"PATRIMÓNIO DA TERRA ALBICASTRENSE"
O texto sobre o bordado de Castelo Branco que vão ler a seguir é, da autoria de José Zêzere Barradas.
"Sobre
os Bordados de Castelo Branco"
Este
texto serviu de base a um trabalho desenvolvido por um grupo de
alunos de um curso na UBI (Covilhã). Não recordamos o dia em que
apresentamos o trabalho, nem tão pouco nos lembramos do nome de
todos os colegas do grupo pois estávamos no ano 2000 ou 2001, já lá
vão uns aninhos.


A
pesquisa documental efectuada por esta colega esteve em minha posse
até hoje, e foi a partir dela que desenvolvi este artigo alusivo aos
Bordados de Castelo Branco. Fica então em referência que este
artigo tem também o cunho desta colega, e só foi possível de
desenvolver devido às pesquisas efectuadas pelos autores cuja
referência se encontra no fim deste artigo.
Todos
sabemos que muitos autores escreveram sobre esta arte de bordar,
inclusivamente existe o site da Câmara Municipal de Castelo Branco
com o historial do Bordado de Castelo Branco muito bem desenvolvido,
no entanto pensamos que nunca é demais acrescentar mais alguns
“pontos” sobre este tipo de bordado artesanal.

Ainda
segundo Antunes, os bordados de Castelo Branco, bem como as
tapeçarias de Arraiolos são dos mais curiosos produtos de arte
popular em Portugal.
É difícil de dizer a data exacta do surgimento
deste bordado, e quais as suas características originais. A falta de
informação existente sobre estas peças de bordado, sobretudo de
documentação escrita, não permite estabelecer uma data precisa
para o seu aparecimento, mas pode-se, no entanto, afirmar que no Séc.
XVII este bordado estava já bastante difundido.

Assim,
para este autor, temos as colchas populares ou rústicas, e as
colchas eruditas entre as quais existem diferenças fundamentais:
As
colchas populares ou rusticas eram feitas pelas mulheres do povo,
geralmente as mulheres do meio rural.
As
colchas eruditas eram provenientes dos meios familiares, das casas
solarengas, ou provenientes do meio conventual.
Fundamentalmente
as colchas de Castelo Branco, as mais populares, tinham um destino
curto, eram usadas no dia do noivado na cama dos noivos (…), eram
as colchas de noivar se devem considerar por isso (Chaves, 1974:17).

Quanto
às colchas eruditas, estas foram inspiradas em colchas vindas do
oriente (India e China), podendo ser classificadas como obras-primas
da arte do bordado.
As
colchas de Castelo Branco sejam elas populares ou eruditas são
bordadas a seda frouxa ou seda distorcida, sobre linho caseiro,
estreito e tecido em teares manuais bastante primitivos. O desenho
traçado no papel era picado e passado para o linho com o auxílio de
uma boneca de pano embebida em pó de sapato, sendo em seguida fixado
o desenho com uma tinta indelével de cor acastanhada, a qual era
obtida através de uma infusão de casca de noz verde.

Existem também as colchas
policromáticas em que são empregues quatro cores: O azul, o rosa
vivo, o amarelo, o castanho. Todas estas cores aparecem em diversos
tons, mas o castanho raramente aparece.
Para
obter as cores, as meadas de seda, cuja indústria caseira esteve
também muito difundida na região de Castelo Branco durante os Séc.
XVII e XVIII, eram tingidas, sendo utilizadas para o efeito folhas e
raízes de determinadas plantas, e também alguns minerais.

No
que respeita à composição dos desenhos, estes são muito variados.
Os desenhos são inspirados na flora e na fauna, não só da região
como também do oriente como é o caso do papagaio, o qual surge em
muitas telas.

Temos o
exemplo da águia bicéfala a qual surge bastante apenas nas colchas
eruditas. Outro motivo que surge com frequência e que tem um grande
efeito decorativo é a albarrada, termo de origem árabe que designa
um vaso com duas asas. Dessa albarrada saem sempre hastes floridas.
O
cravo, é também muito utilizado, bem como a flor-de-lis. De reparar
que nas colchas eruditas ou populares é muito frequente aparecer um
par de noivos ao lado de uma haste florida.

A
última operação consistia na aplicação da franja de uma só cor
ou com fragmentos de seda das diversificadas cores empregues na sua
confecção. Para além das colchas também eram bordadas almofadas,
entre-camas e artigos religiosos, havendo alguns exemplares na Sé de
Castelo Branco, e no museu Machado de Castro, em Coimbra.

Refere Pinto (1972:308) que tanto a preservação como o
renascer do bordado de Castelo Branco foi um testemunho da capacidade
e criatividade dos antepassados no que diz respeito à expressão
artística da contemporaneidade.
Nesta
perspetiva foram criadas em 1941, em Castelo Branco, duas escolas de
bordados de Castelo Branco com o objetivo de recuperar e dinamizar a
tradição do bordado de seda. Se retrocedermos a 1976 encontramos o
Decreto 805/76, de 8 de Novembro.
Este decreto cria no Museu de
Francisco Tavares Proença Júnior, depois de extinta a Mocidade
Portuguesa Feminina, uma oficina-escola de bordados regionais. As
peças que foram produzidas nesta oficina-escola estavam de acordo
com os desenhos que faziam parte das peças originais, mas outros
formatos foram adaptados. Os desenhos adaptados, com formatos mais
pequenos, eram também mais acessíveis em termos de preço, e iam ao
encontro de uma decoração mais actualizada (à época), tendo os
painéis substituído, em parte, as colchas as quais eram produzidas
mais por encomenda. E aqui fica mais uma achega acerca desta
maravilhosa arte.
Bibliografia
Antunes,
Maria Júlia; Cardoso, J. Ribeiro; Chaves, Luís; Moura, Maria
Clementina. Artesãos da Região Centro. Coimbra, IEFP; Marcelo,
M. Lopes. Beira Baixa. Lisboa: Editorial presença; Pinto, Clara Vaz.
O Bordado e as Colchas de Castelo Branco. Lisboa, Ministério da
Educação e Cultura.
José Zêzere Barradas
O Albicastrense
Boa tarde
ResponderEliminarPor acaso não sabe onde posso vender uma que recebemos de herança e se encontra excelente estado.
Sei que as colchas valem muito mas nao consigo perceber onde se podem vender. Aprendi bastante sobre elas. Mas infelizmente necesditamos vender.
Grata pela atenção.
Helena Silva
Helena.
ResponderEliminarVender uma colcha antiga nos dias de hoje não é nada fácil.
Quando ao valor da colcha, recomendo-lhe que procure alguém com conhecimentos sobre o bordado de Castelo Branco para não ser enganada.
Contudo, deixe que lhe diga o seguinte: As colchas antigas de Castelo Branco, nem sempre valem aquilo que as pessoas pensão, pois temos que ter em atenção, o estado da colcha, se é (em termos simples) popular ou rica e ainda, a idade da colcha.
Se morasse em Castelo Branco, recomendava-lhe que passasse pelo museu Francisco Tavares Proença e falasse com determinada pessoa, como não sei onde mora apenas posso dizer-lhe que procure um antiquário que normalmente costumam comprar colchas antigas para depois as venderem.
Boa tarde
ResponderEliminarObrigado pela sua informação. Moro em Lisboa. Ja enviei um email ao museu mas como nao sabia a quem dirigir enviei para o geral e ainda não obtive resposta. Os antiquários em Lisboa atribuem valores muito diferentes e quase insignificantes. A colcha esta em muito bom estado e e linda. Grata mais uma vez.
Helena Silva