A
rubrica Efemérides Municipais foi publicada entre Janeiro de 1936 e
Março de 1937, no jornal “A
Era Nova”.
Transitou para o Jornal “A
Beira Baixa”
em Abril de 1937, e ali foi publicada até Dezembro de 1940.
A
mudança de um para outro jornal deu-se derivada à extinção do
primeiro. António Rodrigues Cardoso, “ARC”
foi o autor desde belíssimo trabalho de investigação, (Trabalho
que lhe deve ter tirado o sono, muitas e muitas vezes).
O
texto está escrito, tal como foi publicado.
Os
comentários do autor estão aqui na sua totalidade.
(Continuação)
A
sessão seguinte realizou-se no dia 22 de Maio e nela tomaram parte a
“Nobreza
e Povo que tinha sido convocada por pregoes e avisos”.
Não
se contentaram com a invocação por pregões , como era costume
recorreram aos avisos, porque o assunto a tratar era importancia e
por isso todos deviam estar a postos.
Foi
o caso que a Câmara da Covilhã pensou em proceder de uma assentada
à construção de dias pontes, uma no rio Zêzere, outra na ribeira
do Corges e, para angariar os meios necessários , representou à
Rainha “pedindo Provisão para se fintarem os Povos desta Comarca Guarda e Pinhel ".
Mas
os vereadores, nobreza e povo não estiveram para isso e responderam
num longo arrazoado de advogado palreiro que começava assim:
“Senhora,
sobre a reprezentação que o Presidente e Vereadores da Camara da
Villa da Covihan fizerão a V. Magestade afim de conseguirem Provizão
para se fintarem os Povos desta Comarca e os da Guarda e Penafiel
para as obras das duas Pontes que querem pressuadir são prezisas
huma ao Rio Zezere em distancia de huma legoa no citio de Alvares
(foi
assim que conseguimos ler o nome do sitio)
aonde há os pés direitos de hua Ponte de madeira e outra na
Ribeira do Corges no citio da porta de Franco Eduardo aonde tãobem
há hum Pontão de madeira: Foi V. Magestade servida mandar informar
o Provedor daquela Camara ouvindo os officiais das Camaras Nobreza e
Povo mais interessados nas ditas obras... Bem quizeramos nós
Soberana Senhora poder acudir a todas as necessidades que se
denominão publicas quando a urgencia corresponde ao nome que se lhe
dá mas na estação prezente havia impossibilidade por falta de
meyos para esta Cidade e Comarca poder contribuir para as obras das
ditas Pontes negando que ellas fossem da sua utelidade”.
Depois
tratava-se de demonstrar que as pontes não eram de utilidade para
esta cidade e comarca, não eram necessárias para nada. Para
ir daqui à Covilhã havia a Ponte Pedrinha; para ir para Belmonte,
além da Ponte Pedrinha, havia uma outra que ficava entre Belmonte e
Teixoso: por isso as pontes, para que a vila da Covilhã queria que
“se fintassem” os povos da Comarca de Castelo Branco, Guarda e
Pinhel, eram de utilidade para particulares, e por isso não podia
nem devia ser concedido o que se pedia, porque a isso se opunha “a
dispozição da Ord. 1. I. Nº 62 71”.
Em
seguida tratava-se de demonstrar que, embora as pontes aludidas
fossem de utilidade pública, a Comarca de Castelo Branco não
disponha de meios para auxiliar a respectiva construção.
E
para o provar alegava-se: que a guerra passada tinha aqui feito
grandes estragos; que os anos últimos tinham sido escassos, na
produção de géneros, que por isso estavam por um preço de
arrasar; que já concorria com o dobro do real de água por motivo do
auxílio que teve de prestar para a construção da
ponte da Aldeia das Dez; que tinha concorrido com três contos e
novecentos mil réis para as duas pontes de Caria; que estava chegada
a ocasião de ter de concorrer com dois contos e quinhentos mil réis
para as calçadas da cidade da Guarda; em suma, que não podia ser,
tivesse a vila da Covilhã paciência.
A
resposta era de advogado, longe como a légua da Póvoa e por isso
não tivemos a coragem de a reproduzir na integra. Resumi-mola ao
menor numero possível de palavras.
Quem
a copiou no livro das actas foi o nosso escrivão Aranha: mas quem a
fez, (quem deu o melhor dos seus miolos para que ela saísse obra de
polpa e chorume, foi o Doutor José dos Reis Teixeira Castelão), que
pelo seu trabalho recebeu grossa quantia; nada menos que dezassete
tostões.
É
o que se lê na acta, e com certeza o nosso escrivão Aranha não ia
exagerar o custo da obra. Foram dezasseis tostões, nem mais nem
menos.
Nesta
sessão ainda os vereadores deliberaram que fossem coutados os
alqueives que deviam ser despejados dentro do prazo de três dias, e
que fossem arrematadas “as cancelas da folha dos milhos”.
E
depois de tudo isto foram descansar, que bem precisados estavam
disse.
(Continua)
PS.
Aos leitores dos postes “Efemérides
Municipais” : o que acabaram de ler, é uma transcrição fiel do que foi publicado
na época.
O
Albicastrense
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