A Quase totalidade dos trabalhos
monográficos que se referem a Castelo Branco pretendem dar-nos de ciência certa
a noticia de ter sido construída a muralha que cinge esta vila não só por D. Dinis, mas também à custa do erário régio, e desta afirmação
conjectural se tem feito eco todos os divulgadores.
Profirio da Silva no seu Memorial diz-nos terem sido as fortes muralhas que cingiram Castelo Branco edificadas por D. Dinis em 1319.
António Roxo também na sua
Monografia pretende fazer crer ter existido uma primitiva cintura de muralhas,
mas devido ao rápido incremento da povoação, e por este se achar apertada,
ordenou D. Dinis que à custa das rendas reais se fizesse nova cintura de
muralhas, alargando-se assim o perímetro da vila.
O Dr. Ribeiro Cardoso atribui à Ordem do Templo a construção das
muralhas, entre 1230, em que há notícia histórica da existência da Alcáçova, e
1319 em que foi criada a Ordem de Cristo, declarando em nota haver conhecimento
da afirmação feita pelo Dr. Rui de Azevedo na História da Expansão Portuguesa
no Mundo, de terem sido mandados levantar o muro da vila de Castelo Branco,
pela Ordem de Cristo em 1343 a instâncias de D. Afonso IV, mas que embora
reconhecesse no Dr. Rui de Azevedo merecimentos comprovados para se acreditar na sua afirmação, não emendava o texto por não haver tomado conhecimento de
documento que justifique a asserção do ilustrado professor.
Vejamos o que nos dizem estes
documentos: O Mestre da Cavalaria da Ordem de Jesus Cristo D. Frei Estêvão Gonçalves comunicou ao alcaide, juízes e vereadores e concelho de Tomar que considerava serviço de Deus e beneficio da Ordem que se cercasse a vila de
Castelo Branco, como tinha sido consentido e achado necessário por el-Rei.
Para que este povo pudesse levar a
eleito esta obra de fortificação e porque estes se queixaram ao Rei de não
poderem efectuá-las por estarem esgotadas as suas possibilidades económicas e
pedirem por mercê que mandasse que fossem ajudados, no que foram atendidos, determinou o Mestre da Ordem de Cristo que os conselhos da Ordem e os freires,
lhes dessem ajuda; pelo que mandou lançar uma Sisa sobre o cereal, o vinho e a
carne; mandou que se arrecadasse o que sobejasse dos Hospitais, dos Albergues e
das Gafarias que a Ordem mantinha, bem assim o que ficasse dos Resíduos dos
Testamentos e que tudo se guardasse numa arca de 3 chaves até perfazer a
importância de 600 libras.
Uma das chaves ficaria em poder de João Lourenço, procurador do concelho que cobraria esses direitos, outra em poder do
Tabelião, Aires Peres que os contabilizaria, ficando como depositário do dinheiro e com a terceira chave o mercador
João Martins, devendo contudo os juízes fazê-lo jurar aos Santos Evangelhos que
bem e directamente haviam de tirar estes dinheiros, que deviam estar recolhidos
de forma que fossem entregues para os lavores dos muros, da seguinte maneira:
Uma terça parte pela Páscoa próxima,
outra terça parte pelo S. João e a outra terça parte pelo Natal. Toda e qualquer importância que fosse
recolhida, superior às 600 libras estipuladas, ficavam os depositários inibidos
de a utilizar até que o Mestre determinasse a sua aplicação.
Não foi de boa mente que os de Tomar
aceitaram o encargo de contribuir para a realização destas obras; duvidaram que
a resolução do Mestre da Ordem tivesse o consenso régio, pelo que lhes foi
comunicado que o perguntassem a el-Rei, dando os documentos a notícia das
sanções aplicadas a quem quisesse esquivar-se ao pagamento da Sisa e a quem não
cumprisse o que se mandava.
Um dos documentos foi dado em Estremoz
aos 2 dias de Janeiro de ano de 1343 e o outro em Vila Viçosa, no mesmo ano, a
19 de Janeiro.
O Albicastrense
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