarda Fragoso. Por diploma régio de 29.4.1803(22), foi encartado no oficio de escrivão da Câmara daquela cidade, que exerceu até à data do seu falecimento.
Casou com D. Maria Joaquina Alves Fradique que, sendo viúva, alcançou de D. João VI a propriedade do dito oficio para a pessoa que casasse com sua filha primogénita (Lisboa, 23.9.1823) ...(23) VII - Retrato de uma Jovem Matrona Albicastrense dos Começos de Setecentos Assento 15 (S2 - 3B, fl. 34) - Francisca, filha de Afonso da Gama Palha natural da cidade de Elvas e de sua mulher D. Ana Maria da Silva Sotomayor desta
freguesia e primeiro matrimónio, nasceu aos 22 de Outubro de 1695 e foi baptizada aos 6 dias do mês de Novembro da dita era pelo P. Manuel de Valadares Sotomayor prior do Teixoso e tio da dita baptizada, de minha licença. Foram padrinhos o desembargador Luís de Valadares Sotomayor e D. Francisca Sotomayor, respectivamente, avô e tia da dita baptizada. E, para constar, fiz este assento dia, mês e era «ut supra» / O Vig°. Frei João Marques.
Comentário.
Assim se acha registado o nascimento de D. Francisca Xavier Filipa da Gama Sotomayor, filha única e herdeira da casa de seus pais, pertencentes afamílias nobres do reino. Contando quási 14 anos de idade, casou em Elvas a 31.7.1709 com D. João de Aguilar Mexia de Avilez e
Silveira, natural de Arronches, fidalgo da Casa Real, cavaleiro da Ordem de Cristo e familiar do Santo Oficio, filho de D. Afonso de Aguilar Monroy e D. Filipa Mariade Sequeira.
Casamento tratado pelos pais dos noivos e que iria florescer como se de amores tivesse nascido. Viveram em Elvas com grande Casa e numerosa
descendência, mas D. Francisca seria vítima de trágico acidente, quando
consumavam sobre a data desta feliz união 14 anos, 2 meses e 9 dias, «sem que em todo este tempo houvesse entre ela e seu marido o mínimo
desgosto, discórdia ou hora de arrependimento mas antes se trataram sempre em admirável paz com a mesma ternura e fineza que se pratica entre os noivos»... Autor da época deixou-nos um relato pormenorizado e interessante acerca desta família, onde destaca por forma singular a figura da jovem senhora, que retrata do seguinte modo:
 - «De corpo gentil, branca e corada como uma rosa, cabelo bem povoado e mais louro que castanho, olhos pequenos mas vivos e em todas as mais feições, com proporção engraçada, se compunha de uma particular beleza. Participava mais luz o seu entendimento do que costuma caber na esfera do discurso de mulher; modo grave e senhoril, sem deixar de ser afável; airosa e bem prendada no tratamento de sua pessoa; benigna e prudente de condição; vigilante com a sua família e cuidadosa no governo dela”.
 No público sabia ser senhora e, no particular da sua casa, especulativa e laboriosa, unindo felizmente os dois extremos de ter governo e ser liberal. Era agradecida e primorosa e, sobretudo, fidelíssima à veneração de seus pais e ao amor e estimação de seu marido. Sem exemplo na doutrina e educação de seus filhos pois amando-os com o maior carinho, como se fora só um o objecto do seu amor estando igualmente repartido por dez, os ensinava em religiosos costumes, com a mais severa disciplina; instruía-os na reverência e temor de Deus, na boa e importante união entre si e na estimação de suas pessoas, sem desprezo dos próximos ou menos agrado com todos; que fossem brandos e bem aceites aos seus familiares e que tivessem horror aos vícios.
(Continua)
O ALBICASTRENSE

terça-feira, agosto 16, 2022

CAFÉ MÍTICO DA TERRA ALBICASTRENSE

CAFÉ BEIRÃO 

O Café Beirão é sem dúvida o mais antigo café da terra albicastrense. Ontem ao passar frente a ele, perguntei a mim próprio se o velho café merecia estar instalado no prédio em ruínas em que se encontra.

