quarta-feira, abril 04, 2012

EFEMÉRIDES MUNICIPAIS - LVIII


A rubrica Efemérides Municipais foi publicada entre Janeiro de 1936 e Março de 1937, no jornal “A Era Nova”. Transitou para o Jornal “A Beira Baixa” em Abril de 1937, e ali foi publicada até Dezembro de 1940. A mudança de um para outro jornal deu-se derivada à extinção do primeiro. António Rodrigues Cardoso, “ARC” foi o autor desde belíssimo trabalho de investigação, (Trabalho que lhe deve ter tirado o sono, muitas e muitas vezes).
O texto está escrito, tal como foi publicado.
Os comentários do autor estão aqui na sua totalidade.

(Continuação)
A sessão que se segui à de 25 de Janeiro de 1792 realizou-se em 12 de Fevereiro.
Estávamos à espera de ver aparecer nela o “Thesoureyro do Conselho” para prestar contas, mas ficamos logrados. O bom do homem apareceu, é certo; mas em vez de aparecer para dar contas, apareceu para dizer à Câmara que nem um vintém tinha para pagar às amas dos enjeitados e por isso, se lho não arranjassem sem demoras, “não podia continuar os pagamentos das mesmas creaçoens”.
A Câmara achou que o Sr. Manuel António de Carvalho (era esta a sua graça do tesoureiro) tinha carradas de razão e por isso lançou sobre os povos da “cidade e seu termo” mais uma sisa de 300.000 réis.
Não foi preciso muito tempo, como se verá, para que este dinheiro se acabasse, porque o número de enjeitados crescia de mês para mês que era mesmo uma pouca-vergonha e por isso mesmo as sisas eram quase o pão nosso de cada dia. Nesta mesma sessão houve reunião da Nobreza e Povo de Escalos de Baixo. Na acta consta o seguinte:

para effeito de responderem a dous Requerimentos de Joaquim Fernandes Mateiro do mesmo lugar de Escallos de Baixo que fez a Sua Magestade pelo Dezembargo do Paço em que pede Provizam para poder tapar hum pequeno bocado de Terra sua propria que tem no sitio da boraloza e vale das Colomeyas lemite do mesmo lugar o qual requerimento veyo a informar ao Doutor Corregedor desta Comarca que o deregio a esta Camara em Precatoria.
E o outro requerimento para poder meter huma serventia dentro em hum Quintal que tem no sitio de Nossa Senhora das Neves toãbem sua propria cujo requerimento veyo a informar ao Doutor Provedor desta Comarca que tãobem o deregio a esta Camara em Precatoria ambas para effeito de se ouvir o mesmo Nobreza e Povo que sendo presentes lhes forão lidos os referidos requerimentos nas mesmas Precatorias por formaque bem entenderão. E pelo respeito a tapada do bocado de Terra no citio das Colomeyas responderão que ellas convinhão no requerimento do Suplicante e que este era lavrador e havia nescessidade do tapume para sustento de seus Gados sem os quais não podia continuar a lavoura. E pelo que pertençe à serventia responderão, que suposto o pedasso que o Suplicante pertende tapar seja conselhio não causa prejuizo algum ao publico sendo certo que nem o Conselho nem o publico recebem dele utelidade alguma”.

E a seguir lá aparecem as assinaturas da Nobreza e Povo de Escalos de Baixo. São treze as assinaturas, das quais oito de cruz. Os cinco que assinam com o seu nome chamavam-se (respeitamos-lhes a ortografia): “Felipe Gomes Marujo, Manoel Esteves Barrozo, Joze Gonsalves Rosa, Agostinho João Fg. e Simam Gomes Lazaro”.
Em seguida a Câmara abundou nas mesmas ideias da Nobreza e Povo e disse que:

atentida a grande nescessidade que há de Tapumes e a grande utelidade que delles segue não só a cada um dos particulares que os pertenda tapar mas ao publico sendo este o unico meyo porque se podem conservar as lavouras que convinhão nos requerimentos dos Suplicantes”.

Andou com sorte o Sr. Joaquim Fernandes Mateiro. Não só obteve deferimento da sua pretensão quando ao tapume no que era exclusivamente seu, mas até consentiram que ele tapasse um pedaço de terreno concelhio.
Com certeza tinha lâmpada acesa na casa da Meca.
(Continua)
PS. Mais uma vez informe os leitores dos postes “Efemérides Municipais”, que o que acabou de ler é, uma transcrição fiel do que foi publicado na época.
O Albicastrense

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