Embora já tenha publicado em 2009 a história desta igreja, vou fazê-lo de novo, pois a tristeza em que ela se encontra assim o exige. Como o texto é um pouco longo,  vou fazê-lo em cinco publicações. 
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(Continuação)
III - No dia 18 de Abril de 1631 foi lavrado um
auto do qual consta que estando o Provedor Simão da Silva Almeida e mais irmãos
da Mesa e a maior parte da Irmandade junta para irem ao Enterro do Nosso Senhor
Jesus Cristo, por ser em Sexta-feira da Paixão, como era costume na vila,
deliberaram dar inteiro cumprimento ao que Sua Majestade dispôs em sua Provisão
de 10 de Agosto de 1630, na forma seguinte.
“Que para o recebimento e aprovação dos irmãos que ande ser admitidos se
ponham dois vasos no meio da Igreja e se dê a cada irmão uma fava e um grão. E
as favas aprovarão e os grãos reprovarão. E o irmão que for votar lançará no
vaso que estiver despachado para a eleição do Irmão o que lhe parecer. E o que
lhe ficar na mão lançará no outro vaso, para que desta sorte se não dê
satisfação a subornos se os houver e cada um possa votar livremente como lhe
parecer em sua consciência.
E depois, o Provedor e Irmãos da Mesa aprovarão o que acharem no vaso
reputado para a eleição de tal Irmão e achando mais favas que grãos ficará o
Irmão admitido. E achando pelo contrário, mais grãos que favas ficará excluso.
 A Confraria da
Misericórdia jamais se eximiu ao rigoroso cumprimento dos preceitos, do
compromisso, concernentes á realização de varias cerimonias religiosas. Era
costume efetuar-se, no dia 2 de Junho, a festa da Visitação de Santa Isabel,
Padroeira da Misericórdia; em 12 de Novembro celebrava-se um ofício de nove
lições por alma dos Irmãos falecidos e, em quinta-feira de Endoenças, a
procissão dos penitentes ou dos fogaréus. O compromisso de 1663 descreveu
pormenorizadamente a organização desta procissão. São deste estatuto os
seguintes trechos:
A qual operação se fará diante de toda a
Irmandade. E nenhum Irmão será admitido senão no dia de Santa Isabel e
Sexta-feira de Endoenças. E antes de se assinar o termo da aceitação e
juramento, habilitará em Mesa sua pessoa. E que todo o Irmão que faltar à
procissão das Endoenças, enterro do Senhor ou de qualquer Irmão que falecer,
não tendo licita causa, pague dois arráteis de cera. E não se cobrando o
Provedor, ele próprio pagará da sua casa. Depois se fez este termo que todos
assinam”.
Da leitura dos documentos transcritos pode inferir-se que nas
eleições realizadas em Portugal alguns séculos antes da instituição do
parlamentarismo já havia mistificações semelhantes ás que originaram o
descredito daquele sistema político.
“Irão
alguns fogaréus por uma parte e outra de toda o procissão e com eles irá todo o
aparelho que for necessário para continuarem com luz todo o tempo. E os Irmãos
que vão governando terão cuidado de os ir dispondo em espaço conveniente e de
os mandar prover quando lhes for necessário".
“Nenhum Irmão levará consigo
pagem ou criado, de maneira que fique dentro na procissão, pela indecência que
nisso há e a desordem que pode causar".
“A procissão sairá da
Misericórdia direita à Praça, Rua do Relógio, à Igreja de S. Miguel o Anjo,
dali à Nossa Senhora da Graça, dai pela Corredoura à Rua dos Ferreiros até à
Praça, toda a Rua de Santa Maria, Rua das Cabeças, tomando o Arressário até à
Igreja de Santa Maria do Castelo, donde voltará pela Rua de Ega, até se meter
na Misericórdia, visitando com oração o Santíssimo Sacramento nestas Igrejas e
nas demais que ficarem no caminho por onde passar de maneira que mova a devoção
a todos os que acompanharem e se acharem presentes”.
A procissão efectuava-se com
grande luzimento, seguindo o itinerário estabelecido. Durante os sermões da
Semana Santa era costume expor na Igreja o Santo Sudário a que se refere o
seguinte documento: “Miguel
Achioly da Fonseca Castelo Branco, professor da Ordem de Christus, do
desembargo de El-Rei Nosso Senhor e Provedor dos Resíduos e Cativos nesta corte
de Lisboa e seus termos, etc..."
"Certifico que o
Sr. Luís de Sousa Brandão, Provedor da Santa Casa de Misericórdia da Vila de
Castelo Branco, por via do Sr. Marcos Gil Frazão e dos irmãos da Mesa, deste
presente ano, encomendaram se fizesse para a Santa Casa o Santo Sudário e
indo-se desta cidade o Sr. Marcos Gil Frazão, irmão actual dos 12 da Mesa, me
deixou encarregado fizesse e continuasse esta obra de piedade: o que fiz e por
assistir à devoção da dita Irmandade e a servir, como devo, como irmão infinito
dela, pedi ao Dr. João... (ilegível), Prior da Paróquia Igreja
de S. Tomé desta cidade de Lisboa me quisesse fazer mercê (por ser muito afecto e devoto
das ditas Religiosas) de me tocar e medir este Santo Sudário com o
milagroso (ou verdadeiro) que esta no dito mosteiro da Madre de Deus desta cidade, e em que os moradores dela
tem a devoção que a todos é notória, e ele, Padre Prior, mandou vir o Santo
Sudário ao Convento da Madre de Deus e mo tornou a remeter, dizendo-me que não
somente se tocara naquele Santo e verdadeiro do dito Convento mas que por uma
noite inteira esteve junto e embrulhado com ele com muitas orações e lagrimas
das Santas e Veneráveis Religiosas do dito Convento, que o mesmo aconteceu já
com o Santo Sudário que esta na cidade de Turim, corte dos Duques de Saboia e
Príncipes de Piemonte com o que nele mandou tocara Cristianíssima Infanta de
Portugal, história bem sabida: que sendo o verdadeiro Santo Sudário o que
estava na cidade de Turim, saíram ambos em tal forma (por milagre) que hoje não e sabe qual o
primeiro e verdadeiro, se o que ficou e Turim se o que esta no mosteiro da
Madre de Deus desta cidade de Lisboa". (Continua). 
Recolha de dados: “Castelo Branco na História e na Arte” de Manuel Tavares dos Santos 
O ALBICASTRENSE
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