Aberto nos anos quarenta no local onde anteriormente existia uma oficina de mármores por Chico Carriço, com o nome por qual ainda hoje é conhecido “Café Beirão.

Durante aproximadamente 17 anos, Chico Carriço manteve-se à frente do café, porém, em 1966 trespassou-o ao “Tonho do Beirão”, que ali se manteve até à sua morte em 2021. O café é atualmente gerido pelo Zé, filho do anterior dono. 

É um café sem grandes floreados, mas com raízes bem profundas no coração dos albicastrenses, se perguntarmos a alguém onde fica, todos dirão: Largo da Sé. 

A sua explanada é sem qualquer dúvida lugar de culto nos Verões da nossa cidade, os caracóis ali servidos, tiram do céu o mais fiel devoto de qualquer santo, isto sem esquecer a bela imperial.

Termino esta publicação, voltando a afirmar o que disse inicialmente: 
é uma verdadeira vergonha ver o mítico Café Beirão, instalado num prédio que envergonha o largo, assim como a história do Café Beirão”.

                                                  O ALBICASTRENSE

sábado, agosto 13, 2022

O AMOR E A MORTE... NOS ANTIGOS REGISTOS PAROQUIAIS ALBICASTRENSES – (8)

Por Manuel da Silva Castelo Branco
(Continuação)
Praticou em Castelo Branco por falecimento da rainha D. Maria I, verificado a 20.3.1816 no Palácio da Boavista do Rio de Janeiro. «No dia 18 de Julho de 1816, data em que recebeu a participação com a infausta notícia da morte da Rainha Nossa Senhora D. Maria I de saudosa memória, logo o Senado da Câmara de Castelo Branco determinou por Acordão do mesmo dia o seguinte:- Se publicasse imediatamente nesta cidade e lugares do termo que todos os seus moradores tomassem luto por tempo de um ano, sendo rigoroso durante os primeiros seis meses e depois aliviado, em conformidade com as ordens de Sua Magestade, El-Rei Nosso Senhor; Fossem avisadas todas as pessoas da Governança, Nobreza e Justiças desta cidade e juízes e procuradores dos lugares do seu termo, para nos dias 25 e 26 daquele mês aparecerem vestidas de luto, usando capas compridas e chapéus desabados com fumo caído, a fim de assistirem às cerimónias civil e religiosa, que se haviam de praticar por tão doloroso acontecimento.
 Na forma sobredita e pelas seis horas da tarde do dia 25 de Julho, juntaram-se todos diante da casa de residência do Dr. José Mourão, juiz de fora desta cidade, por não estarem capazes os Paços do Concelho e partiram dali em procissão. Primeiramente, saiu o 2° vereador João da Fonseca Coutinho e Castro de Refóios, montado num cavalo coberto de baeta preta e levando ao ombro o estandarte da Câmara, de luto e a arrastar pelo chão; a seus lados e a pé, iam o alcaide da Câmara e o meirinho do Geral, também de luto e com capas compridas; e logo atrás o porteiro, igualmente vestido e levando nas mãos a vara branca do juiz de fora e as pretas dos dois vereadores.
Ao cavaleiro seguiam-se duas bem ordenadas alas, formadas pelos juízes e procuradores do termo, oficiais da justiça (dos Juizos do Geral, Provedoria e Correição), mesteres, alferes e capitães de ordenanças da cidade e termo (convocados pelo seu capitão-mor, Joaquim José Goulão), oficiais dos Regimentos de Milícias desta cidade e de Idanha-a-Nova que então estavam ali estacionados, o comandante Coronel António de Azevedo Coutinho e oficialidade do Regimento da Cavalaria n° 11, almotacés, pessoas da governança e nobreza (entre as quais o Barão de Castelo Novo), o provedor e corregedor da comarca... Fechando a procissão, o dito juiz de fora e os vereadores Francisco António Peres do Loureiro e Fernando da Costa Cardoso Pacheco e Ornelas (levando cada um na mão o seu escudo preto com as armas reais) e eu, escrivão da Câmara, com vara preta derribada.
