Castelo Branco - O ALBICASTRENSE
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sexta-feira, novembro 07, 2025
CONVENTO DE SANTO ANTÓNIO
Do livro "SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA TOPONIMIA ALBICASTRENSE NO SÉCULO XVI", da autoria de Manual da Silva Castelo Branco, retirei o texto sobre o antigo convento de Santo António, que pode ser lido nesta publicação. -------------------------------------------Foi
fundado em 1562 o mosteiro de Santo António dos Capuchos por D. Fernando de
Meneses, comendador e alcaide-mor desta vila. Este introito, fornecido em 1853
por Porfírio da Silva, sem esclarecer o fundamento de seu assento, vai ser
repetido pelos seguintes autores, embora por vezes com algumas reservas, em
virtude da inscrição latina existente no pórtico da entrada principal: “Este
mosteiro, cujos fundamentos foram lançados pelos frades, foi depois continuado
por António, o qual (mosteiro) durará para sempre…” Daqui, conclui António Roxo
(1890) que o fundador de parte e não se doto o convento foi um António e não um
Fernando.O
Dr. J. V. Mendes de Matos (1972) indica a mesma data da fundação, reportando-se
á “Geografia Histórica” de D. Luís Caetano de Lima; e teria obtido idêntica
informação na “Descrição corográfica do reino de Portugal”, por António de Oliveira e em outras obras congéneres, bem
como, naturalmente, nas Crónicas da Ordem, de entre as quais me refiro apenas à
“Crónica da província da Piedade, primeira Capucha de toda a Ordem e Regular
Observância do nosso seráfico Pe. S. Francisco, por fr. Manuel de Monforte (1695).
Aqui
se refere, entre outras coisas, que “na capela maior da igreja tem o dito
fundador sepultura e sua mulher D. Filipa de Mendonça, com letreiro que o
declara”. Assim o parece confirmar o seguinte registo paroquial da igreja de
Sta. Maria de Castelo Branco: A 28.9.1643, faleceu D. António de Meneses,
comendador e alcaide-mor desta vila, fez testamento; é seu testamenteiro D.
Jerónimo Coutinho e herdeiro seu filho D. Fernando; jaz no convento de St.
António na capela-mor em o carneiro que tem nela.Talvez
este D. António, filho, herdeiro e sucessor de D. Fernando, o indigitado
fundador, tenha continuado as obras que seu pai patrocinara e, dai, a razão da
Lápida atrás referida… Encontrei muitas outras notícias sobre o convento, quer
nos registos paroquiais dos finais quinhentos, como provenientes de
documentação diferente. Assim, no processo da Inquisição de Lisboa conta Brites
Aires, vemos que, “a 14.4.1579, no mosteiro de Santo António da Ordem da
Piedade da vila de Castelo Branco, dos muros para fora, estando ali o Ldº
Marcos Teixeira, inquisidor, perante ele apareceram várias
testemunhas… (Processo nº 1760)"O ALBICASTRENSE
Do livro "SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DA TOPONIMIA ALBICASTRENSE NO SÉCULO XVI", da autoria de Manual da Silva Castelo Branco, retirei o texto sobre o antigo convento de Santo António, que pode ser lido nesta publicação.
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Foi
fundado em 1562 o mosteiro de Santo António dos Capuchos por D. Fernando de
Meneses, comendador e alcaide-mor desta vila. Este introito, fornecido em 1853
por Porfírio da Silva, sem esclarecer o fundamento de seu assento, vai ser
repetido pelos seguintes autores, embora por vezes com algumas reservas, em
virtude da inscrição latina existente no pórtico da entrada principal: “Este
mosteiro, cujos fundamentos foram lançados pelos frades, foi depois continuado
por António, o qual (mosteiro) durará para sempre…”
Daqui, conclui António Roxo
(1890) que o fundador de parte e não se doto o convento foi um António e não um
Fernando.
