quarta-feira, julho 04, 2018

UMA BELÍSSIMA DESCOBERTA NO NOSSO MUSEU

O ACHADO ARQUEOLÓGICO
por:Júlio Vaz de Carvalho*

No passado dia 7 de Março, a Gazeta do Interior noticiou a descoberta de um achado arqueológico no hall de entrada do Museu Francisco Tavares Proença Júnior revelado na sequência das obras que estão a decorrer naquele espaço cultural. O dr. Pedro Salvado, do Conselho Director da Sociedade de Amigos do Museu Francisco Tavares Proença Júnior, descreveu a estrutura circular, em granito aparelhado possivelmente datada de meados do Século XVIII e com forte probabilidade de a mesma se ter destinado à conservação ou transformação de produtos (figura 1 – foto de Veríssimo Bispo)
Figura - 1
Pedro Salvado, garantiu ainda tratar-se de “de um caso muito raro em Portugal” pelo que se torna necessário o seu estudo e preservação, destacando ainda que “é a confirmação da importância arqueológica do subsolo do Museu”, reforçando por isso o Investigador a necessidade de uma sondagem do subsolo do Museu, pois não será, com toda a certeza, a única estrutura nestas condições. 
Por este motivo urge, a bem do enriquecimento histórico e patrimonial da cidade, estudar esta peça e outras que futuramente possam ser reveladas.Uma pesquisa realizada no sentido de encontrar estruturas similares, levou-me a uma imagem que ilustra o ancestral processo de fabrico e conservação de gelo (figura 2), arte milenar de, Chineses, Persas, Egípcios, Gregos e Romanos, baseado no armazenamento de gelo e neve prensada em cavernas, silos e abrigos subterrâneos, protegidos com palha seca de cereais e de outros materiais isolantes. Desta forma tornava-se possível não só a conservação de alimentos como, igualmente a refrigeração de bebidas. 
Da imagem, em corte transversal, pode observar-se a existência do sistema de drenagem à semelhança do que sucede com a descoberta no Museu Albicastrense. Sabe-se que no Palácio Nacional de Queluz eram servidas bebidas frescas assim como eram elaborados granizados com gelo proveniente provavelmente da serras de Sintra e Montejunto – convém citar que na Serra de Montejunto está situada a antiga Real Fábrica do Gelo. Esse gelo era armazenado em silos similares nas caves do palácio. Tive oportunidade de observar o achado, poucos dias depois da sua descoberta e de igual forma fiquei curioso, não só pelas dimensões do que se afigura ser um silo de conservação, mas também pela sua forma cónica, que possui no fundo, um ralo metálico ou dreno, supostamente para escoamento de líquidos, coincidente com o da já referida imagem (figura 2). 
Na tentativa de procurar uma possível identificação do achado, revi a literatura sobre o antigo Paço Episcopal, coevo do Palácio de Queluz, e as referências a ele feitas em diários e registos de memórias de alguns dos militares das forças beligerantes, durante a Guerra Peninsular. A maioria dos escritos faz apenas referências à sua sumptuosidade, contrastando com a restante realidade da cidade, granjeando
a mesma grandiosidade de alguns palácios e construções abastadas que tinham visto, desde o Litoral até uma zona inóspita e pobre do interior. 
Quanto à sua arquitectura e área envolvente unicamente se fazem essas referências, contudo, dos relatos e testemunhos escritos reunidos em obras locais, cita-se o consumo de refrescos no palácio e o hábito do Bispo, D. Vicente Ferrer da Rocha, presentear os oficiais franceses com bebidas frescas. Ora, assim sendo, de onde viria o gelo, essencial para a elaboração dos refrescos, que A. Roxo, na sua Monografia de Castelo Branco, assevera terem sido enviados ao General Loison (o tristemente célebre Maneta), estacionado nas Sarzedas, em 6 de Julho de 1808, ou seja, em pleno Verão? 
Ficam no ar as perguntas que se seguem: Seria o gelo usado para refrescar as bebidas provenientes da estrutura agora vinda à luz do dia? Estaremos perante um antigo “frigorífico” do Paço Episcopal? E seria esta estrutura, a confirmar-se a sua concepção no século XVIII, parte integrante do edifício, ou seja construída de raiz? Existiria já a mesma tendo sido integrada ou escondida pelo novo edificado? Será esta uma estrutura isolada ou, no subsolo do que resta do antigo edificado haverá outros enigmas à espera de serem revelados e estudados?
Esta e outras questões estarão sem resposta até que sejam tomados os passos seguintes, no sentido de enriquecer o Património e Historiografia local e o consequente melhor entendimento e preservação da nossa Memória Colectiva Albicastrense. 
Figura - 2
O recente retomar da obra, destinada a um elevador (que se saúda, a bem do melhoramento das acessibilidades dos utentes com limitações de locomoção) deixou uma placa de betão que acabou por assentar sobre o achado o que provoca preocupação e levanta a dúvida sobre qual a solução para continuarem os estudos e prospecções tendentes a apurar a dimensão do mesmo. 
Tomamos e celebramos por isso as palavras do sr. Presidente da Câmara, dr. Luís Correia, realçando a sua importância e afirmando ser uma descoberta “que vai reforçar o interesse patrimonial e o conhecimento da história do palácio”, para que não fique coarctada e comprometidas as investigações que se impõem. 
(o Autor escreve segundo a grafia antiga).
    *Investigador e Membro da Sociedade dos Amigos do Museu Tavares Proença Júnior. O artigo que acabou de ler foi hoje publicado no jornal, “Gazeta do Interior".  

O artigo que acabou de ler foi hoje publicado no jornal, “Gazeta do Interior". 
Ao seu autor, Júlio Vaz de Carvalho, este albicastrense
 não pode deixar de dar os parabéns pelo notável trabalho. 
Contudo, não posso deixar de aqui deixar os meus prantos
  afirmando o seguinte: que pena não ter a terra albicastrense 
mais pessoas como Júlio Vaz de Carvalho.
O Albicastrense

2 comentários:

  1. Agradeço as suas palavras (e as fotos) amigo Veríssimo. Somos poucos mas bons e a prova está neste blog, resultado da persistência e dedicação do seu Autor; lamenta-se que tantos e tantos conterrâneos se vão alheando destas temáticas. Aos poucos, tentaremos retomar dinâmicas novas.
    Grande Abraço e Obrigado.

    ResponderEliminar
  2. Hugo Alexandre Rodrigues00:02

    E está o Júlio à distância. Imaginemos se ele estivesse cá. ;)

    ResponderEliminar

ANTÓNIO ROXO - DEPOIS DO ABSOLUTISMO - (12 "ÙLTIMA")

Última publicação do excelente trabalho que António Roxo publicou em antigos jornais da terra albicastrense.   “O Espaço da vida polític...