História
- (III)
(Continuação)
Estas
resultaram na reforma de igrejas (Igreja de Santa Isabel, onde
funcionou a Misericórdia), de palácios (Solares dos Caldeiras dos
Cardosos) e de algumas habitações, em nada alterando a malha urbana
preexistente e respeitando nalguns
Numa
representação litográfica de Castelo Branco de meados do século
XIX, algumas das construções mais significativas do século
anterior como o Paço Episcopal, o Convento de Santo António dos
Capuchos, o Solar dos Viscondes de Oleiros e o Solar dos Condes de
Portalegre aparecem ainda isoladas.
Apesar
dos quatro arrabaldes mencionados, a área construída era reduzida,
continuando a existir muitas bolsas por urbanizar, algumas junto do
antigo casco, mas mais persistentes à medida que nos afastamos do
centro cívico, que permanecia na Praça Velha. O campo continuava a
chegar-se e a entrar na cidade. De facto, no início do séc. XIX, o
marasmo instala-se em termos de evolução urbana, para o qual muito
contribuiu a acção nociva das tropas de Junot, que durante as
invasões francesas se instalaram no burgo semeando fome e
destruição. É também por esta época que entram em decadência a
zona do castelo, a alcáçova e a generalidade do casco antigo.
Os
particulares começaram a retirar pedras do paço para com elas
levantarem os seus muros e erguerem habitações; chegou mesmo a
vender-se pedra, madeira e telhas do castelo; e em 1815 a Câmara
mandou destruir os arcos das portas da muralha, reaproveitando a
silharia em obras públicas. Finalmente, à destruição humana
vieram juntar-se estragos causados por uma enorme tempestade que
assolou a região, provocando o desabamento da última torre da
muralha.
Estes
nefastos acontecimentos - com o consequente desaparecimento da
delimitação física de uma zona da cidade e de uma fáceis medieval
que havia teimado em manter-se - acabariam por favorecer o
desenvolvimento e o crescimento urbano no fim do séc. XIX,
entrando-se no ciclo da modernidade. Os arrabaldes começaram a ficar
ligados por arruamentos, entre si e também à cidade antiga. Destes,
os mais densamente urbanizados localizavam-se em redor do Cruzeiro de
S. João (uma construção quinhentista), do Poço do Concelho, do
Chafariz de S. Marcos e junto da Sé, onde a Câmara veio a
instalar-se. Surgem, entretanto, novas vias de comunicação e
algumas construções de utilidade pública que vão favorecer o
desenvolvimento: a abertura da estrada entre Castelo Branco e
Abrantes, o telégrafo entre as duas cidades, as malas de correio
passam a chegar diariamente à urbe, a inauguração da iluminação
pública em 1860, o funcionamento do caminho-de-ferro a partir de
1891.
Uma
agência do Banco de Portugal, instalada em casa edificada para o
efeito, começa a laborar em 1892. E as grandes famílias da cidade,
correspondendo a uma burguesia fluorescente, constituída
essencialmente por liberais que ascenderam ao poder, tomam conta de
alguns chãos devolutos, ou de antigos edifícios em ruínas, e
erguem os seus palácios, exemplares arquitectónicos cenográficos e
imponentes: o Palácio Cunha ou Mota, da Praça Velha, o Palácio
Tavares Proença e Abrunhosa, o Palácio Garret e o Palácio Abreu
Lima, na Rua de S. Sebastião, artéria que contornava a parte mais
baixa, já na zona do vale, do antigo perímetro da muralha.
Só
no início do séc. XX a cidade começa a adquirir a sua fácies
moderna. Uma vez mais, o centro cívico é deslocado, com a mudança
dos Paços do concelho para o antigo Palácio dos Viscondes de
Oleiros, situado num arrabalde designado Terreiro da Devesa e que
passou a ser chamado Campo da Pátria. A este largo, autêntico
rossio da cidade, vem desembocar a Avenida dos Combatentes da Grande
Guerra, aberta nos anos 30, que põe em comunicação o centro da
urbe com o apeadeiro dos caminhos-de-ferro (construído já fora dos
limites da cidade, hoje completamente engolido pelos novos bairros).
Nesta
avenida, a actual Nuno Álvares, no Campo da Pátria, está
concentrado o maior número de edificações públicas de que a
cidade carecia, erguidas nos anos 30 e 40: o quartel dos bombeiros, o
antigo Liceu Nuno Álvares, o mercado municipal, a Caixa Geral de
Depósitos, o Cine-Teatro Avenida (... em fase de reconstrução) e o
Palácio da Justiça, além de inúmeras vivendas e casas de
habitação.
Esta
é a Castelo Branco do estado novo. Hoje, a cidade ocupa todo o vale,
a nordeste, este, sul e sudoeste do antigo outeiro da Cardosa, com
seus bairros residenciais, e uma zona industrial na periferia.
Fica-nos a imagem de duas cidades, distintas na história e no viver,
uma presa ao passado mais remoto, medieval, de origem incerta, outra
moderna e aberta ao futuro.
In:
Ana Cristina Leite: Guia das Cidades Históricas de Portugal -
Expresso
O
Albicastrense
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