O
Dr. J. V. Mendes de Matos (1972) indica a mesma data da fundação, reportando-se
á “Geografia Histórica” de D. Luís Caetano de Lima; e teria obtido idêntica
informação na “Descrição corográfica do reino de Portugal”, por António de Oliveira e em outras obras congéneres, bem
como, naturalmente, nas Crónicas da Ordem, de entre as quais me refiro apenas à
“Crónica da província da Piedade, primeira Capucha de toda a Ordem e Regular
Observância do nosso seráfico Pe. S. Francisco, por fr. Manuel de Monforte (1695).
Aqui
se refere, entre outras coisas, que “na capela maior da igreja tem o dito
fundador sepultura e sua mulher D. Filipa de Mendonça, com letreiro que o
declara”. Assim o parece confirmar o seguinte registo paroquial da igreja de
Sta. Maria de Castelo Branco: A 28.9.1643, faleceu D. António de Meneses,
comendador e alcaide-mor desta vila, fez testamento; é seu testamenteiro D.
Jerónimo Coutinho e herdeiro seu filho D. Fernando; jaz no convento de St.
António na capela-mor em o carneiro que tem nela.
Talvez
este D. António, filho, herdeiro e sucessor de D. Fernando, o indigitado
fundador, tenha continuado as obras que seu pai patrocinara e, dai, a razão da
Lápida atrás referida… Encontrei muitas outras notícias sobre o convento, quer
nos registos paroquiais dos finais quinhentos, como provenientes de
documentação diferente. Assim, no processo da Inquisição de Lisboa conta Brites
Aires, vemos que, “a 14.4.1579, no mosteiro de Santo António da Ordem da
Piedade da vila de Castelo Branco, dos muros para fora, estando ali o Ldº
Marcos Teixeira, inquisidor, perante ele apareceram várias
testemunhas… (Processo nº 1760)"
O ALBICASTRENSE
segunda-feira, novembro 03, 2025
IGREJA DA MISERICÓRDIA VELHA – (3/5)
Embora já tenha publicado em 2009 a história desta igreja, vou fazê-lo de novo, pois a tristeza em que ela se encontra assim o exige. Como o texto é um pouco longo, vou fazê-lo em cinco publicações.
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(Continuação)
III - No dia 18 de Abril de 1631 foi lavrado um
auto do qual consta que estando o Provedor Simão da Silva Almeida e mais irmãos
da Mesa e a maior parte da Irmandade junta para irem ao Enterro do Nosso Senhor
Jesus Cristo, por ser em Sexta-feira da Paixão, como era costume na vila,
deliberaram dar inteiro cumprimento ao que Sua Majestade dispôs em sua Provisão
de 10 de Agosto de 1630, na forma seguinte.
“Que para o recebimento e aprovação dos irmãos que ande ser admitidos se
ponham dois vasos no meio da Igreja e se dê a cada irmão uma fava e um grão. E
as favas aprovarão e os grãos reprovarão. E o irmão que for votar lançará no
vaso que estiver despachado para a eleição do Irmão o que lhe parecer. E o que
lhe ficar na mão lançará no outro vaso, para que desta sorte se não dê
satisfação a subornos se os houver e cada um possa votar livremente como lhe
parecer em sua consciência.
E depois, o Provedor e Irmãos da Mesa aprovarão o que acharem no vaso
reputado para a eleição de tal Irmão e achando mais favas que grãos ficará o
Irmão admitido. E achando pelo contrário, mais grãos que favas ficará excluso.
A Confraria da
Misericórdia jamais se eximiu ao rigoroso cumprimento dos preceitos, do
compromisso, concernentes á realização de varias cerimonias religiosas. Era
costume efetuar-se, no dia 2 de Junho, a festa da Visitação de Santa Isabel,
Padroeira da Misericórdia; em 12 de Novembro celebrava-se um ofício de nove
lições por alma dos Irmãos falecidos e, em quinta-feira de Endoenças, a
procissão dos penitentes ou dos fogaréus. O compromisso de 1663 descreveu
pormenorizadamente a organização desta procissão. São deste estatuto os
seguintes trechos:
A qual operação se fará diante de toda a
Irmandade. E nenhum Irmão será admitido senão no dia de Santa Isabel e
Sexta-feira de Endoenças. E antes de se assinar o termo da aceitação e
juramento, habilitará em Mesa sua pessoa. E que todo o Irmão que faltar à
procissão das Endoenças, enterro do Senhor ou de qualquer Irmão que falecer,
não tendo licita causa, pague dois arráteis de cera. E não se cobrando o
Provedor, ele próprio pagará da sua casa. Depois se fez este termo que todos
assinam”.
