História
- (II)
Como
qualquer outro povoado medieval, Castelo Branco começou por ter o
seu castelo, a sua alcáçova, uma igreja e uma cinta de muralhas que
protegiam o casario. Logo em 1230 há notícias da alcáçova
templária e de uma muralha com quatro portas; e cerca de cem anos
mais tarde, no tempo de D. Dinis, fala-se de um aumento do número de
portas, que passaram a ser sete, o que teria implicado o alargamento
do perímetro das muralhas. Com o crescimento da população,
surgiriam ainda mais três portas.
Já
nenhuma existe, só alguns espaços perpetuados na memória urbana e
alguns topónimos. Apesar de serem escassos os testemunhos,
ficaram-nos dois importantes desenhos de Duarte d'Armas, datando da
primeira metade do século XVI, inclusos no seu Livro das Fortalezas.
Duarte
d'Armas mostra-nos uma alcáçova com uma imponente torre de menagem
e um paço (o Palácio dos Comendadores), que aqui se apresenta como
uma reconstrução de traça quinhentista, com janelas maineladas e
uma "loggia", do primitivo paço templário); e uma cinta
de muralhas, com pano duplo junto aos terrenos da planície,
defendida por cinco torres, digna de qualquer arquitectura militar de
defesa fronteiriça.
No
séc. XIII, a vida em Castelo Branco desenrolava-se dentro das
muralhas, dominada por um castelo de uma ordem militar e à sombra de
uma alcáçova.
As
ruas estreitas formavam calçadas muito íngremes em direcção ao
topo do outeiro, existindo entre elas algumas zonas agrícolas
constituídas por hortas e olivais, como acontecia na maior das urbes
intramuros. Entretanto, logo nos finais da Idade Média, com o
aumento demográfico e o aparecimento de uma burguesia enriquecida, a
vila vai crescer para fora dos muros, surgindo uma nova área urbana
em redor da Igreja de S. Miguel (construída a nordeste da muralha)
que dá origem à segunda freguesia de Castelo Branco (a primeira era
a de Santa Maria, correspondendo à igreja do mesmo nome, que existia
no recinto do castelo).
Acompanhado
este desenvolvimento, o centro cívico, político e económico vai-se
alterando e descendo a encosta: do adro da Igreja de Santa Maria,
onde se juntavam os homens-bons, passa para a Rua Nova e de seguida
desce, a partir dos finais do séc. XV, para a Praça Velha, ainda
dentro das muralhas, mas perto do vale. Nesta Praça Velha, além da
Domus Municipalis, do celeiro da Ordem de Cristo (recordemos que, com
a extinção da Ordem do Templo, foi a de Cristo que herdou os seus
bens) e do pelourinho, existiu uma área reservada para o mercado.
O
tecido urbano medieval e quinhentista pouco se alterou, o que permite
fazer uma leitura planimétrica muito aproximada da primitiva: as
ruas continuam estreitas, dispostas do lado este da colina,
perpendicular e paralelamente à antiga alcáçova; mais junto do
vale acompanham as variações do terreno. O casario continua
compacto, sendo a Praça Velha o único largo existente. As hortas e
os quintais, cultivados pela população actual, continuam
produtivos. No séc. XVI começaram a surgir construções nos
arrabaldes da vila, correspondendo às novas exigências da vida e à
necessidade de fixar uma população que não parava de crescer.
É
disto exemplo o Chafariz de S. Marcos, obra quinhentista que ajudou a
solucionar o problema do abastecimento de água a um pequeno núcleo
populacional. E noutros núcleos (bolsas distribuídas de nordeste a
sudoeste, acompanhado o plano da muralha medieval) foram aparecendo,
com a racionalização do aproveitamento das nascentes e dos poços
ou impulsionados pela construção de alguns edifícios religiosos
(Convento de Santo António dos Capuchos, Igreja de Nossa Senhora da
Piedade e Igreja do Espírito Santo). Também nos finais de
quinhentos, o bispo da Guarda, D. Nuno de Noronha, escolhe Castelo
Branco para edificar um paço episcopal, destinado a morada de
Inverno dos prelados.
Este
paço (totalmente remodelado e enriquecido com os seus jardins e
quinta ajardinada, por volta de 1711, pela mão de D. João de
Mendonça), que encostará a norte da muralha medieval, condicionou o
crescimento da cidade, mantendo-se até ao nosso século como uma
fronteira do perímetro urbano.
Pouco
a pouco as casas foram engolindo as antigas muralhas e uma grande
parte da povoação estendia-se pelo campo. Construíram-se ou
reconstruíram-se novos conventos, igrejas palácios, dando uma
consistência urbana aos arrabaldes, que passaram, em finais do séc.
XVIII, a ser conhecidos pelos nomes de Fonte Nova, Oleiros, Cidade e
S. Sebastião. Este surto de construções das quais se destacam o
restauro da Igreja de S. Miguel (que em 1771, com a criação do
bispado de Castelo Branco, passou a ser Sé Catedral) e a edificação
do solar dos Viscondes de Portalegre e do Palácio dos Visconde de
Oleiros penalizou a parte antiga que, apesar de tudo, acabou por ser
salvo de intervenções pontuais, casos a própria altimetria.
(Continua)
In:
Ana Cristina Leite: Guia das Cidades Históricas de Portugal -
Expresso
O
Albicastrense
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