quinta-feira, julho 03, 2014

EFEMÉRIDES MUNICIPAIS – LXXXVII

A rubrica Efemérides Municipais foi publicada entre Janeiro de 1936 e Março de 1937, no jornal “A Era Nova”. Transitou para o Jornal “A Beira Baixa” em Abril de 1937, e ali foi publicada até Dezembro de 1940.
A mudança de um para outro jornal deu-se derivada à extinção do primeiro. António Rodrigues Cardoso, “ARC” foi o autor desde belíssimo trabalho de investigação, (Trabalho que lhe deve ter tirado o sono, muitas e muitas vezes).

O texto está escrito, tal como foi publicado.
Os comentários do autor estão aqui na sua totalidade.

(Continuação)
Temos agora e sessão de 4 de Agosto. O que nela se passou forneceu matéria para larga prosa que havia de ser levada à presença da Rainha, mas resume-se em pouco. Francisco José de Carvalho Freire Falcão solicitou de Sua Magestade “a graça de o haver e declarar por vezinho do lugar da Louza”.
Sobre a solicitação foi ouvida a Câmara, que respondeu que sim, que achava bem, porque o homem tinha na Lousa bens e gado à farta, aquela povoação ficava longe, a duas léguas da cidade e, fosse forçado a residir aqui tão longe dos seus haveres, não os podia administrar tão bem como lá. E assim ficou muito satisfeito o Sr. Francisco José de Carvalho Freire Falcão e a Câmara deu por findo os seus trabalhos nesse dia.

Na sessão imediata, que se realizou em 16 de Outubro. Mandaram-se coutar os alqueives e olivais e não se pensou em mais nada.

Na sessão seguinte, que se realizou em 25 de Outubro, tomaram também parte os representantes da Nobreza e do Povo para resolver um assunto de importância. Foi o caso de um médico, ao que parece ainda in herbis, chamado Filipe Joaquim de Paiva, apareceu a pedir que fosse criado para ele um novo partido com ordenado de duzentos e quarenta mil réis, que era quanto recebia o médico do outro partido, Dr. João Antunes Pelejão.
Estabeleceu-se discussão rija. O procurador do concelho e o vereador mais velho disseram que sim, que se criasse o partido e se desse ao requerente.
Mas salta de lá outro vereador e arenga que não, que não podia ser, “por se não achar o suplicante ainda formado nem ter dado provas do seu requerimento”. Formasse primeiro e aparecesse depois.
Os procuradores do Povo por seu lado sustentarem que o partido era necessário e devia ser criado “para a Camara poder nomear Medico ou ao Recorrente cujos tallentos são conhecidos ou a qualquer outro que bem lhe pareça ficando o dito partido estabellecido perpetuamente sem dependência de outra nova Provisam
Vem depois os representantes da Nobreza e disseram “que se conformavam com a mesma rezam”.
E depois não disseram mais nada e assinaram a acta.
É de registar o seguinte: As assinaturas da acta são nada menos de quarenta e três e desta vez uma só é de cruz. Todos põem o seu nome por extenso, o que revela sensivel progresso, visto que até esta altura, sempre que havia sessões destas, as cruzes eram tantas que davam a impressão de um cemitério.
Acrescenta-se ainda que a acta desta sessão não foi escrita nem subscrita pelo escrivão Aranha. Foi um Sr. Manuel Joaquim Freire Corte Real, que deu provas de especialista em caligrafia capaz de endoidecer quem tenha de haver-se com ela em ortografia e redacção de “pretuguês”. Safa! Que é bom escrever mal, mas também nem tanto.
(Continua)

PS. Aos leitores dos postes “Efemérides Municipais”, o que acabaram de ler, é uma transcrição fiel do que foi publicado na época.
O Albicastrense

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