Da leitura dos documentos transcritos pode inferir-se que nas
eleições realizadas em Portugal alguns séculos antes da instituição do
parlamentarismo já havia mistificações semelhantes ás que originaram o
descredito daquele sistema político.
“Irão
alguns fogaréus por uma parte e outra de toda o procissão e com eles irá todo o
aparelho que for necessário para continuarem com luz todo o tempo. E os Irmãos
que vão governando terão cuidado de os ir dispondo em espaço conveniente e de
os mandar prover quando lhes for necessário".
“Nenhum Irmão levará consigo
pagem ou criado, de maneira que fique dentro na procissão, pela indecência que
nisso há e a desordem que pode causar".
“A procissão sairá da
Misericórdia direita à Praça, Rua do Relógio, à Igreja de S. Miguel o Anjo,
dali à Nossa Senhora da Graça, dai pela Corredoura à Rua dos Ferreiros até à
Praça, toda a Rua de Santa Maria, Rua das Cabeças, tomando o Arressário até à
Igreja de Santa Maria do Castelo, donde voltará pela Rua de Ega, até se meter
na Misericórdia, visitando com oração o Santíssimo Sacramento nestas Igrejas e
nas demais que ficarem no caminho por onde passar de maneira que mova a devoção
a todos os que acompanharem e se acharem presentes”.
A procissão efectuava-se com
grande luzimento, seguindo o itinerário estabelecido. Durante os sermões da
Semana Santa era costume expor na Igreja o Santo Sudário a que se refere o
seguinte documento: “Miguel
Achioly da Fonseca Castelo Branco, professor da Ordem de Christus, do
desembargo de El-Rei Nosso Senhor e Provedor dos Resíduos e Cativos nesta corte
de Lisboa e seus termos, etc..."
"Certifico que o
Sr. Luís de Sousa Brandão, Provedor da Santa Casa de Misericórdia da Vila de
Castelo Branco, por via do Sr. Marcos Gil Frazão e dos irmãos da Mesa, deste
presente ano, encomendaram se fizesse para a Santa Casa o Santo Sudário e
indo-se desta cidade o Sr. Marcos Gil Frazão, irmão actual dos 12 da Mesa, me
deixou encarregado fizesse e continuasse esta obra de piedade: o que fiz e por
assistir à devoção da dita Irmandade e a servir, como devo, como irmão infinito
dela, pedi ao Dr. João... (ilegível), Prior da Paróquia Igreja
de S. Tomé desta cidade de Lisboa me quisesse fazer mercê (por ser muito afecto e devoto
das ditas Religiosas) de me tocar e medir este Santo Sudário com o
milagroso (ou verdadeiro) que esta no dito mosteiro da Madre de Deus desta cidade, e em que os moradores dela
tem a devoção que a todos é notória, e ele, Padre Prior, mandou vir o Santo
Sudário ao Convento da Madre de Deus e mo tornou a remeter, dizendo-me que não
somente se tocara naquele Santo e verdadeiro do dito Convento mas que por uma
noite inteira esteve junto e embrulhado com ele com muitas orações e lagrimas
das Santas e Veneráveis Religiosas do dito Convento, que o mesmo aconteceu já
com o Santo Sudário que esta na cidade de Turim, corte dos Duques de Saboia e
Príncipes de Piemonte com o que nele mandou tocara Cristianíssima Infanta de
Portugal, história bem sabida: que sendo o verdadeiro Santo Sudário o que
estava na cidade de Turim, saíram ambos em tal forma (por milagre) que hoje não e sabe qual o
primeiro e verdadeiro, se o que ficou e Turim se o que esta no mosteiro da
Madre de Deus desta cidade de Lisboa". (Continua).
