FACTOS
E ALBICASTRENSES
De
OUTROS TEMPOS
OUTROS TEMPOS
Nos
velhos jornais da terra albicastrense, tenho encontrado artigos que
são autênticas pérolas. A jóia que aqui quero destacar desta vez,
é uma carta enviada ao director do jornal reconquista em 1951, por
José Roxo.
Nessa
carta, José Roxo narra a sua visita a Castelo Branco, após vinte
anos de ausência. Curiosamente, José Roxo fala na sua carta, de um
antepassado meu com grande carinho e ternura (tio
avô),
situação que me deixou com um grande sorriso no rosto.
Todavia, o que me levou a postar o referido artigo neste blog, é a história da sua vista à terra albicastrense, após 21 anos de ausência. Narrativa, onde ele fala das bichas de cântaros no chafariz na Mina, Granja e Cansado, da Carreirinha, da capela de S. Jorge, do miradouro, da travessa da alegria e de muitas outras coisas novas, que a terra albicastrense viu nascer nos anos em que ele esteve ausente.
O artigo é sem qualquer duvida, uma verdadeira lição de história desse tempo para os albicastrenses de hoje, aula, onde ele fala de locais e de pessoas que muito contribuíram para o desenvolvimento da terra albicastrense. A postagem deste artigo, é pois, uma pequena homenagem deste albicastrense, a outro albicastrense que muito deve ter amado a sua terra.
Todavia, o que me levou a postar o referido artigo neste blog, é a história da sua vista à terra albicastrense, após 21 anos de ausência. Narrativa, onde ele fala das bichas de cântaros no chafariz na Mina, Granja e Cansado, da Carreirinha, da capela de S. Jorge, do miradouro, da travessa da alegria e de muitas outras coisas novas, que a terra albicastrense viu nascer nos anos em que ele esteve ausente.
O artigo é sem qualquer duvida, uma verdadeira lição de história desse tempo para os albicastrenses de hoje, aula, onde ele fala de locais e de pessoas que muito contribuíram para o desenvolvimento da terra albicastrense. A postagem deste artigo, é pois, uma pequena homenagem deste albicastrense, a outro albicastrense que muito deve ter amado a sua terra.
VINTE
ANOS DEPOIS
(17
– 04 - 1951)
Castelo
Branco tem progredido muito nos últimos vinte anos, talvez mais que
qualquer outra cidade de província. Comprovam-no todos os que por
aqui passam, naturais ou estranhos, depois de alguns anos de ausência
.
José
Roxo, albicastrense que muito ama a sua terra, sentiu-o vivamente,
quando à dias a visitou, e bem o mostra na franqueza que transparece
na carta que após a sua visita, nos enviou e que hoje começamos a
publicar:
Pelo
ano de 1931, sai de Castelo Branco – minha terra natal – com
destino a longínquas paragens. Era novo ainda - menos de 20 anos –
e levava na alma a ânsia de vencer. Comigo foi toda a fortuna que
possuía: pai e mãe. Na
terra ficaram-me apenas saudades e um pequeno punhado de amigos,
entre eles o meu já velho patrão, Joaquim Martins Bispo. Ao serviço
dele havia passado alguns anos da minha infância e tinha-lhe amor e
respeito.
Alto,
seco, já calvo, barba grisalha, olhar franco e voz forte, era um
tipo perfeito de homem que sabe o que quer e para onde vai. Isto é:
infundido respeito, impunha-se à simpatia. Sempre sereno e calmo, em
todos os actos da sua vida lhe apreciei uma honestidade perfeita, uma
consciência sã e uma vontade firme, cativante e atraente. Assim, em
cada cliente tinha um amigo, e seus colaboradores encontravam nele um
bom conselheiro. Parti em busca de novos horizontes e nunca mais o
vi. Os anos passaram, uns após os outros, e duas décadas se
completaram em 1951, sem que tivesse oportunidade de voltar ao ponto
de partida.
