segunda-feira, julho 12, 2010

VELHAS RUAS DA MINHA CIDADE

RUA DOS FERREIROS
A rua dos Ferreiros começa na rua das Olarias (local onde se situava a antiga Porta da Vila), e termina na Praça Camões.
José Ribeiro Cardoso conta-nos que a antiga vila de Castelo Branco, tinha sete portas. A Porta do Esteval, ainda hoje mal localizada; a Porta do Espírito Santo como entrada dos caminhos de Alçafa e do Alentejo; a Porta da Vila que dava entrada para a Rua dos Ferreiros; a Porta do Ouro em frente da antiga capela de S. Brás; a Porta da Traição em frente de S. Gens; a Porta de S. Tiago que dava entrada pela Calçada de Alegria aos visitantes de Caféde e S. Vicente da Beira; a Porta de Santarém no lado poente dando acesso ao caminho das Sarzedas. (As entradas pelo “Postiguinho de Valadares” “Porta do Relógio” e “Porta do Postigo” são posteriores).
Os ferreiros habitavam a rua que ainda hoje conserva o seu nome. Segundo o livro das Ordenanças da Milícia, D. João III mandou em 1527 fazer as “ordenanças” da vila de Castelo Branco; Ai aparece a rua dos Ferreiros capitaneada por Jorge de Sousa. Foi uma das principais ruas da vila, e tinha à entrada a albergaria e a capela de S. Eulália e conduzia à Praça Velha.
O último ferreiro que naquela rua exerceu a profissão, (segundo informações recolhidas por mim), terá sido o Ti Caetano também conhecido por, “Pouca Sorte”. 
A sua oficina terá encerrado portas da década de sessenta do século passado. Ao longo dos tempos esta velha rua viu os profissionais do ferro serem substituídos pouco a pouco, por oficiais de outras profissões. Nesta rua tiveram também residência; os Bombeiros Voluntários mais a sua famosa Banda; as primeiras tipografias da cidade; o “Hotel Salvação” tão conhecido dos estudantes; a Agência do Banco de Portugal; o Colégio de Santo António; a sopa dos pobres e muitos outros estabelecimentos comerciais.

UM POUCO DA HISTÓRIA
DOS FERREIROS ALBICASTRENSES

A festa dos organismos corporativos realizava-se na procissão do Corpo de Cristo e competia aos Municípios, organizar a procissão. 
Nela se incorporavam as três classes da sociedade: o clero, a nobreza e o povo. A imagem de S. Jorge, padroeiro do reino era levada a cavalo: o rei e os príncipes seguravam as varas do palio: cada organismo apresentava-se sob a protecção de um santo cuja imagem transportava em andor ou ostentava numa bandeira. Os ferreiros de Castelo Branco não tinham nenhuma imagem. Eram obrigados a vestirem-se de diabo, expondo-se a toda a espécie de vexames para se incorporem na procissão. A Câmara exigia que dois ferreiros fossem vestidos de diabo. Isto manteve-se até ao século XVIII.
Em 1700 os ferreiros apresentaram queixa e pediram licença para “darem um santo do seu ofício que é S. Dustan e aliviarem-nos de darem os diabos que costumavam dar”.
A Câmara aceitou e propôs que a partir de então, transportariam o ”S. Dustan em sua charola com quatro tochas”.
A escolha deste Santo esta baseada numa lenda segundo a qual o diabo teria entrado em casa daquele santo que era ferrador. Dustan amarrou o diabo para o ferrar e ter-lhe-ia infligido tais tormentos que este lhe prometeu nunca mais entrar em casa de ferreiros. Desta lenda “talvez” tenha vindo a superstição do uso da ferradura para afugentar o diabo. (diz… Tavares dos Santos). 

Segundo o Tombo de Santa Maria do Castelo de 1753 descrito por Porfírio da Silva, havia na Igreja de S. Miguel um altar e uma imagem de S. Dustan. Ficava precisamente onde hoje se encontra um belo portal com colunas de granito que faz a ligação entre o corpo da Igreja e o átrio da Sacristia Grande.
Ai estava a imagem de S. Dustan em vulto com uma tenaz de ferreiro na mão que por sua devoção lhe ofertaram os ferreiros desta vila para se livrarem da obrigação que tinham de dar para a procissão do Corpo de Deus a figura do diabo, para que prometeram também levar o dito santo àquela procissão, principiando no ano de 1698, ficando por este modo dispensados de darem aquela diabólica figura (Porfírio da Silva).
Resta acrescentar que a imagem de S. Dustan, que terá sido obra dos ferreiros albicastrenses “ausentou-se da cidade" e nunca mais soube do seu paradeiro.
PS. Recolha de dados históricos: José Ribeiro Cardoso e jornal “Reconquista”.
O Albicastrense

3 comentários:

  1. Anónimo21:42

    Muito interessante esta pequena lição de História

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  2. Zé do Telhado11:28

    Ultimamente tem havido muita coisa a "ausentar-se da cidade". Dizem, que não estão muito longe. De tanto pensar já tenho a cabeça a ferver, até deita fumo.Ainda pifo. E não são só peças de arte. São madeiras nobres, colunas e pedras de granito. É um ver se te avias.
    Zé do Telhado

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  3. Tem toda a razão amigo Zé do Telhado!
    Porém… mais que as ausências de que fala, temos a debandada dos jovens albicastrenses para fora da sua cidade.
    Só me apetece inquirir; onde estão os empregos tão proclamados para os jovens licenciados na nossa cidade.
    Um abraço

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