Recolha de dados: “Castelo Branco na História e na Arte” de Manuel Tavares dos Santos
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terça-feira, outubro 28, 2025
IGREJA DA MISERICÓRDIA VELHA – (2/5)
Embora já tenha publicado em 2009 a história desta igreja, vou fazê-lo de novo, pois a tristeza em que ela se encontra assim o exige. Como o texto é um pouco longo, vou fazê-lo em cinco publicações.
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(Continuação)
II - Secundando
os desvelados esforços do soberano, as autoridades de Castelo Branco
organizaram a confraria da Misericórdia com os bens das outras confrarias, que
se compunham de casas, terras de cultura, vinhas e olivais e cujos rendimentos
anais eram os seguintes: Da confraria de Santo André, 6$185 réis e duas
galinhas; da confraria de Santo Iago, 7$127 réis; da confraria de S. João,
4$821 réis; e da confraria de S. Pedro, 3$620 réis. Totalizaram estes
rendimentos, portanto, a quantia de 21$753 réis, muito diminuta mesmo naquela
época. Durante o século XVI foram um pouco aumentados os rendimentos com os
legados de alguns benfeitores.
Foi, porem, no século XVII que a Misericórdia
consegui uma situação prospera com os rendimentos de avultados bens que lhe
foram legados por algumas dezenas de beneméritos. Entre estes distinguiram-se,
pela elevado valar dos legados, o Dr. Bartolomeu da Costa, tesoureiro mor da Sé
de Lisboa e o Padre Manuel de Vasconcelos, prior da freguesia se S. Pedro de
Torres Vedras.
O Dr. Bartolomeu da Costa, a quem a Igreja deu o nome de
Venerável, nasceu em Castelo Branco em 24 de Agosto de 1553. Pertencia à
família do célebre Cardeal de Alpedrinha, D. Jorge da Costa. Faleceu em Lisboa
27 de Março de 1608, deixando todos os seus haveres à Misericórdia, por
testamento feito naquela cidade em 30 de Abril de 1605, para a instituição de
um Hospital de Convalescentes a instalar na casa da sua residência situada na
Rua de Ega e que ficou conhecida pela designação de Casa do Tesoureiro Santo.
Os seus bens constavam de duas casas, duas vinhas, seis olivais, noventa s duas
terras de cultura e um padrão de juro de rendimentos de 240$000 reis pago pelo
almoxarifado da Comenda de Cristo. O Prior Manuel de
Vasconcelos era também natural de Castelo Branco. Faleceu em Torres Vedras em
13 de Agosto de 1647, legando à Misericórdia da sua terra, por testamento feito
naquela vila em 6 de Agosto do mesmo ano, toda a sua avultada fortuna, então avaliada
em 50 contos. No
testamento impôs este benemérito, à Misericórdia a obrigação de construir e
sustentar, na Praça Velha defronte da cadeia, uma capela para que os detidos
pudessem assistir à missa. Não é conhecido o primitivo estatuto ou compromisso da
Misericórdia. Em 1596 a Irmandade pediu a aprovação de um novo compromisso
elaborado nos moldes do da Misericórdia de Lisboa instituída pela Rainha D.
Leonor em 1498. Por alvará de 16 de Junho de 1596, do rei D. Filipe I, a
Irmandade obteve a solicitada aprovação.
Os subornos nas eleições também não cessaram com o alvará de 1610. Em 1632 efectuou-se a
reforma do compromisso, introduzindo-se-lhe as alterações que haviam sido
feitas no dia da Misericórdia de Lisboa por ordem do Rei D. Filipe III. Desde
os primeiros tempos da sua existência, a administração da Misericórdia nem
sempre primou pelo zelo e pela honestidade: as suas numerosas propriedades
distinguiam-se das outras pelo seu estado de abandono e pala incúria que
revelavam. À medida que os bens da Misericórdia aumentavam mais se evidenciavam
os abusos e os desmazelos.
