sexta-feira, novembro 07, 2025

IGREJA DA MISERICÓRDIA VELHA – (4/5)

 (Continuação)
IV -  Todas estas diligências que fiz e respeito que me deu o Reverendo Prior de S. Tomé desta cidade, juro passarem na verdade pelo juramento dos Santos Evangelhos e pelo Hábito de Christus que professo”.
Lisboa, 9 de Janeiro de 1662. Miguel Achioly da Fonseca Castelo Branco.
Em 1620, sendo Provedor da Misericórdia o Bispo da Guarda D. Nuno de Noronha, foi lavrado um auto do qual consta que a Mesa fez vistoriar o edifício da rua de Ega, onde estava instalado o Hospital dos Convalescentes, por dois médicos que a declararam imprópria para nela poderem convalescer e alcançar saúde os enfermos e que muito melhor se fariam e mais acomodados ficariam se se fizessem em bom sitio”. O auto de vistoria foi enviado ao Rei D. Filipe I com uma pedição da Mesa para que lhe fosse concedido o rendimento das condenações e penas impostas pelo juiz de Fora, pelo espaço de cinco anos, para aplicar na edificação de casas próprias para Hospital junta da Igreja de Santa Isabel. O rei, por alvará de 3 de Março de 1620,fez as seguintes concessões:
Que o dito Hospital se possa mudar donde ora está para onde eles, suplicantes, têm assentado. E outros sim hei por bem de lhes fazer mercê por esmola que as pessoas que o Corregedor e Juiz de Fora da dita vila em seus juízes fizeram e condenarem causas as apliquem para as obras do dito Hospital por tempo de cinco anos, as quais penas farão pagar com brevidade, sem duvida nem embargo algum visto a necessidade que disse há.”
Com as receitas obtidas durante os cinco anos não consegui, a Misericórdia acabar as obras projetadas. Em 1735 a Mesa, pediu ao Rei D. João V, que lhe fosse concedido o subsidio do real de água da Câmara, para a conclusão das obras da reedificarão da Igreja e do Hospital anexo. Foi-lhe concedido esse subsidio durante quatro anos. Durante o lapso de tempo em que a Misericórdia recebeu as importâncias provenientes do imposto do real de água não consegui ainda ultimar as obras em curso. 
Em 1740, sendo Provedor Manuel da Fonseca Coutinho, a Mesa fez uma nova pedição ao Rei, dizendo que sem embargo de zelo e cuidado com que se tinha trabalhado na dita obra, ainda esta se não achava acabada e se tinha despendido não só a importância do dito real de água, que era de 1.414$104 réis, mas também a quantia de 1.747$800 réis de rendas da Misericórdia".
Alegando também a Mesa que a Casa não devia gastar nas obras o que era destinado aos doentes, solicitava ao rei a continuação do subsídio do real de água e, por alvará de 13 de Dezembro de 1740, foi-lhe deferido a pretensão. Conseguiu assim, a Misericórdia, a almejada conclusão das obras de reedificação da igreja e de construção do hospital, que haviam arrastado durante mais de um século.
De ambos os lados da igreja foram construídas enfermarias, destinando-se as do lado do Norte aos doentes de sexo masculino e as do lado Sul aos do sexo feminino. Por breves pontifícios de 2 e 3 de Outubro de 1777, de Pio VI, obteve a Misericórdia dois altares privilegiados: o da Visitação e o de S. João de Deus. Em 1798 já o hospital estava muito arruinado, necessitando de substituição dos pavimentos e dos tetos de madeira.
A Mesa reunida em 1 de Janeiro desse ano, deliberou mandar executar as obras necessárias, despendendo nelas a quantia de 300$000 reis que lhe havia sido legado em testamento em 1794, pelo benemérito Padre Manuel Mendes beato. A Santa Casa da Misericórdia esteve instalada nas dependências da Igreja da Rainha da Rainha Santa Isabel até ao ano de 1835. Tendo-se tornado insuficiente as instalações do hospital e aproveitando a circunstancia de haverem sido extintas em 1834 as Ordens religiosas deliberou, a Mesa, em sessão de 5 de Setembro daquele ano, dirigir às cortes uma representação solicitando a troca do edifício da Misericórdia pelo do convento de Santo António dos Capuchos. 
Não conseguiu, porém, o deferimento da pretensão e, em sessão de 6 de Outubro do mesmo ano resolveu pedir as instalações do convento da Graça. Foi concedida, pelo Ministério da Fazenda, em portaria de 9 de Julho de 1835, a permuta dos edifícios e, em portaria de 18 de Setembro do mesmo ano foi autorizada a transferência da Misericórdia para o antigo convento da Graça. Foram mudados os sinos e algumas imagens de santos, entre as quais a da Padroeira da Misericórdia.
(Continua)
   Recolha de dados: Castelo Branco na História e na Arte” de Manuel Tavares dos Santos
O ALBICASTRENSE