Finalmente, atrás da Câmara, grande multidão de povo desta cidade e terras vizinhas, que aqui concorreu. Nesta ordem se dirigiu este fúnebre cortejo praticou em Castelo Branco por falecimento da rainha D. Maria I, verificado a 20.3.1816 no Palácio da Boavista do Rio de Janeiro. «No dia 18 de Julho de 1816, data em que recebeu a participação com a infausta notícia da morte da Rainha Nossa Senhora D. Maria I de saudosa memória, logo o Senado da Câmara de Castelo Branco determinou por Acordão do mesmo dia o seguinte: - Se publicasse imediatamente nesta cidade e lugares do termo que todos os seus moradores tomassem luto por tempo de um ano, sendo rigoroso durante os primeiros seis meses e depois aliviado, em conformidade com as ordens de Sua Magestade,
El-Rei Nosso Senhor; - Fossem avisadas todas as pessoas da Governança, Nobreza e Justiças desta cidade e juízes e procuradores dos lugares do seu termo, para nos dias 25 e 26 daquele mês aparecerem vestidas de
luto, usando capas compridas e chapéus desabados com fumo caído, a fim de assistirem às cerimónias civil e religiosa, que se haviam de praticar por tão doloroso acontecimento. Na forma sobredita e pelas seis horas da tarde do dia 25 de Julho, juntaram-se todos diante da casa de residência do Dr. José Mourão, juiz de fora desta cidade, por não estarem capazes os Paços do Concelho e partiram dali em procissão.
 Primeiramente, saiu o 2° vereador João da Fonseca Coutinho e Castro de Refóios, montado num cavalo coberto de baeta preta e levando ao ombro o estandarte da Câmara, de luto e a arrastar pelo chão; a seus lados e a pé, iam o alcaide da Câmara e o meirinho do Geral, também de luto e com capas compridas; e logo atrás o porteiro, igualmente vestido  e levando nas mãos a vara branca do juiz de fora e as pretas dos dois vereadores. Ao cavaleiro seguiam-se duas bem ordenadas alas, formadas pelos juízes e procuradores do termo, oficiais da justiça (dos Juizos do Geral, Provedoria e Correição), mesteres, alferes e capitães de ordenanças da cidade e termo (convocados pelo seu capitão-mor, Joaquim José Goulão), oficiais dos Regimentos de
Milícias desta cidade e de Idanha-a-Nova que então estavam ali estacionados, o comandante Coronel António de Azevedo Coutinho e oficialidade do
Regimento da Cavalaria n° 11, almotacés, pessoas da governança e nobreza (entre as quais o Barão de Castelo Novo), o provedor e corregedor da comarca...
Fechando a procissão, o dito juiz de fora e os vereadores Francisco António Peres do Loureiro e Fernando da Costa Cardoso Pacheco e Ornelas (levando cada um na mão o seu escudo preto com as armas reais) e eu, escrivão da Câmara, com vara preta derribada. Finalmente, atrás da Câmara, grande multidão de
povo desta cidade e terras vizinhas, que aqui concorreu.
(Continua)
O ALBICASTRENSE

segunda-feira, agosto 08, 2022

O PASSADO E O PRESENTE - (XXVI)

      CASTELO BRANCO ATRAVÉS DOS TEMPOS

Vigésima sexta  publicação da rubrica:Imagens do passado e do presente da terra albicastrense"


Esta publicação é uma pequena homenagem dedicado à  minha boa amiga Manuela Covas, pelo trabalho de investigação que está a desenvolver sobre a sua família e sobre Castelo Branco. 

Espero que ela não leve a mal o facto de eu colocar aqui as suas imagens, assim, como parte do texto que me enviou.


A imagem antiga desta
publicação, em princípio, deve ser por volta dos anos 1950 e troca-o-passo... 
Os candeeiros de iluminação pública, bem giros, por sinal, que lá se encontram hoje, ainda não estão presentes na foto mais antiga. Mas o cortejo o que é que poderá ser? 