A ambição e a falta de escrúpulos de alguns
mesários eram causa de subornos e desinteligências nas eleições da Mesa. Para
por cobro a tais anomalias a Irmandade fez, em 1610, a seguinte petição ao Rei
D. Filipe II de Portugal e III de Espanha. “Dizem os irmãos da
Santa casa da Misericórdia da vila de Castelo Branco que Vossa Majestade mandou
oferecer certidão autêntica da Misericórdia da cidade de Coimbra para se saber
como se fazia a eleição, por despacho posto no cimo da perdição folha primeira,
a que se referem folhas 3º verso e por ela consta fazer-se a eleição por
escritos em vasos, os de maior condição em um e os outros de menor em outro: e
destes um menino vai tirando os eleitos, ao quais, tomando juramento, elegem
Provedor e Irmãos que aquele ano hão-de servir; e é costume santo e bom e por
ele se evitam muitos subornos e escândalos que de se fazer doutro modo procedem
a na Misericórdia da dita vila de Castelo Branco são mui contínuos e deles se
espera grandes dúvidas e dissensões pelos subornos serem mui descobertos e
antigos.
Pedem a Vossa
Majestade, por serviço de Nosso Senhor, que lhes faça mercê mandar passar
provisão para que a dita eleição, daqui para diante, se faça por escritos em
vasos e deles por um menino se tirem os eleitos como se faz na cidade de
Coimbra e outras partes e ser muito serviço de Deus e de Vossa Majestade e
utilidade e quietação da dita Irmandade.”
Pôr alvará régio de 2 de Outubro de 1610
foi deferido esta pedição, sendo Provedor o licenciado Domingos do Rego.
Não
obstante as intervenções do Estado realizadas em 1529, em 1584 e em 1624, a
administração da Misericórdia continuou a ser escandalosa; em 1624 os
lavradores queixam-se de que “os irmãos da Mesa tomam a maior parte das terras
para si carregando-as no livro da Misericórdia sobre homens pobres que não tem
boi nem vaca nem são lavradores, que depois lhes tornam a largar”.
O Provedor da Comarca de Castelo Branco,
Licenciado Sebastião da Fonseca, mandou suspender a eleição até nova ordem, em
1630, recebendo uma provisão do Rei D. Filipe, datada em 10 de Agosto daquele
ano, na qual se determinava que “antes da eleição se fazer se apure o livro
novo da Irmandade e depois de feita esta diligencia se proceda á eleição com a
assistência do dito licenciado“.
(Continua)
Recolha de dados: “Castelo Branco na História e na Arte”
de Manuel Tavares dos SantosO ALBICASTRENSE
quarta-feira, outubro 22, 2025
IGREJA DA MISERICÓRDIA VELHA – (1/5)
Embora já tenha publicado em 2009 a história desta igreja, vou fazê-lo de novo, pois a tristeza em que ela se encontra assim o exige. Como o texto é um pouco longo, vou fazê-lo em cinco publicações.
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(I) Entre
a Rua de Ega e a Rua dos Oleiros ergue-se a Igreja da Misericórdia Velha, cuja
fachada principal está voltada para o lado do Poente, numa estreita rua
transversal denominada da Misericórdia. Este
templo tem atualmente por orago Santo António de Lisboa e foi, durante mais de
três séculos, da invocação da Rainha de Santa Isabel.
Uma pedra de granito assente no seu pavimento, sob o arco da capela-mor, tem a seguinte inscrição: “Esta capela foi mandada fazer por Simão da Silva h… da Índia e mandou-lha fazer Anna Correia sua testamenteira á custa dos seus legados que manda os faça em seu testamento”.
