sexta-feira, dezembro 02, 2022

O AMOR E A MORTE... NOS ANTIGOS REGISTOS PAROQUIAIS ALBICASTRENSES – (17)


Por Manuel da Silva Castelo Branco

XIII - QUANDO A GUERRA BATE À PORTA. II Parte - A Guerra da Sucessão de Espanha (1704).  

Nos seis Assentos acima transladados, o vigário de Santa Maria, Frei António Gomes Assores, dá-nos algumas notícias sobre os acontecimentos vividos em Castelo Branco ( e em particular na sua freguesia), a quando da ocupação da vila pelas tropas espanholas e francesas que apoiavam Filipe, duque de Anjou ( e já aclamado Filipe V), na sucessão ao trono de Espanha.
(Continuação)
Assento 30
- A 24.1.1704, se fecharam as portas de Santiago per mandado do Senhor marquês das Minas, general e governador das Armas da Província.
- Entrou o inimigo francês e castelhano a conquistar esta vila Dia do Corpo de Deus, que foi em 22.5.1704, e se rendeu-a no dia seguinte. Esteve nela 40 dias, tempo bastante para a deixar assolada (como deixou), a igreja de Santa Maria queimada, o castelo e muro arruinados.
- Publicaram-se as pazes nesta vila, entre o senhor rei de Portugal D. João V e o senhor rei de Castela D. Filipe V, a 6.5.1715, governando a Igreja o S. Clemente XI e o Bispado o Ex.mo Senhor João de Mendonça que, a 11 do dito mês, benzeu o sítio e pôs a fundamental pedra no Recolhimento que novamente ergueu na dita vila, acompanhando-o o eclesiástico, nobreza e plebe da terra / (Letra de Frei António Gomes Assores, Vig° de Stª Maria).
Assento 31
- Os baptizados, que se seguem, o foram na igreja de S. Miguel por me queimarem os hereges franceses e um ladrão castelhano a igreja, deixando-ma incapaz de se baptizar nela.
Assento 32
- No ano de 1704, governando a Igreja de Deus o S. Papa Clemente XI, o reino D. Pedro II, a província o marquês das Minas, o bispado D. Rodrigo de Moura Teles (eleito já arcebispo primaz), se fecharam as portas desta vila, a 24 de janeiro.
- Mas também, a 7 de Julho seguinte, se abriu a de S. Tiago e fui eu o primeiro que, com a nossa mão sagrada, a comecei a abrir.
 Assento 33
- A 22.5.1704, dia em que caiu 5ª feira do Corpo de Deus, entrou nesta vila o inimigo frencês e castelhano deixando-a roubada e por fim, em paga de 40 dias que aqui moraram com alcantrão me puseram fogo à Igreja. Deus vingue tão grande desacato.
Assento 34
- Em Junho de 1704, matou o inimigo a Pedro Simão, do Cebolal, monte desta freguesia de Santa Maria. Foi sepultado na igreja do dito monte e teve oficio, de que fiz este termo que assinei.
O Vig° Frei António Gomes Assores.
Assento 35
- A 22.6.1704, faleceu Catarina Magro, solteira desta vila e freguesia, não fez testamento. Foi sepultada em Cambas, onde andava (como os demais desta vila) fugida por amor do inimigo; e, no dito lugar de Campas lhe fez o R. do Prior meio oficio. E, por verdade, fiz este termo que assinei.
O Vig° Frei António Gomes Assores.
Comentário
Portugal acabara por aceitar o outro candidato - Carlos, arquiduque de Áustria - proposto pela Inglaterra... Assim, em Maio de 1704, um poderoso exército de Filipe V, reforçado com um contigente francês do comando de Berwick, penetra no país pela Beira e apodera-se de Salvaterra do Extremo, Segura,
Monsanto e Castelo Branco. Do sucedido então na urbe albicastrense temos um relato coevo, que vamos transcrever seguidamente:- “Passou o exército inimigo a invadir a vila de CasteloBranco, a maior de toda aquela procíncia. Achava-se esta vila com pouca ou nenhuma guarnição de soldados e desamparada de muita parte dos paisanos, porque muitos e os de maior suposição se tinham ausentado com suas famílias, justamente atemorizados do poder castelhano e das notícias das entradas que tinha feito nas terras rendidas.
E somentese acharam em Castelo Branco 80 soldados ingleses ou holandeses, que se retiraram ao castelo; ficou a vila defendida com os poucos paisanos que nela ficaram e estes sem cabo nem governador, porque todos tinham despejado a terra. Com tão pouca defensa e com uns muros antigos e menos munições, acharam os castelhanos a vila de Castelo Branco, aondechegaram com o exército Dia do Corpo de Deus, 22 de Maio do dito ano de 1704.
De tarde, lançaram cordão à vila e assestaram duas peças de artilharia aos muros, as quais na noite do dia que chegaram, puseram dentro da igreja de S. Miguel, paróquia da dita vila (fora dos muros e à distância de um tiro de espingarda) e saíam os tiros das peças pelas portas da dita igreja, porém sem dano (ou pouco) dos muros.
Resistiu a praça 24 horas e, como o povo se viu com tão pouca defensa, lançaram bandeiras de paz e fizeram chamada, de que resultou a entrega da praça ou entrarem logo os franceses dentro da vila, saqueando as casas e o que podiam. E em poucas horas se rendeu também o castelo, cuja guarnição egovernador foram prisioneiros para Castela, ficando na vila alguns paisanos com permissão dos castelhanos que, depois da vila entrada, moderaram muito a fúria dos franceses para não prosseguirem o roubo dos paisanos já rendidos”.
O marquês das Minas, reforçado com tropas do Minho e de Trás-os-Montes, sai de Almeida e recupera sucessivamente Segura, Idanha, Zebreira, Ladoeiro, Castelo Branco, Rodão, etc. Berwick, vendo-se ameaçado pelas tropas do marquês da Minas, abandona Portalegre e retira para Espanha. Dura a luta até 1712, ano em que no dia 7 de Novembro se faz o armistício entre Portugal e Espanha.
(Continuativo)
O ALBICASTRENSE

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