O ALBICASTRENSE

sexta-feira, agosto 05, 2022

A MORTE NOS (...) REGISTOS PAROQUIAIS ALBICASTRENSES – (VI)


Por; Manuel da Silva Castelo Branco

(Continuação)
Era uma hora da madrugada ... Apanhados de surpresa e antes de poderem ripostar, D. Pedro e Manuel de Matos foram atingidos cada um por 5 balas e Bernardo da Silva ficou com os três dedos principais da mão esquerda esfacelados. Alertados pelo ruído do tiroteio e gritaria, acorreram criados e alguns soldados da guarnição, que transportaram os feridos para o Paço da Alcáçova.
Ali faleciam, no mesmo dia e depois de confessados e receberem a extrema unção, tanto D. Pedro como o seu criado. 

Quanto a Bernardo da Silva sobreviveu aos ferimentos, permanecendo no castelo durante algum tempo sob os cuidados do médico e cirurgião Dr. Francisco de Luna (irmão do célebre Dr. Filipe Montalto). Este dramático acontecimento provocou um verdadeiro estado de tensão na vila, pois o alcaide- -mor D. António de Meneses tomou imediatamente as medidas indispensáveis para a captura e castigo dos implicados na morte de seu filho: fecharam-se as portas da fortaleza e cerca amuralhada; piquetes armados esquadrinhavam a terra e arredores, em busca dos assassinos; meteram-se na prisão algumas pessoas supostas cúmplices no atentado, entre elas os pais de Manuel da Fonseca Leitão e Simão da Silva de Almeida (o pai e a irmã deste ficaram detidos em casa). 
Durante três dias, os sinos das igrejas anunciam as cerimónias com o enterro das vítimas e a celebração de missas por suas almas. De Lisboa veio logo uma numerosa alçada presidida pelo desembargador João Pinheiro, que convoca e ouve testemunhas, entre as quais o Dr. Francisco de Luna; liberta os julgados inocentes, como o Dr. João de Almeida e seus filhos; e acaba por confirmar as suspeitas quanto ao envolvimento no caso da nobre família dos Fonseca Leitão. A alçada permanece bastante tempo na vila, recebendo ordenados elevados todos os seus membros. Assim: o juiz-presidente, Dr. João Pinheiro, vencia 4 cruzados por dia; o meirinho Francisco do Vale e o escrivão Sebastião do Vale, 500 réis cada um, além de mais 12 homens a 100 réis e tudo ã custa da fazenda dos delinquentes. 
Enfim, a sentença é pronunciada em Castelo Branco, a 14.12.1624, sendo condenados todos os culpados não só em pesadas penas pecuniárias destinadas às famílias das vítimas e despesas com o processo, mas também aos mais severos castigos, que são logo executados na praça da vila e por forma simbólica, pois não se haviam capturado os criminosos.
Assim: Manuel da Fonseca Leitão foi degolado em estátua ao pé do pelourinho e obrigado ao pagamento de 2000 cruzados a D. António de Meneses, 300000 réis aos irmãos de Manuel de Matos e 200000 réis para Bernardo da Silva; Francisco da Costa de Mendonça (seu tio, irmão da mãe) enforcado também em estátua e a igual indemnização; João Tavares, o «Castelhano» e Francisco Mayor, o «corta-focinhos», enforcados depois de decepadas as mãos no pelourinho; Francisco da Proença degradado até ao fim da vida para Angola, com baraço e pregão pelas ruas públicas; Manuel Vaz Alfaia e António Sanches em 5 anos de degredo para o Brasil. 
Quanto aos pais e irmãos de Manuel da Fonseca Leitão, que haviam ficado presos, foram condenados em 8 anos de degredo para o Brasil; a nunca mais viverem em Castelo Branco ou 10 léguas ao redor; e no pagamento de 4000, 200 e 100 cruzados, respectivamente, para os mesmos acima nomeados. Como os restantes réus andavam fugidos, Antão da Fonseca teve de suportar todas as penas pecuniárias, avaliadas em cerca de 25000 cruzados. No cumprimento da sentença partiu para o Brasil, onde morreram sua mulher e dois filhos, ambos solteiros e sem geração: a infeliz D. Maria de Mendonça e João da Fonseca, a quem mataram em Pernambuco. De regresso a Portugal, viveu os últimos anos em Oledo, aqui falecendo a 15.3.1651.