Está ilegível o vocábulo que se segue ao nome do testador, supondo-se ser a designação do cargo que desempenhou na Índia. Simão da Silva era um fidalgo natural de Castelo Branco, muito estimado na corte do Rei Venturoso. Camião de Góis refere-se a este fidalgo, na sua crónica do Felicíssimo D. Manuel, narrando o facto de haver sido enviado como embaixador de rei de Manicongo, capitaneando cinco navios onde eram transportados ricos presentes do rei português e sendo portador de seguinte credencial:
“Nos, D. Manuel, Rei de Portugal, etc., enviamos a vós, Simão da Silva, fidalgo da nossa casa, pessoa de que muito confiamos e a quem, por nos ter muito bem e fielmente servido, temos boa vontade, o qual escolhemos para vos enviar, por o termos conhecido por esforçado e de muita fidelidade e que vos dará de si boa conta… Muito vos rogamos que o ouçais e lhe deis inteira fé e crença em tudo o que de nossa parte vos disser e falar, assim como o fareis se por nós fosse dito e falado e em muito prazer o receberemos de vós, e nós esperamos em Nosso Senhor que da ida do dito Simão da Silva vós recebais muito prazer e contentamento e que em todas vossa coisas o acheis assim bom e verdadeiro servidor, como nós nas nossas e em todo o nosso serviço o temos achado, porque por isso o escolhemos para vo-lo enviar e muito vos rogamos que pois prouve a Nosso Senhor que por Sua misericórdia vos alumiar..."
Presume-se que Simão da Silva tenha falecido nesta embaixada pelos anos de 1512 ou 1513 e que a primitiva Igreja de Santa Isabel tenha sido edificada no primeiro quartel do século XVI. Em 1514 o Rei D. Manuel I instituiu o Misericórdia de Castelo Branco, cuja instalação foi feita numas casas anexas à Igreja da Rainha Santa.
Pretendendo
aquele monarca saber com o que poderia contar para a fundação da Misericórdia
dirigiu de Almeirim ao ouvidor do Mestrado da Ordem de Cristo a seguinte carta:
“Ouvidor! Nós, El-Rei, vos enviamos muito saudar. Nós somos informados como pela pobreza e pouca esmola da confraria da Misericórdia de Castelo Branco a dita confraria não andava ordenada como cumpria ao serviço de Deus e bem da vila havia três confrarias de Santo André, da Santo Logo e outra de S. João que tinham muitos bens de que se mantinha um Hospital e diziam certas Missas e que, alem disse, sobejava renda e desse sobejo se podia prover e reparar a dita confraria da Misericórdia.
Uma pedra de granito assente no seu pavimento, sob o arco da capela-mor, tem a seguinte inscrição: “Esta capela foi mandada fazer por Simão da Silva h… da Índia e mandou-lha fazer Anna Correia sua testamenteira á custa dos seus legados que manda os faça em seu testamento”.
Está ilegível o vocábulo que se segue ao nome do testador, supondo-se ser a designação do cargo que desempenhou na Índia. Simão da Silva era um fidalgo natural de Castelo Branco, muito estimado na corte do Rei Venturoso. Camião de Góis refere-se a este fidalgo, na sua crónica do Felicíssimo D. Manuel, narrando o facto de haver sido enviado como embaixador de rei de Manicongo, capitaneando cinco navios onde eram transportados ricos presentes do rei português e sendo portador de seguinte credencial:
“Nos, D. Manuel, Rei de Portugal, etc., enviamos a vós, Simão da Silva, fidalgo da nossa casa, pessoa de que muito confiamos e a quem, por nos ter muito bem e fielmente servido, temos boa vontade, o qual escolhemos para vos enviar, por o termos conhecido por esforçado e de muita fidelidade e que vos dará de si boa conta… Muito vos rogamos que o ouçais e lhe deis inteira fé e crença em tudo o que de nossa parte vos disser e falar, assim como o fareis se por nós fosse dito e falado e em muito prazer o receberemos de vós, e nós esperamos em Nosso Senhor que da ida do dito Simão da Silva vós recebais muito prazer e contentamento e que em todas vossa coisas o acheis assim bom e verdadeiro servidor, como nós nas nossas e em todo o nosso serviço o temos achado, porque por isso o escolhemos para vo-lo enviar e muito vos rogamos que pois prouve a Nosso Senhor que por Sua misericórdia vos alumiar..."
Presume-se que Simão da Silva tenha falecido nesta embaixada pelos anos de 1512 ou 1513 e que a primitiva Igreja de Santa Isabel tenha sido edificada no primeiro quartel do século XVI. Em 1514 o Rei D. Manuel I instituiu o Misericórdia de Castelo Branco, cuja instalação foi feita numas casas anexas à Igreja da Rainha Santa.
