Álvaro Reis, morador em Niza fora preso por demanda de
Brás Afonso Correia, ouvidor do Mestrado de Cristo, por dizer contra ele que,
com muitos outros homens de noite e a desoras, fora sobre um Diogo do Rego para
o matar numa casa onde estava preso. Ao arruído acorrera Nuno Fernandes juiz e
vereador, que o houve por degredo e lhe pôs pena de degredo para as partes de
além e pena de dinheiro.
E, tendo-o
preso, o dito Brás Afonso o mandara à vila de Castelo Branco. Aí fora entregue
a Marcos Mendes, carcereiro e jazente em a dita vila e prisão com outros presos
e presas, viera a fugir um preso que o dito carcereiro trazia pela vila com uma
cadeia nos pés.
E por assim lhe fugir, o carcereiro não ousava ver a
cadeia e andava fora. Os juízos acudiram então e mandaram que os outros presos
fossem guardados dia e noite por dois homens. Nesse tempo ele e os outros presos mandaram dizer ao
carcereiro, que estava na igreja, que lhes desse ordem e maneira de fugirem
pois lhe dariam dinheiro como de facto deram. E por seu azo e conselho tomariam os guardas e os
ameaçaram de tal maneira que se calaram, e quebraram um cadeado e limaram
ferros, elos e aloquetes. E chegando o carcereiro à porta, eles e outros lhe
abriram com a chave todos soltos. E se amorara, e andava amorado, Tomé Gonçalves e João
Afonso, moradores na Mata e guardas da prisão que ofendidos foram, lhe
perdoaram e o não queriam acusar nem demandar como se via de um publico
instrumento assinado por Mem Gonçalves, tabelião em Castelo Branco. O Rei, antes de lhe dar algum livremente, fizera vir
perante si a inquirição devassa que se tirara por razão da fugida dos presos, e
visto o perdão dos guardas e querendo fazer mercê lhe perdoara contanto que
pusesse dois mil reais para as despesas da Relação.
E mais ordenou que o preso houvesse carta de segurança
para nos quinze dias primeiros seguintes se livrasse e pusesse a direito
daquilo por que era preso.
Data em Setúbal, 1496, Abril, 25
(Chanc. D. Manuel. Lº 40, folha. 25)
PS. O texto está escrito tal como foi publicado por Fernando Portugal, na revista; "Estudos de Castelo Branco".
O Albicastrense
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