(Continua)
                                                                 O ALBICASTRENSE

quarta-feira, agosto 03, 2022

O PASSADO E O PRESENTE - (XXV)

CASTELO BRANCO ATRAVÉS DOS TEMPOS

Vigésima quinta  publicação da rubrica:Imagens do passado e do presente da terra albicastrense"


A imagem antiga desta publicação é uma verdadeira pérola, imagem que faz parte de um grupo de vinte imagens que me foram oferecidas por uma albicastrense. As imagens foram captadas entre 1940 e 1952, e terão sido captadas por um seu familiar.


Para a Manuela, pessoa que me ofereceu as imagens, o meu bem-haja do fundo do coração. Periodicamente irei postando aqui as imagens, uma vez, que as imagens só serão verdadeiras pérolas, se poderem ser vistas por todos nós.

O ALBICASTRENSE

segunda-feira, agosto 01, 2022

A MORTE NOS (...) REGISTOS PAROQUIAIS ALBICASTRENSES – (V)

Por; Manuel da Silva Castelo Branco

(Continuação)
De tudo isto resultaram discórdias e ódios mortais, pelo que o desembargador Francisco Borges de Faria veio a Castelo Branco tirar devassa, em 1622, com o fim de pôr cobro a tão melindrosa e degradante situação; e, no ano seguinte, D. Pedro e D. Fernando de Meneses (seu irmão mais velho) recebem ordem para regressar à côrte. E, então, sucede o inacreditável !...
A vila divide-se em dois partidos: de um lado, os que consideram benéfica e indispensável a saída dos dois fidalgos, pois sentiam-se vexados com as suas liberdades e prepotências; do outro, os que lhe são favoráveis. 
Estes últimos acabam por dominar a situação, levando a própria Câmara a fazer uma representação a Filipe III, datada de 7.5.1623, manifestando-se contrária à retirada de D. Fernando e D. Pedro de Meneses «fidalgos tão ilustres e de tanta consideração e importância, pois eram amparo e refúgio de todas as necessidades da gente pobre e miserável com as suas pessoas e rendas, despendendo-as com tanta caridade e liberalidade e fazendo amizade e concórdia em proveito comum do povo» e, igualmente, opondo-se à devassa dos dois irmãos por tal medida resultar da inimizade que lhes tinham o juiz de fora da vila e dois homens dela (Diogo Pais Freire e Simão da Silva de Almeida) e mais gente «apaixonada por questões e delitos que se poderiam castigar e remediar por outras vias»... (17)
Efectivamente, o juiz de fora não subscreve este documento, nem as pessoas indicadas e outras mais, mas o certo é que os dois fidalgos permanecem na vila. Entretanto, D. Pedro mete-se em nova aventura, pois enamora-se de D. Maria de Mendonça filha de Antão da Fonseca Leitão, fidalgo da Casa Real e senhor do grande morgado de Oledo, o qual assistia havia alguns anos com a sua família na velha urbe albicastrense. 
Segundo vários autores, D. Pedro teria desonrado a jovem com promessas de casamento; outros referem que, andando a requestá-la, seus parentes o advertiram para «cessar nos amores e se queria casar com ela a pedisse ao pai»... (18)
Em qualquer caso, a atitude de D. Pedro foi de afrontamento e esquiva pelo que, ferida na honra, a orgulhosa família dos Fonseca Leitão decidiu vingar-se e terminar de vez com a causa da sua vergonha. 
Assim, na noite de 30.4.1624, um grupo de vários homens chefiados por Manuel da Fonseca Leitão (irmão de D. Ana) emboscou-se junto aos muros do castelo, defronte da porta da Traição e, quando D. Pedro de Meneses cavalgava pelo caminho da Costeira, de regresso à Alcáçova, acompanhado por Bernardo da Silva Castelo Branco e Manuel de Matos (seu criado), atiraram sobre eles ... para matar!...
(Continua)
O ALBICASTRENSE

ANTIGAS FONTES E POÇOS DA TERRA ALBICASTRENSE - (iI)

 A NOSSA HISTÓRIA (Continuação) As fontes públicas mais antigas de que há notícia são as da Feiteira, do Penedo, do Torneiro, o Chafariz da ...