CONVENTO DE SANTO ANTÓNIO

Do livro "SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA TOPONIMIA ALBICASTRENSE NO SÉCULO XVI", da autoria de Manual da Silva Castelo Branco, retirei o texto sobre o antigo convento de Santo António, que pode ser lido nesta publicação. 
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Foi fundado em 1562 o mosteiro de Santo António dos Capuchos por D. Fernando de Meneses, comendador e alcaide-mor desta vila. Este introito, fornecido em 1853 por Porfírio da Silva, sem esclarecer o fundamento de seu assento, vai ser repetido pelos seguintes autores, embora por vezes com algumas reservas, em virtude da inscrição latina existente no pórtico da entrada principal: “Este mosteiro, cujos fundamentos foram lançados pelos frades, foi depois continuado por António, o qual (mosteiro) durará para sempre…” 
Daqui, conclui António Roxo (1890) que o fundador de parte e não se doto o convento foi um António e não um Fernando.
O Dr. J. V. Mendes de Matos (1972) indica a mesma data da fundação, reportando-se á “Geografia Histórica” de D. Luís Caetano de Lima; e teria obtido idêntica informação na “Descrição corográfica do reino de Portugal”, por António 
de Oliveira e em outras obras congéneres, bem como, naturalmente, nas Crónicas da Ordem, de entre as quais me refiro apenas à “Crónica da província da Piedade, primeira Capucha de toda a Ordem e Regular Observância do nosso seráfico Pe. S. Francisco, por fr. Manuel de Monforte (1695).
Aqui se refere, entre outras coisas, que “na capela maior da igreja tem o dito fundador sepultura e sua mulher D. Filipa de Mendonça, com letreiro que o declara”. Assim o parece confirmar o seguinte registo paroquial da igreja de Sta. Maria de Castelo Branco: A 28.9.1643, faleceu D. António de Meneses, comendador e alcaide-mor desta vila, fez testamento; é seu testamenteiro D. Jerónimo Coutinho e herdeiro seu filho D. Fernando; jaz no convento de St. António na capela-mor em o carneiro que tem nela.
Talvez este D. António, filho, herdeiro e sucessor de D. Fernando, o indigitado fundador, tenha continuado as obras que seu pai patrocinara e, dai, a razão da Lápida atrás referida… Encontrei muitas outras notícias sobre o convento, quer nos registos paroquiais dos finais quinhentos, como provenientes de documentação diferente. Assim, no processo da Inquisição de Lisboa conta Brites Aires, vemos que, “a 14.4.1579, no mosteiro de Santo António da Ordem da Piedade da vila de Castelo Branco, dos muros para fora, estando ali o Ldº Marcos Teixeira, inquisidor, perante ele apareceram várias testemunhas… (Processo nº 1760)"
O ALBICASTRENSE

segunda-feira, novembro 03, 2025

IGREJA DA MISERICÓRDIA VELHA – (3/5)

Embora já tenha publicado em 2009 a história desta igreja, vou fazê-lo de novo, pois a tristeza em que ela se encontra assim o exige. Como o texto é um pouco longo,  vou fazê-lo em cinco publicações. 
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(Continuação)

