Já
todos nós ouvimos a expressão “Santos da
casa não fazem milagres”, expressão que normalmente
nos sai da boca perante situações incompreensíveis ou injustas.
Ao
visitar o Centro de Interpretação do Jardim do Paço, foi
exactamente esta expressão que me saiu da boca a mil à hora. O
motivo da minha reação prende-se com o facto de ao visitar o
referido centro, ter verificado que existe no seu interior um painel
onde está afixado um belíssimo poema de Sofia Mello Breyner
Andresen, poema que tem por título: “Jardim
Perdido”.
JARDIM
PERDIDO
Jardim
em flor, jardim de impossessão,
Transbordante de imagens mas
informe,
Em ti se dissolveu o mundo enorme,
Carregado de amor e
solidão.
A
verdura das árvores ardia,
O vermelho das rosas
transbordava
Alucinado cada ser subia
Num tumulto em que tudo
germinava.
A
luz trazia em si a agitação
De paraísos, deuses e de
infernos,
E os instantes em ti eram eternos
De possibilidades e
suspensão.
Mas
cada gesto em ti se quebrou, denso
Dum gesto mais profundo em si
contido,
Pois trazias em ti sempre suspenso
Outro jardim
possível e perdido.
SOPHIA
DE MELLO BREYNER ANDRESEN
In Poesia, 1944
Gostaria
de pôr a quem decidiu postar o poema de Sofia Mello Breyner
Andresen no centro de interpretação, a seguinte questão.
Tendo
a terra albicastrense entre os seus filhos, poetas com obra poética
publicada sobre o Jardim do Paço, havendo inclusivo entre eles
poetas de grande prestigio, porque razão não foi escolhido um poema
dum desses poetas, para ser afixado no Centro de Interpretação do
Jardim do Paço?
O
poema de Sofia é sem qualquer dúvida um lindíssimo poema, contudo,
confesso que em vez do poema da grande poetisa, gostaria de ver ali
exposto o poema de um albicastrense, poema onde ele expressasse o
sentir, o sonho e a magia que os albicastrense sentem pela maior jóia
da sua terra.
Concluía este meu desabafo, afirmando o seguinte:
Se
não formos nós a acarinhar os nossos artistas, quem o fará?
O
vizinho do lado!....
ESPERANÇA
Tu
és de sempre como o tempo,
tu
és de longe como o espaço!
Súplica
de cada momento,
falas
– se o ânimo, quebrado,
nos
enregela o pensamento!
Reapareces
na tristeza
de
uns olhos baços, perseguidos,
e
és bem mais alta que a beleza!
Âncora,
os teus ganchos são vivos
gumes
de sol e de certeza!
Deixa-me,
ó luz, acreditar
que
um dia não serás precisa!
Que
foste apenas a passagem
para
a real de definida
forma
de que és agora imagem!
"Jardim
do Paço" – (1967)
PS.
Este poema faz parte dum pequeno livro de tem por título “Jardim
do Paço”,
publicado em 1967. Quem é o seu autor? Vamos lá responder a esta
pergunta.
O
Albicastrense