LEMBRANÇAS....
“Para
a história do Bispado de Castelo Branco”
(Continuação)
Também
o acusa de menos patriota, ao congratular-se pela nomeação de
Ferry, “por sua prudência e proibidade”,
e tão-pouco o absolve da pastoral, em que aconselha facilidades aos
intrusos, “vindos não como
conquistadores, mas sim como amigos e como aliados para
proteger-nos”.
Ipsi
verbis, eram os termos de proclamação de Junot ao povo português,
divulgada inicialmente em castelo branco. Mais
tarde, quando a desgraça d,el-rei Junot se torna evidente,
constitui-se então uma Junta de Salvação, sob a presidência do
prelado, com o vigário geral, o provisor do bispado e as autoridades
judicias, juiz de fora, provedor e corregedor, D. Vicente Ferrer não
teria sido, então extemporaneamente, um bispo da resistência
depreende-se dos juízos de Roxo, indubitavelmente, excessivos, visto
que a tropa de Junot não deparou com resistência alguma digna deste
nome, quer à sua chegada quer mesmo na capital. Deve salientar-se o
seu meticuloso zelo e porfiado espírito disciplinador, junto do
clero diocesano.
Sendo
vigário encomendado da Colegiada de Santa Maria do Castelo o padre
João Ruiz, na sua visitação de 27-XI-1785, o prelado lamenta
encontrar a igreja:
“Em
estado que alem de indecente não admite reparo algum; qualquer que
se pretenda e execute será innutil, menos que ella se reedifique:
não tem sacrystia, o corpo ameassa total ruína, de sorte que em
breve nos veremos reduzidos a fazer remover para outro lugar o
tabernáculo do Santíssimo Sacramento”.
“Não
podemos dessimular o que esta Igreja he pouco, ou quazi nada
frequentada, o Monte em que está situada, sendo a situaçaõ da
antiga Cidade se vê hoje sem habitantes a povoação pelo sossecaõ
dos tempos se tem estendido no Campo e que hoje he sobrranceiro o
dito Monte e vindo por esta cauza a ser iancessivel aos moradores da
Cidade he tambem hum lugar dezerto. Considerando pois na referida
situaçaõ da Igreja, e no estado em que se acha, naõ Nos lembramos
de outro provimento mais, senaõ de recomendar ao Reverendo Vigário
que requeira a S. Magestade com este Cap. a providencia necessária e
que demanda a mesma Igreja; o que lhe ordenamos fassa em breve, aliás
estranharemos como Nos parecer qualquer negligencia que acharemos a
este respeito”.
“Com
grande magoa e perturbação do Nosso Espírito somos informados que
os beneficiados naõ rézaõ no coro. Tertia, Sexta e Noa e que naõ
assistem á Missa Conventual, que todos os dias se deve dizer á
hora de Terdia como lhes ordenado na erecçaõ e instituiçaõ dos
Beneficios, feita por ElRey Dom Manuel, e pelo regimento do Coro
disposto por El Rey D. Joaõ 3º de saudoza memoria...”
A
transcrição tem o mérito de revelar um dos típicos documentos de
D. Vicente, com o informe curioso de abandono da população da parte
alta da cidade, em torno do castelo, já então verificado.
As
visitações sucedem-se com inalterável regularidade, a esta e
outras igrejas, até à última provisão de 10-VII- 1814, mas não
cabe nos limites desta obra a sua análise.
Faleceu
a 24-VIII desse mesmo ano, e jaz no adro da Sé, junto ao balcão as
sacristia (1).
(Continua)
(1)
Sobre a sepultura de D. Vicente Ferrer publicou o Dr. Luís Pinto
Garcia um opúsculo com o titulo: “Lápide
Sepulcral Biface”,
em que analisa e comenta com erudição o estranho caso de se
encontrar no reverso da pesada e comprida pedra granítica que serve
de tampa funerária, outra legenda fúnebre, de D. Joana de Meneses,
esposa de D. Brás Baltazar da Silveira, governador das armas desta
província e provedor da Misericórdia de Castelo Branco em 1721,
editado em 1945. (Irei
aqui publicar brevemente, este pequeno e interessante livro).
Texto
retirado do livro:
“Estudantes
da Universidade de Coimbra Naturais
de Castelo Branco de: Francisco Morais e José Lopes Dias”
O ALBICASTRENSE