quarta-feira, dezembro 17, 2008

EFEMÉRIDES MUNICIPAIS - VIII



A rubrica Efemérides Municipais, começou por ser publicada entre Janeiro de 1936 e Março de 1937, no jornal “A Era Nova” transitou para o Jornal “A Beira Baixa” em Abril de 1937 e ali foi publicada até Dezembro de 1940.
A mudança de um para outro jornal deu-se derivada à extinção do primeiro. António Ribeiro Cardoso, “ARC” foi o autor desde belíssimo trabalho de investigação, que lhe deve ter tirado o sono, muitas e muitas vezes.

O texto foi escrito neste blogo, tal como foi publicado em 1937.
Os comentários do autor não estão aqui na sua totalidade

(Continuação)
Comentário do autor.
As sessões da Camara que agora se vão sucedendo vão diminuindo de interesse. Pelos anos fora, os assuntos tratados são de somenos importância e até os vereadores, até aqui pontuais na assistência às sessões, faltam com frequência que desconsola. 
As sessões em que, depois de se dizer quais os vereadores que estavam presentes, se concluía logo com as palavras sacramentais, “ e por não haver que despachar na ditta Camara fiz este termo que todos assinarão”, são frequentíssimas, seguindo-se umas às outras com arreliadora monotonia. Era o espírito municipal que ia enfraquecendo? Pelo menos, se não era parecia-o. Em todo o caso de vez em quanto surgem deliberações que não deixam de ter interesse. 
Não são muitas; mas com paciência vão-se encontrando. Assim, saltando para o ano de 1700, encontramos na cessão de 2 de Janeiro (por sinal que na acta se lê “dois dias do mês de Janeiro de mil seiscentos noventa e nove annos”, em vez de Janeiro de mil e setecentos, esta interessante questão;
Acta de 1700.
tendo o dito juis de fora presidente das sizas mandado apregoar no lugar da Alcains para todas as pessoas que faziam pannos viessem oje a Camara desta villa para serem ouvidos e se assentar em Camara o que de cada pano se devia pagar de Siza a Sua Magestade que Deos guarde e sendo ali prezentes Domingos Vas Simoes, Manoel Vas Rato, Domingos Vas Rato e Diogo Mendes e Pinheiro e Manoel Vas Rato o moxo e João Cabeca panneiro do dito logar de Alcains sendo apregoado pello porteiro da Camara na praça desta villa se havia mais alguma pessoa do dito logar de Alcains que viesse requerer a esta Camara e por boa fe não havia mais pessoas alguma sendo os sobre ditos prezentes perante os officiais da Camara e sendo-lhes proposto este negocio por elles foi dito que costumavao pagar de Siza dos panos sete mil reis em cada um anno nodito logar e assim que não devião pagar mais que a dita quantia.
Comentário do autor. 
Observe-se que a ortografia do novo escrivão era bem melhor que a do antigo, que já tinha dado contas a Deus, mas que, tanto este como aquêle, a respeito de vírgulas era como se elas não existissem. Mas vamos andando. A Camara não se conformou com os dizeres dos paneiros de Alcains, alegando que essa quantia “era muito antiga e feita em tempo que no dito logar não havia mais que dous ou tres teares e depresente se achavão desassete ou desoito”, Como, porém, lhe parecesse que este argumento só por si não chagava para levar os paneiros recalcitrantes a abrir os cordões ás bolsas, foram acrescentando:
Acta de 1700.
…. e que outro sim a dita avença de sete mil reis anão pagavão só os panneiros mas todo o povo por andar tudo junto no cabeção das sizas alem deque ainda estes sete mil réis que do povo secobravão se não pagavão a Sua Magestade que Deos guarde mas ficavão na mão dos sizeiros tudo em grande prejuízo dos pobres e povo e portanto lhes ordenarão vissem em consiencia o que devião pagar”.
Comentário do autor.
Os paneiros, é claro, acham que a consciência o que lhes dizia era que não deviam pagar mais nada: não pagavam mais do que os sete mil réis, e isso mesmo já não era pouco. A Camara que se contentasse. Então a Camara fez-se forte e à valentona deliberou;
Acta de 1700.