“Ouvidor! Nós, El-Rei, vos enviamos muito saudar. Nós somos informados como pela pobreza e pouca esmola da confraria da Misericórdia de Castelo Branco a dita confraria não andava ordenada como cumpria ao serviço de Deus e bem da vila havia três confrarias de Santo André, da Santo Logo e outra de S. João que tinham muitos bens de que se mantinha um Hospital e diziam certas Missas e que, alem disse, sobejava renda e desse sobejo se podia prover e reparar a dita confraria da Misericórdia.
E porque
queremos saber como isto está, se é assim como nos disseram e se alem das
despesas ordenadas sobeja alguma renda, vos mandamos que vades à dita vila e
nos informeis de tudo bem declarado para provermos a isso como bem nos parecer.
Escrita em Almeirim a 16 de Fevereiro de 1514. Gaspar Roiz a fez, Rei”.
Foi o rei informado de que a população de Castelo Branco se propunha organizar a confraria da Misericórdia, pois decorridos seis meses foi recebida a seguinte mensagem:
“Juízes, Vereadores, Provedor, Oficias e Homens Boa da Nossa Vila de Castelo Branco: Eu, El-Rei, vos enviamos muito saudar. Nós vos temos escrito quando prazer e serviço receberíamos nessa Vila se ordenasse e fizesse a confraria da Misericórdia como em outros lugares principais dos nossos Reinos se faz. E posto que tenhamos sabido que vós o vareis assim e com toda a boa vontade, pois que com ela se faz tanto serviço a Deus, todavia vos quisemos escrever e fazer lembrança quanto obrigação temos a cumprir as obras de Misericórdia que em especial nos são tão recomendadas por Nosso Senhor e que tanto serviço de Deus quanto nela se fará a Ele e a Nós nenhuma pessoa s deve escusar de nela entrar e servir o tempo que for eleito e ordenado por principal e honrado que seja, porque por esses que sabem e podem de há-te ela ordenar e servir como em todos os lugares dos nossos Reinos se faz.
Escrita em Almeirim a 16 de Fevereiro de 1514. Gaspar Roiz a fez, Rei”.
Foi o rei informado de que a população de Castelo Branco se propunha organizar a confraria da Misericórdia, pois decorridos seis meses foi recebida a seguinte mensagem:
“Juízes, Vereadores, Provedor, Oficias e Homens Boa da Nossa Vila de Castelo Branco: Eu, El-Rei, vos enviamos muito saudar. Nós vos temos escrito quando prazer e serviço receberíamos nessa Vila se ordenasse e fizesse a confraria da Misericórdia como em outros lugares principais dos nossos Reinos se faz. E posto que tenhamos sabido que vós o vareis assim e com toda a boa vontade, pois que com ela se faz tanto serviço a Deus, todavia vos quisemos escrever e fazer lembrança quanto obrigação temos a cumprir as obras de Misericórdia que em especial nos são tão recomendadas por Nosso Senhor e que tanto serviço de Deus quanto nela se fará a Ele e a Nós nenhuma pessoa s deve escusar de nela entrar e servir o tempo que for eleito e ordenado por principal e honrado que seja, porque por esses que sabem e podem de há-te ela ordenar e servir como em todos os lugares dos nossos Reinos se faz.
E portanto vos
recomendamos muito a quase todos e a cada um em especial que, olhando quando
todos somos obrigados ao serviço de Deus, folguemos todos de entrar na dita
confraria e a servir e ordenar e quanto mais honrado tanto com melhor vontade o
deve fazer e não se querer escusar quando for eleito e ordenado porque se assim
o fizer recebemos nisso muto desprazer e desse serviço. Escrito em Lisboa a 19
de Agosto de 1514. André Pires a fez, Rei.”
