domingo, novembro 22, 2015

MORREU MÁRIO CABARRÃO

Morreu ontem com 96 anos Mário Cabarrão. O Mário era igualmente conhecido pelos albicastrenses mais velhos, como Mário Troço.
Este albicastrense que conheceu muito bem Mário Cabarrão, não podia deixar de aqui mencionar este triste acontecimento e, afirmar que a terra albicastrense está hoje mais pobre com a partida deste velho homem. Em sua homenagem, aqui fica uma reportagem publicada pelo jornal Expresso, (deu várias) e algumas imagens captadas por mim na sua barbearia em 2013.

JORNAL EXPRESSO 2010.
“Barbeiro há 80 anos gostava de cortar o cabelo a Cavaco Silva”.
RECONQUISTA- JOÃO CARREGA
"Mário Cabarrão é, aos 91 anos, o barbeiro mais antigo da cidade de Castelo Branco e um dos mais experientes do país".

Chegámos à hora marcada e Mário Cabarrão, 91 anos, atendia mais um cliente naquela que é a barbearia mais antiga da cidade de Castelo Branco.
"Sou barbeiro há mais de 80 anos", diz, enquanto avisa o senhor a quem corta e apara o cabelo. - "Aqui já moram poucos", diz. - "Pois, é que toda a vida usei chapéu. Se calhar foi por isso que me caíram", responde o homem, dos seus setenta anos, enquanto aguarda pelo OK do mestre Mário para se levantar da cadeira. - "Está como novo, meu amigo!", concluiu, para depois puxar por um cigarrito, o segundo ou o terceiro do dia.
"Há que fumar uma cigarrada para abrir o apetite à verdade", justifica.
No número 3 da Praça de D. José, junto ao Banco de Portugal, Mário Amaro Cabarrão, mantém a boa disposição, e continua fiel a um atendimento personalizado e educado.
A arte aprendeu-a aos 10 anos de idade, com os mestres Manuel Pires Correia, Antero Correia e José Pires Correia.
"O meu pai levou-me lá e disse: se me entregarem a pele fico contente", recorda, para depois explicar: "nesse tempo havia muito respeito e não havia lugar a faltas de educação. Éramos tratados como homens, agora é tudo uma garotada".
O que é certo é que esse dia terá mudado o resto da vida de Mário Amaro Cabarrão. Permaneceu com os mestres até ir cumprir o serviço militar e, em 1940, quando regressou optou por criar o seu próprio negócio, que ainda hoje mantém.
"Pedi emprestados, ao Banco de Portugal, três mil escudos. Uma fortuna, na altura, mas que paguei religiosamente. 
Estabeleci-me por conta própria e aqui estou", lembra. A primeira barbearia abriu-a na Rua J. A. Morão, mas depois mudou-se para o local onde hoje se encontra.
"Já cortei o cabelo a milhares de pessoas. Hoje os clientes são menos, mas continua a vir gente de todas as idades", diz.
Mário Amaro Cabarrão gosta de seriedade e educação nos negócios e na vida. "Há indivíduos que chegam aqui cortam o cabelo e dizem que vão buscar a carteira ao carro. Nunca mais os vejo. Isso é estarem a brincar com o trabalho dos outros", sublinha.
No entender de Mário Amaro Cabarrão, "é do trabalho que sai tudo. Eu, com 91 anos, tenho que continuar a trabalhar, porque a reforma que tenho vai toda para os medicamentos".
Ainda no Estado Novo, o mestre Mário Cabarrão quis começar a descontar para a Segurança Social da época, mas não deixaram.
"Só depois com o Marcelo Caetano isso foi possível. Daí que a reforma seja curta", refere.
As barbearias são locais ímpares para se conversar de tudo e mais alguma coisa. Mas Mário Cabarrão explica que "antes do 25 de Abril a boquinha tinha que estar bem calada. Nessa altura não podíamos trabalhar as horas que queríamos. Eu tinha duas filhas para criar e precisava de trabalhar mais horas para lhes dar uma vida condigna. Cheguei a ter perseguições!".
Com a queda do regime veio essa liberdade e também a possibilidade de se falar abertamente de tudo e mais alguma coisa, sobretudo de futebol.
O aparecimento de doenças como a SIDA não mudaram o modo de trabalhar de Mário Amaro Cabarrão.
"Há clientes que optam pelas lâminas, outros que preferem a navalha. Mas há um remédio que não falha e não há males que aqui entrem. Passo sempre as navalhas pela lixívia e pelo álcool. A receita foi-me dada pelo médico Elias Cravo, um bom homem que foi meu cliente", justifica. A barbearia continua com a mesma traça original. 
Tal como os seus mestres Mário Amaro Cabarrão também ensinou a arte a muitos aprendizes. Hoje, aos 91 anos, gostava de cumprir o desejo de poder cortar o cabelo ao Presidente da República, Cavaco Silva.
"Sou amigo dele. Já o cumprimentei três ou quatro vezes e quando venceu as eleições envie-lhe uma carta a felicitá-lo por ter ganho a quatro lobos. Ele respondeu-me a agradecer. É um grande homem!", concluiu. 
 O Albicastrense

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