segunda-feira, agosto 11, 2014

A HISTÓRIA DA TERRA ALBICASTRENS

História - (I)
«São mais as conjunturas do que as certezas sobre a forma como nasceu Castelo Branco. Vestígios exumados provam que houve ali um povoado romano de algum relevo. (...) No entanto, durante os séculos dos bárbaros e o tempo dos mouros, toda a região caiu em mortório, terra de fronteira exposta às violências de todos. 
No tempo de D. Sancho I chamava-se Cardosa à terra coberta de ruínas e matagais onde depois se veio a construir Castelo Branco. Em 1214, o Rei de Portugal, D. Afonso II, doou à Ordem do Templo a parte que tinha aquelas terras. No ano seguinte, o Papa Inocêncio III confirma a régia doação, e diz que "os templários tinham fundado, na fronteira dos mouros, uma vila e fortaleza, no sítio da Cardosa, a que eles deram o nome de Castelo Branco".
Este último texto é uma das amargas obrigatórias de todos os historiadores da cidade: quem a fundou foram os templários, o nome antigo era Cardosa mas os Cavaleiros mudaram esse nome para Castelo Branco.
E porquê essa mudança? A explicação que se costuma dar é que existia também uma povoação romana de nome Castraleuca, que significava Castelo Branco em português. Os Templários teriam julgado que Castraleuca era ali e adoptaram o nome mais antigo. Mas como podemos pensar hoje o que os Templários julgaram? O mais simples é ficar por aqui: numa brecha com pedregais que eram sepulcros de terras mortas, os cavaleiros do Templo construíram no Séc. XII um castelo e uma vila.
O solo ali não é generoso. Planuras áridas, bosques e granitos frios e calmas nas épocas estivais. Espaços agrícolas abundantes, decerto, mas de pouco valem solos sem braços, e a autoridade pesada dos templários não era chamariz para a fixação dos homens livres que, por essa época, buscavam nas terras recém-conquistadas um espaço de sobrevivência e liberdade. Por isso, e em termos gerais, as terras entregues às ordens militares desenvolveram-se menos que as regiões entregues às comunidades dos vizinhos, depressa organizadas em concelhos.
Um bom exemplo da brutalidade templária é a chacina dos homens do concelho da Covilhã pelos templários de Castelo Branco. Os templários seriam severamente punidos pelo Rei, mas continuamos a ignorar que razões teriam eles contra os seus vizinhos da serra. A hipótese mais provável é a de que arrogassem eles, os templários, a autoridade exclusiva sobre toda a terra entre a Gardunha e o Tejo, e impedissem portanto os da Covilhã de passar com os seus rebanhos para as pastagens do Alentejo.
Nos séc. XIV e XV não são de grande monta os progressos de Castelo Branco. Mas no século XVI assistimos à fundação da Misericórdia, à construção dos conventos dos frades Agostinhos (1526), dos Capuchos (1562) e da grande Igreja de S. Miguel, que tem agora o papel de Sé. Para os fins da centúria, um bispo da Guarda, D. Nuno de Noronha, edifica um palácio rodeado de jardins, que é presentemente um dos mais belos monumentos da cidade e está a ser utilizado como sede de museu. Esse enorme volume de construção implicou uma base económica sólida, que poderá estar relacionada com a actividade comercial de uma comuna judaica. Por isso, em Castelo Branco como em vários lugares da Beira, o século seguinte é de marasmo e penúria. A expulsão dos judeus deixou um vácuo que demorou muito tempo a preencher. O facto decisivo para afirmar a primazia de Castelo Branco sobre a vasta região entre a Serra da Estrela e o curso do rio Tejo foi a criação da diocese de Castelo Branco, em 1771, pelo Marquês de Pombal. O trono episcopal trazia consigo a categoria de cidade, e foi essa dignidade que colocou a terra na posição importante de capital de distrito depois das reformas administrativas do liberalismo. A sede diocesana foi extinta em 1881, mas nessa altura já a cidade efectivara na função, que ainda hoje exerce, de capital da Beira Baixa.
In: José Hermano Saraiva/Expresso
O Albicastrense

Sem comentários:

Enviar um comentário

TESTEMUNHOS SOBRE TOMÁS MENDES DA SILVA PINTO

MEMÓRIAS DA TERRA ALBICASTRENSE Em resposta ao meu apelo para que quem soubesse algo sobre Tomás Mandes da Silva Pinto, recebi os testemunho...