(Continua)
Recolha de dados: “Castelo Branco na História e na Arte”
de Manuel Tavares dos Santos
O ALBICASTRENSE
quarta-feira, outubro 15, 2025
ÁLBUM FOTOGRÁFICO DO BAIRRO LEONARDO
BAIRRO LEONARDO
😖 😕 😠 😟 😞 😡 😢
Na passada sexta feira deambulei pelo Bairro Leonardo, confesso que fiquei "raivoso" com o abandono instalado, pois muitas das casas estão abandonadas e em muito mão estado. Não vou mandar para cima da nossa autarquia a responsabilidade da desgraça instalada, pois, as casas têm proprietários e como tal, são eles os responsáveis.
No entanto, tenho para mim, que a nossa autarquia podia ter uma intervenção didática na recuperação do bairro, pois se assim não for, um dia destes o bairro está totalmente às moscas. Eu não posso deixar de apelar ao responsável maior da nossa autarquia, para que se desloque ao bairro e veja com os olhos bem abertos, a desgraça instalado e depois tente ajudar a resolver om problema.
No dia 21 de Outubro de 1940, faleceu em Castelo Branco, o conceituado industrial Leonardo José de Sousa de 68 anos de idade. De origem bastante modesta, singrou na vida, a pulso. Iniciou a sua atividade comercial, instalando uma taberna na cidade. Posteriormente, ligou-se á indústria corticeira.
Em 1907, numa altura de grande a recessão económica e os operários albicastrenses atravessavam uma enorme crise laboral, Leonardo de Sousa tomou a iniciativa de construir a expensas suas, dezenas de casas de habitação, para depois arrendar a preços módicos, a trabalhadores que laborassem na sua fabrica.
Foi deste modo que surgiu o tão conhecido e popular Bairro do Leonardo, nome este que se estendeu a toda aquela zona citadina, em tácita memória e expressiva homenagem, de todos os albicastrenses, a Leonardo de Sousa, o qual permanece na lembrança de todos os naturais de Castelo Branco.
Há mesmo quem considere Leonardo de Sousa, como sendo o pioneiro do desenvolvimento e renovação urbanística, que cinco décadas mais tarde se veio a verificar que em Castelo Branco, no ano de 1940, residiam em Castelo Branco, 12.763 habitantes.
PS. A recolha dos dados sobre o bairro, são da autoria de Gil Reis e foram publicados no Jornal ”A Reconquista”
O ALBICASTRENSE
quarta-feira, outubro 08, 2025
MEMÓRIAS DA RUA DO POÇO DAS COVAS
MEMÓRIAS DE UMA RUA DA NOSSA ZONA HISTÓRICA
A nossa zona historia é local onde as memórias vão morrendo pouco a pouco, porém essa mesma zona histórica, está cheia de memórias de gente
ilustre que nela viveu.
JOAQUIM TRIGUEIROS MARTEL
(1801-18739)
1.º Visconde de São Tiago por
decreto de 20-X-1862, 1.º Conde de Castelo Branco por decreto de
24-V-1870 e carta régia de 3-VI-1870. Nasceu
a 22-X-1801 em Idanha-a-Nova onde foi apadrinhado por Joaquim
José Goulão, capitão-mor de Ordenanças, e por D. Leonor Doroteia. Faleceu a 17-VIII-1873 na
sua casa da Rua do Poço das Covas em Castelo Branco (que fora dos Pestanas), na
qual estava em uso da licença militar como general comandante da1.ª Divisão
Militar.
Em 1828 residia no solar dos Golões em Alcains (atual Museu do Canteiro), quando este foi atacado por forças populares radicais ligadas ao Vintismo. Também residiu em Castelo Branco no solar que é hoje a sede da Câmara Municipal e foi dos viscondes de Oleiros.
Em 1828 residia no solar dos Golões em Alcains (atual Museu do Canteiro), quando este foi atacado por forças populares radicais ligadas ao Vintismo. Também residiu em Castelo Branco no solar que é hoje a sede da Câmara Municipal e foi dos viscondes de Oleiros.
Resta acrescentar, que a casa (ou palacete) onde Martel viveu durante algum tempo e onde morreu, já não existe, pois na década de setenta (se não estou enganado), foram derrubadas várias casas na rua, para construírem um prédio no local.
O ALBICASTRENSE
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