terça-feira, julho 16, 2013

EM DEFESA DOS NOSSOS POETAS

Já todos nós ouvimos a expressão “Santos da casa não fazem milagres”, expressão que normalmente nos sai da boca perante situações incompreensíveis ou injustas.
Ao visitar o Centro de Interpretação do Jardim do Paço, foi exactamente esta expressão que me saiu da boca a mil à hora. O motivo da minha reação prende-se com o facto de ao visitar o referido centro, ter verificado que existe no seu interior um painel onde está afixado um belíssimo poema de Sofia Mello Breyner Andresen, poema que tem por título: “Jardim Perdido”.

JARDIM PERDIDO
Jardim em flor, jardim de impossessão,
Transbordante de imagens mas informe,
Em ti se dissolveu o mundo enorme,
Carregado de amor e solidão.

A verdura das árvores ardia,
O vermelho das rosas transbordava
Alucinado cada ser subia
Num tumulto em que tudo germinava.

A luz trazia em si a agitação
De paraísos, deuses e de infernos,
E os instantes em ti eram eternos
De possibilidades e suspensão.

Mas cada gesto em ti se quebrou, denso
Dum gesto mais profundo em si contido,
Pois trazias em ti sempre suspenso
Outro jardim possível e perdido.

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
In Poesia, 1944

Gostaria de pôr a quem decidiu postar o poema de Sofia Mello Breyner Andresen no centro de interpretação, a seguinte questão.
Tendo a terra albicastrense entre os seus filhos, poetas com obra poética publicada sobre o Jardim do Paço, havendo inclusivo entre eles poetas de grande prestigio, porque razão não foi escolhido um poema dum desses poetas, para ser afixado no Centro de Interpretação do Jardim do Paço?
O poema de Sofia é sem qualquer dúvida um lindíssimo poema, contudo, confesso que em vez do poema da grande poetisa, gostaria de ver ali exposto o poema de um albicastrense, poema onde ele expressasse o sentir, o sonho e a magia que os albicastrense sentem pela maior jóia da sua terra. 
Concluía este meu desabafo, afirmando o seguinte:
Se não formos nós a acarinhar os nossos artistas, quem o fará?
O vizinho do lado!....

ESPERANÇA
Tu és de sempre como o tempo,
tu és de longe como o espaço!
Súplica de cada momento,
falas – se o ânimo, quebrado,
nos enregela o pensamento!

Reapareces na tristeza
de uns olhos baços, perseguidos,
e és bem mais alta que a beleza!
Âncora, os teus ganchos são vivos
gumes de sol e de certeza!

Deixa-me, ó luz, acreditar
que um dia não serás precisa!
Que foste apenas a passagem
para a real de definida
forma de que és agora imagem!
"Jardim do Paço" – (1967)
PS. Este poema faz parte dum pequeno livro de tem por título “Jardim do Paço”, publicado em 1967. Quem é o seu autor? Vamos lá responder a esta pergunta.
O Albicastrense

1 comentário:

  1. António Salvado. Foi o poema que eu escolhi para a a minha participação no projecto Numa Incerta Melodia - a poesia transforma.

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