… o que visto pellos ditos officiais da Camara avista de resolução e contumasia dos sobreditos tanto emprejuizo dos direitos reais e em tão grande vexação daquelle povo visto não quererem votar em preço conveniente e razoável acordarão as suas revelias se devia pagar de cada panno dous vinteis a Siza de Sua Magestade Deos guarde e desta maneira ouverão adita declaração e taixa por feita que assinarão com os ditos paneiros que não quizerão consentir nella.
Comentário do autor.
Não quiseram consentir; mas por fim, vendo que a coisa era séria, que a sua teimosia lhes poderia custar caro, sempre se foram conformando, fazendo apenas a seguinte declaração; “e declararão outro sim os sobreditos que devião ficar livres para sua casa hum pano de ramos para cada paneiro”. Com isto se conformaram os vereadores, e os paneiros lá ficaram a pagar dois vinténs por cada pano, o que era bem mais pesado do que a avença de sete mil reis. 
È interessante notar que os paneiros de Alcains que compareceram á sessão tinham todos, com excepção de um só, os apelidos de Vaz ou Rato, ou os dois apelidos juntos. Esta indústria de panos desapareceu de Alcains, como de todo ou quási de todo desapareceu a de chapéus, que ali chegou a ter certa importância. 
Ainda nesta sessão, tendo o Marquez das Minas, presidente da Junta da Administração dos Tabacos, “preguntado que porção de tabaco poderia gastar-se na comarca desta villa, eles, ”offciais da Camara em toda a ponderação e circunspecção que negócio de tanta importancia pede ”, resolveram informar.
Acta de 1700.
… que esta comarca poderia gastar em todo o anno vindo o tabaco a esta villa por todo o mês de Janeiro dous mil e quinhentos arrates asaber dous mil etresentos de simonte qualidade e duzentos de fino e sincoenta arrobas de tabaco de Rollo.
Comentário do autor. 
Devemos concordar que não era pouca a gente que por esses tempos fungava a sua pitada para se gastar tanta simonte. È que então se dizia que uma pitada a tempo servia para “espertar as mimorias”. Depois de assentarem na quantidade de simonte e de “tabaco de Rollo ” que por cá se poderia consumir, os “officiais da Camara” explicaram como o tabaco havia de chegar até estas paragens.
O meio mais fácil era; “vir de Lisboa emdireitura a Abrantes pelo Tejo e dali a esta Villa em cargas”. Se, porém fosse em tempo de inverno, então a coisa podia fazer-se por outra forma; “ a remessa dele em tempo de agoas cheias do Tejo podia vir até Vila velha de Rodão embarcado a qual fica distante desta Villa sinco léguas ”.
As léguas eram o seu tanto ou quanto compridas, mas vamos lá, eram cinco léguas e acabou-se. Para que o tabaco se vendesse melhor eram os vereadores de parecer que aos estanqueiros se haviam de conceder alguns privilégios e isenções.
Acta de 1700.
… aos quais tambem se encarregasse a vigilancia dos Tabacos de contrabandos para denunciarem as pessoas de que tivessem noticia os metem de Castella e de outras partes proibidas prometendo aos ditos estanqueiros e a quais quer ouitras pessoas que semelhantes denuncias fizerem serem muito premiados por Sua Magestade que Deos guarde devia ordenar ao governador das armas desta província tivesse sumo cuidade na entrada de Tabaco de Castella para este Reyno porquanta se sabe por experiencia que de Castella entra neste Reyno muyto tabaco conduzido pellos soldados e com o favor e ajuda dos ditos soldados.
Comentário do autor.
Punham o dedo na ferida. Os candongueiros eram os próprios soldados. Quando o não eram directamente, ajudavam os contrabandistas.
Muito tempo depois ainda se fazia disso, e o contrabando de tabaco e de outras mercadorias deu muito e bom dinheiro a muito boa gente que sabia falar ao ouvido dos soldados. Hoje, felizmente, os soldados encarregados da fiscalização, em regra são correctos.
(Continua)
O Albicastrense

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