Falando
de Castelo Branco, inclui-o sempre, no número das minhas
recordações, mas, um dia, fui informado de que havia morrido. Isto
não me surpreendeu, porque, quando o vi pela ultima vez era tal como
o descrevi. Nunca mais falei dele. A cidade havia aumentado,
diziam-me. Eu senti desejo de, ao menos uma vez, voltar ao berço
natal e, no dia 8 do corrente, eis-me a caminho para a minha “velha
terra”.
Eram
4 horas de tarde quando cheguei, rodeado dos meus, pois tinha fundado
um lar há muito. Sem filhos é certo, mas criei encargos, com os
quais me considero
protector
de uma grande família. DEUS abençoa o meu casal, observo-o cheio de
graças e vivo contente, rodeado de velhos e crianças a quem o meu
braço faz felizes. A cidade de há 20 anos antes tinha sofrido uma
verdadeira revolução!
O
progresso, aguilhoada pelos homens de boa vontade, vincou-lhe na
alma a marca da geração que trabalha à sombra da Cruz de Cristo.
Isto vi logo de início e à chegada. Parei no passeio publico e
olhei à minha volta. Observei e conclui: Do
seu ventre brota agora água a jorros, vinda de muito longe e as
bichas de cântaros na Mina na Granja e no Cansado, cederam campo às
condutas que, de gigantescos depósitos, levam o precioso liquido ao
local de consumo.
Vi-os
mais tarde no castelo. Melhoramento importante! Bendito seja quem o
levou a afeito, numa ordem crescente de luta pela prosperidade da
terra e bem comum. Muitas casas novas, de arquitectura moderna, já
construídas, outras ainda em construção, largas avenidas e
jardins, etc, identificaram-me uma data e homens que o tempo jamais
pode apagar da memoria das gerações.
Tudo
me era novo, estranho e encantador. Ali, na Carreirinha, tinham
desaparecido as casitas baixas de outrora, dando lugar a uma espaçosa
avenida em direcção à estação de Caminho de Ferro. Do
solar do “Dr. Francisco” surgiu-me, como por encanto um majestoso
edifício alto e bem vigorosa aparência. Além, frente ao quartel
de cavalaria, no local onde fora o monumento da Grande Guerra, estava
uma placa ajardinada.
Acolá,
tinha desaparecido o muro duma propriedade conhecida por mim como
pertença de D. Maria da Piedade Ordaz e em vez dele, outras
edificações de beleza incontestável. Mais além, até a velha
“capela de S. Jorge”, onde vi funcionar uma taberna, tinha
desaparecido. No local nasceu outro belo edifício. Em frente ao
Governo Civil, as rampas e muros transformaram-se em jardins.
Do
outro lado, o muro das Finanças, onde estava ele? Nem vestígio.
Tudo casas novas! Muitas casas novas. Até o quartel, tinha agora um
murito em frente, muito engraçado. Que transformação total eu
estava verificando, na minha velha urbe! Só a “Popular”
de J. Martins Bispo & Filho conservava ainda o seu expecto de
então. Observei-a com cuidado, saudoso dos tempos idos. Era
domingo e as portas estavam fechadas, mas eu previ o seu interior
como à 23 anos a havia deixado. Apenas o meu velho amigo tinha
abandonado definitivamente o seu lugar junto da pequenita mesa que
ocupava dentro da casa no interior do balcão. Ele morrera há muito,
disseram-me.
Ela
deveria estar lá, porque Camilo, sucessor do pai, era bastante
conservador. Eu iria abraçá-lo no dia seguinte e sofrer um pouco a
ausência daquele velhote inteligente e bondoso, que me havia guiado
nos primeiros passos do comercio. Mal sabia eu a alegria que me
esperava.... (continua no próximo número). Neste
caso: no próximo “post”.
Ps. A primeira parte do artigo de José Roxo, está aqui postado, tal como foi publicado em 1951.
O Albicastrense
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