segunda-feira, agosto 18, 2014

A HISTÓRIA DA TERRA ALBICASTRENS - III


História - (III)
(Continuação)
Estas resultaram na reforma de igrejas (Igreja de Santa Isabel, onde funcionou a Misericórdia), de palácios (Solares dos Caldeiras dos Cardosos) e de algumas habitações, em nada alterando a malha urbana preexistente e respeitando nalguns
Numa representação litográfica de Castelo Branco de meados do século XIX, algumas das construções mais significativas do século anterior como o Paço Episcopal, o Convento de Santo António dos Capuchos, o Solar dos Viscondes de Oleiros e o Solar dos Condes de Portalegre aparecem ainda isoladas.
Apesar dos quatro arrabaldes mencionados, a área construída era reduzida, continuando a existir muitas bolsas por urbanizar, algumas junto do antigo casco, mas mais persistentes à medida que nos afastamos do centro cívico, que permanecia na Praça Velha. O campo continuava a chegar-se e a entrar na cidade. De facto, no início do séc. XIX, o marasmo instala-se em termos de evolução urbana, para o qual muito contribuiu a acção nociva das tropas de Junot, que durante as invasões francesas se instalaram no burgo semeando fome e destruição. É também por esta época que entram em decadência a zona do castelo, a alcáçova e a generalidade do casco antigo.
Os particulares começaram a retirar pedras do paço para com elas levantarem os seus muros e erguerem habitações; chegou mesmo a vender-se pedra, madeira e telhas do castelo; e em 1815 a Câmara mandou destruir os arcos das portas da muralha, reaproveitando a silharia em obras públicas. Finalmente, à destruição humana vieram juntar-se estragos causados por uma enorme tempestade que assolou a região, provocando o desabamento da última torre da muralha.
Estes nefastos acontecimentos - com o consequente desaparecimento da delimitação física de uma zona da cidade e de uma fáceis medieval que havia teimado em manter-se - acabariam por favorecer o desenvolvimento e o crescimento urbano no fim do séc. XIX, entrando-se no ciclo da modernidade. Os arrabaldes começaram a ficar ligados por arruamentos, entre si e também à cidade antiga. Destes, os mais densamente urbanizados localizavam-se em redor do Cruzeiro de S. João (uma construção quinhentista), do Poço do Concelho, do Chafariz de S. Marcos e junto da Sé, onde a Câmara veio a instalar-se. Surgem, entretanto, novas vias de comunicação e algumas construções de utilidade pública que vão favorecer o desenvolvimento: a abertura da estrada entre Castelo Branco e Abrantes, o telégrafo entre as duas cidades, as malas de correio passam a chegar diariamente à urbe, a inauguração da iluminação pública em 1860, o funcionamento do caminho-de-ferro a partir de 1891.
Uma agência do Banco de Portugal, instalada em casa edificada para o efeito, começa a laborar em 1892. E as grandes famílias da cidade, correspondendo a uma burguesia fluorescente, constituída essencialmente por liberais que ascenderam ao poder, tomam conta de alguns chãos devolutos, ou de antigos edifícios em ruínas, e erguem os seus palácios, exemplares arquitectónicos cenográficos e imponentes: o Palácio Cunha ou Mota, da Praça Velha, o Palácio Tavares Proença e Abrunhosa, o Palácio Garret e o Palácio Abreu Lima, na Rua de S. Sebastião, artéria que contornava a parte mais baixa, já na zona do vale, do antigo perímetro da muralha.
Só no início do séc. XX a cidade começa a adquirir a sua fácies moderna. Uma vez mais, o centro cívico é deslocado, com a mudança dos Paços do concelho para o antigo Palácio dos Viscondes de Oleiros, situado num arrabalde designado Terreiro da Devesa e que passou a ser chamado Campo da Pátria. A este largo, autêntico rossio da cidade, vem desembocar a Avenida dos Combatentes da Grande Guerra, aberta nos anos 30, que põe em comunicação o centro da urbe com o apeadeiro dos caminhos-de-ferro (construído já fora dos limites da cidade, hoje completamente engolido pelos novos bairros).
Nesta avenida, a actual Nuno Álvares, no Campo da Pátria, está concentrado o maior número de edificações públicas de que a cidade carecia, erguidas nos anos 30 e 40: o quartel dos bombeiros, o antigo Liceu Nuno Álvares, o mercado municipal, a Caixa Geral de Depósitos, o Cine-Teatro Avenida (... em fase de reconstrução) e o Palácio da Justiça, além de inúmeras vivendas e casas de habitação.
Esta é a Castelo Branco do estado novo. Hoje, a cidade ocupa todo o vale, a nordeste, este, sul e sudoeste do antigo outeiro da Cardosa, com seus bairros residenciais, e uma zona industrial na periferia. Fica-nos a imagem de duas cidades, distintas na história e no viver, uma presa ao passado mais remoto, medieval, de origem incerta, outra moderna e aberta ao futuro.
In: Ana Cristina Leite: Guia das Cidades Históricas de Portugal - Expresso
O Albicastrense

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