A rubrica Efemérides Municipais foi publicada entre Janeiro de 1936 e Março de 1937, no jornal “A Era Nova”. Transitou para o Jornal “A Beira Baixa” em Abril de 1937, e ali foi publicada até Dezembro de 1940. A mudança de um para outro jornal deu-se derivada à extinção do primeiro. António Ribeiro Cardoso, “ARC” foi o autor desde belíssimo trabalho de investigação, que lhe deve ter tirado o sono, muitas e muitas vezes.
O texto está escrito, tal como publicado em 1937.
Os comentários do autor estão aqui na sua totalidade.
(Continuação)
Nota do autor: Em sessão de 22 de Junho foram nomeados louvados para avaliação das “ervagens”. Para se fazer uma ideia do que isso era, ai vai uma nota dos valores que lhes foram atribuídos:
Acta de 1786: “ Ervagem da Graça das Azenhas, 55.0000 réis; das Lombas, 60.000 réis, do Cabeço de Figueiredo, 45.000 réis; da Fonte do Taleigo, 35.000 réis; do Vale de Mouro, 35.000 réis; do Rouxinol, 48.000 réis; da Manga de Pero Velho, 60.000, réis; da Volta da Liria, 30.000 réis, do Barregão, 40.000 réis; do Ribeiro de Ega, 70.000 réis; do Couto da Liria, 55.000 réis; dos Alvarinhos, 80.000 réis.
Avaliaram-se também os restolhos pela forma seguinte: Rebouça, 50.000 réis; Canto, 45.000 réis; Carvalhal, 45.000 réis; Cagavaio, 36.000 réis; Meia sorte, 25.000 réis; Semedeiro, 50.000 réis; Vale de Lobato, 45.000 réis; Lomba do Velho, 50.000 réis; Pedra da Abelha, 45.000 réis Capa Rota, 60.000 réis ”.
Nota do autor: Leve-se em conta a diferença do valor da moeda e ver-se-há que isto, que à primeira vista parece insignificante, tinha certa importância.
Nesta mesma sessão, tendo chegado ao conhecimento da Câmara que tinha aparecido quem se lembrasse de espalhar falsidades e infâmias contra o corregedor Gaspar de Sousa Barreto Ramires, que tanto se tinha interessado pelo bem-estar da população do concelho quando o pão faltou e os mercantes lhe fizeram subir o preço quase para o dobro, falsidades e infâmias que facilmente se sabe a causa que tinham, desde que se saiba que foram postas a correr pela matilha que ele, com a sua iniciativa da importação de pão para ser vendido ao publico pelo preço por que aqui ficasse, tinha lembrado a tempo, os vereadores José Carlos de Souza Coutinho e Castro e António Iguacio Cardoso Frazão apresentaram uma longa exposição dos relevantíssimos serviços que a cidade e o concelho deviam ao caluniado corregedor, que “com os seus Provimentos fez a felicidade dos moradores desta cidade”, e propunham que se lhe desse testemunho solene do reconhecimento da “Câmara, de toda a Nobreza e da parte san do resto do Povo” e que se lhe pedisse que continuasse a prestar os seus serviços ao concelho e, “a empregar o seu zello e a sua eficassia na execução das obras que elle havia progetado e que sam da maior urgência e precisão”.
A vereação, por unanimidade, fez sua a exposição e insistiu no pedido, o corregedor continuou a bem servir a comarca e os caluniadores encolheram-se. Houve sempre mariolas que apreciam a honra alheia pela deles, mas houve também quem soubesse fazer justiça. É o que vai valendo aos homens de bem.
Na sessão de 13 de Agosto de 1786 alguns moradores do lugar da Lousa reclamaram contra o facto de as ervagens daquele freguesia terem sido arrematadas por pessoas de fora, alegando que, além de outros prejuízos, havia o de não serem as terras destinadas á lavoura estrumadas pelos gados do povo. Foram ouvidos diversos moradores do mesmo lugar e todas, "una você"; “responderão que hera justo o requerimento dos subscritores no que convinhão se lhes facultasse a graça que pedião”.
A Câmara ouviu, mas não esteve lá com contemplações. Entendia que a ervagem devia ser para quem mais desse; “Quanto às terras que nescessitão ser extrumadas para lavouras tanto importava serem extrumadas com o gado do Povo como com o de fora delle”.
E, porque assim era, tivessem paciência. E naturalmente tiveram a paciência necessária para suportar a contrariedade, porque não se torna a falar em tais ervagens.
Durante o mês de Setembro de 1786 a Câmara não reúne vez nenhuma. Pelo menos não há acta nenhuma desse mês. Naturalmente os vereadores trataram das vindimas e deixaram as coisas municipais confiadas ao escrivão, que era um artista a rabiscar as actas. Ainda escrevia mais mal do que nós o sujeito, que acudia pelo nome de José Correia da Silva Aranha. Em Outubro houve duas sessões, uma no dia 1, outra no dia 15.
Na primeira apenas se resolveu que; ”se baldiassem os alqueves se hoje em diante não cruzando os Gados perda algua nos feijões que ainda ouver por apanhar que deverão guardar e cauzando a pagarão e seus donos”.
A do dia 15 foi de respeito, como se ve da respectiva acta, que reza assim;“Deferirão alguas petiçoens e por não haver mais que despachar ouverão este auto por findo que asignarão”.
E mais não diz o aranhão do escrivão, certamente porque mais não houve. Não estavam para se ralar os senhores vereadores.
Ps – Mais uma vez informe os leitores dos postes, “Efemérides Municipais” que o que acabou de ler é uma transcrição fiel do que saiu em 1937.
O Albicastrense