UM
DESTEMIDO ALBICASTRENSE DO SÉCULO XVI
Filho de Vasco Boino,
Cavaleiro Fidalgo da Casa Real, que se radicou em Castelo Branco nos finais de
século XV: e cá viveu na rua que tomaria o seu nome, e casou com Ana Lopes
(irmã de Pedro Lopes e ambos filhos de Lopo Alvares e de sua mulher Leonor Fernandes),
da qual houve larga descendência… Como já vimos, foi
nomeado capitão das ordenanças, em 1527, ficando a seu cargo (bem como ao capitão, Álvaro Cardoso) a
Porta de S. Tiago e a R. João Afonso, assim como as Travessas da zona onde residia.
Teve o foro da Cafº.
Fid. C.R e, segundo o Dr. Miguel Achioli (L.F.) foi muito estimado em Castelo
Branco, embora aqui se tenha envolvido em diversos conflitos, que lhe fizeram
gastar bastante dinheiro e o levaram por vezes à prisão.
Assim. a) Estando já
retido em casa sobre a sua menagem de fidalgo, por haver desrespeitado o almotace
da vila, a cuja morada enviara um bacio com ossos, foi preso a 10.2.1533, em
virtude de querela apresentada também contra ele pelo tabelião Francisco
Trancoso… Na noite desse mesmo
dia, fugiu da cadeia, “sem quebrar ferros
ou derrubar paredes”, pois não o haviam acorrentado e achou a porta aberta,
soltando-se das mãos do carcereiro, “ sem
usar armas nem provocar ferimentos”… Por tais motivos e a seu pedido, o Rei
perdoa-lhe a fugida (Évora, 19.3.1533).
No entanto, permanecia
o caso da querela. Porém, invocando a sua qualidade de cavaleiro, obtém de D.
João III uma carta de seguro, a fim de ser presente ao ouvidor de Castelo
Branco e não ao de Tomar. Aquele remeteu-o ao
juiz da vila, que o mandou recolher a casa sobre a dita menagem.
Mais uma vez, não respeita tal determinação e a 20.10.1533, “vindo do mosteiro de N. Sr. Da Graça”, dá de caras com o ouvidor que, admirado de o ver andar livremente pela vila, disse a Gaspar Rodrigues, homem do meirinho, para o conduzir à cadeia. Isto é demais para o nosso cavaleiro que, sentindo-se “agravado na sua honra e privilégios”, conseguiu soltar-se das mãos do próprio ouvidor (nas quais deixou um pedaço do seu gabão) e, sem desembainhar a espada nem enfrentar os perseguidores, refugiou-se na igreja… Enfim, o rei perdoa-lhe, também a seu pedido, o caso da querela, por carta feita em Évora, a 26.11.1533.
Mais uma vez, não respeita tal determinação e a 20.10.1533, “vindo do mosteiro de N. Sr. Da Graça”, dá de caras com o ouvidor que, admirado de o ver andar livremente pela vila, disse a Gaspar Rodrigues, homem do meirinho, para o conduzir à cadeia. Isto é demais para o nosso cavaleiro que, sentindo-se “agravado na sua honra e privilégios”, conseguiu soltar-se das mãos do próprio ouvidor (nas quais deixou um pedaço do seu gabão) e, sem desembainhar a espada nem enfrentar os perseguidores, refugiou-se na igreja… Enfim, o rei perdoa-lhe, também a seu pedido, o caso da querela, por carta feita em Évora, a 26.11.1533.
b) Entretanto, vai
servir na guerra contra os mouros, permanecendo durante dois anos na Praça de
Azamor. Por tal motivo recebe o hábito de cavaleiro professo na Ordem de
Cristo, em 30.4.1545; e, no mesmo ano, a 3 de Julho, D. João III estando em
Évora, concede-lhe a comenda de S. Miguel de Rio de Moinhos, no bispado de
Viseu.
c) Mas não findam por
aqui as “desventuras” de Jorge Boino.
No ano de 1545 houve em Castelo Branco dois levantamentos populares (uniões ou voltas, como então se chamavam)
contra as forças da fortaleza comandadas pelo alcaide-mor D. Fernando Meneses:
o primeiro, em dia de S. João (24 de
Junho) alvoraçou a maior parte da vila contra Luís de Mendonça cunhado do
dito alcaide-mor, que pretendia levar um touro da boiada do concelho, no
segundo, em dia da Visitação de Sta. Isabel (2 de Julho) interveio o próprio D.
Fernando, que viera acudir a um arruído desencadeado por criados seus, mas os
opositores mostraram espírito tão aguerrido que obrigaram-no a recolher ao
castelo.
Intervieram as justiças,
houve prisões e mesmo degredos, não só para fora da vila como para o Brasil.
Porém, tanto D. Fernando de Meneses como Luís de Mendonça acabaram por perdoar,
facilitando assim o perdão real… Ora, entre os intervenientes no último
movimento esteve um Bastião, escravo de Jorge Boino, acusado de brandir uma
espada (mas, sem ferir ou matar ninguém)
e bradar. “Adiante! Adiante!”.
Nesta acção, quiseram
alguns envolver o próprio Jorge Boino, por haver ajudado o seu criado,
tirando-o da igreja onde se havia refugiado… O rei intervém novamente e,
concede-lhe perdão em Santarém, a 20.10.1550 (e por carta feita a 20.2.1551).
d) Igualmente, por
carta dada em Lisboa, a 10.10.1550 (e
feita em Almeirim, a 19.12.1550), o mesmo rei perdoava a António Vaz Frazão,
que naquele ano brigara em Castelo Branco como o “nosso” Jorge Boino, acutilando-o num braço e no rosto, ou mais
precisamente, “no beiço de baixo, que
desce até à ponta das barbas”.
António Vaz fora condenado a um ano de
degredo, com pregão em audiência, mas consegui livrar-se por haver servido em
Ceuro e Mazagão e, visto o perdão de Jorge Boino, que não ficara aleijado nem
com qualquer deformidade.
Recolha de dados: “A Beira Baixa Na Expansão Ultramarina”, da
autoria de Joaquim Candeias Silva e Manuel da Silva Castelo Branco..
Ps.
Depois do que encontrei sobre Jorge Boino, confesso que fiquei curioso sobre
este homem, vou tentar encontrar mais dados sobre ele.
O Albicastrense
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