III - No dia 18 de Abril de 1631 foi lavrado um auto do qual consta que estando o Provedor Simão da Silva Almeida e mais irmãos da Mesa e a maior parte da Irmandade junta para irem ao Enterro do Nosso Senhor Jesus Cristo, por ser em Sexta-feira da Paixão, como era costume na vila, deliberaram dar inteiro cumprimento ao que Sua Majestade dispôs em sua Provisão de 10 de Agosto de 1630, na forma seguinte.
“Que para o recebimento e aprovação dos irmãos que ande ser admitidos se ponham dois vasos no meio da Igreja e se dê a cada irmão uma fava e um grão. E as favas aprovarão e os grãos reprovarão. E o irmão que for votar lançará no vaso que estiver despachado para a eleição do Irmão o que lhe parecer. E o que lhe ficar na mão lançará no outro vaso, para que desta sorte se não dê satisfação a subornos se os houver e cada um possa votar livremente como lhe parecer em sua consciência.
E depois, o Provedor e Irmãos da Mesa aprovarão o que acharem no vaso reputado para a eleição de tal Irmão e achando mais favas que grãos ficará o Irmão admitido. E achando pelo contrário, mais grãos que favas ficará excluso.
A Confraria da Misericórdia jamais se eximiu ao rigoroso cumprimento dos preceitos, do compromisso, concernentes á realização de varias cerimonias religiosas. Era costume efetuar-se, no dia 2 de Junho, a festa da Visitação de Santa Isabel, Padroeira da Misericórdia; em 12 de Novembro celebrava-se um ofício de nove lições por alma dos Irmãos falecidos e, em quinta-feira de Endoenças, a procissão dos penitentes ou dos fogaréus. O compromisso de 1663 descreveu pormenorizadamente a organização desta procissão. São deste estatuto os seguintes trechos:
A qual operação se fará diante de toda a Irmandade. E nenhum Irmão será admitido senão no dia de Santa Isabel e Sexta-feira de Endoenças. E antes de se assinar o termo da aceitação e juramento, habilitará em Mesa sua pessoa. E que todo o Irmão que faltar à procissão das Endoenças, enterro do Senhor ou de qualquer Irmão que falecer, não tendo licita causa, pague dois arráteis de cera. E não se cobrando o Provedor, ele próprio pagará da sua casa. Depois se fez este termo que todos assinam”.
Da leitura dos documentos transcritos pode inferir-se que nas eleições realizadas em Portugal alguns séculos antes da instituição do parlamentarismo já havia mistificações semelhantes ás que originaram o descredito daquele sistema político.
Irão alguns fogaréus por uma parte e outra de toda o procissão e com eles irá todo o aparelho que for necessário para continuarem com luz todo o tempo. E os Irmãos que vão governando terão cuidado de os ir dispondo em espaço conveniente e de os mandar prover quando lhes for necessário".
“Nenhum Irmão levará consigo pagem ou criado, de maneira que fique dentro na procissão, pela indecência que nisso há e a desordem que pode causar".
“A procissão sairá da Misericórdia direita à Praça, Rua do Relógio, à Igreja de S. Miguel o Anjo, dali à Nossa Senhora da Graça, dai pela Corredoura à Rua dos Ferreiros até à Praça, toda a Rua de Santa Maria, Rua das Cabeças, tomando o Arressário até à Igreja de Santa Maria do Castelo, donde voltará pela Rua de Ega, até se meter na Misericórdia, visitando com oração o Santíssimo Sacramento nestas Igrejas e nas demais que ficarem no caminho por onde passar de maneira que mova a devoção a todos os que acompanharem e se acharem presentes
”.
A procissão efectuava-se com grande luzimento, seguindo o itinerário estabelecido. Durante os sermões da Semana Santa era costume expor na Igreja o Santo Sudário a que se refere o seguinte documento: “Miguel Achioly da Fonseca Castelo Branco, professor da Ordem de Christus, do desembargo de El-Rei Nosso Senhor e Provedor dos Resíduos e Cativos nesta corte de Lisboa e seus termos, etc..."
"Certifico que o Sr. Luís de Sousa Brandão, Provedor da Santa Casa de Misericórdia da Vila de Castelo Branco, por via do Sr. Marcos Gil Frazão e dos irmãos da Mesa, deste presente ano, encomendaram se fizesse para a Santa Casa o Santo Sudário e indo-se desta cidade o Sr. Marcos Gil Frazão, irmão actual dos 12 da Mesa, me deixou encarregado fizesse e continuasse esta obra de piedade: o que fiz e por assistir à devoção da dita Irmandade e a servir, como devo, como irmão infinito dela, pedi ao Dr. João... (ilegível), Prior da Paróquia Igreja de S. Tomé desta cidade de Lisboa me quisesse fazer mercê (por ser muito afecto e devoto das ditas Religiosas) de me tocar e medir este Santo Sudário com o milagroso (ou verdadeiro) que esta no dito mosteiro da Madre de Deus desta cidade, e em que os moradores dela tem a devoção que a todos é notória, e ele, Padre Prior, mandou vir o Santo Sudário ao Convento da Madre de Deus e mo tornou a remeter, dizendo-me que não somente se tocara naquele Santo e verdadeiro do dito Convento mas que por uma noite inteira esteve junto e embrulhado com ele com muitas orações e lagrimas das Santas e Veneráveis Religiosas do dito Convento, que o mesmo aconteceu já com o Santo Sudário que esta na cidade de Turim, corte dos Duques de Saboia e Príncipes de Piemonte com o que nele mandou tocara Cristianíssima Infanta de Portugal, história bem sabida: que sendo o verdadeiro Santo Sudário o que estava na cidade de Turim, saíram ambos em tal forma (por milagre) que hoje não e sabe qual o primeiro e verdadeiro, se o que ficou e Turim se o que esta no mosteiro da Madre de Deus desta cidade de Lisboa". 
(Continua). 

Recolha de dados: Castelo Branco na História e na Arte” de Manuel Tavares dos Santos 
                                                            O ALBICASTRENSE

IGREJA DA MISERICÓRDIA VELHA – (4/5)

  (Continuação) IV -   “ Todas estas diligências que fiz e respeito que me deu o Reverendo Prior de S. Tomé desta cidade, juro passarem na ...