domingo, julho 10, 2016

CADERNOS DE CULTURA - "MEDICINA NA BEIRA INTERIOR". (XV)

 A Guerra da Sucessão de Espanha (1704)
                        II Parte.                            
(Continuação)
Assento 30
Se fecharam as portas de Santiago per mandado do Senhor marquês das Minas, general e governador das Armas da Província.
- Entrou o inimigo francês e castelhano a conquistar esta vila Dia do Corpo de Deus, que foi em 22.5.1704, e rendeu-a no dia seguinte. Esteve nela 40 dias, tempo bastante para a deixar assolada (como deixou), a igreja de Santa Maria queimada, o castelo e muro arruinados.
- Publicaram-se as pazes nesta vila, entre o senhor rei de Portugal D. João V e o senhor rei de Castela D. Filipe V, a 6.5.1715, governando a Igreja o S. P. Clemente XI e o Bispado o ex. mo Senhor João de Mendonça que, a 11 do dito mês, benzeu o sítio e pôs a fundamental pedra no Recolhimento que novamente e regeu na dita vila, acompanhando-o o eclesiástico, nobreza e plebe da terra, (Letra de Frei António Gomes Assores, Vig° de Stª Maria).
Assento 31
- Os baptizados, que se seguem, o foram na igreja de S. Miguel por me queimarem os hereges franceses e um ladrão castelhano a igreja, deixando-ma incapaz de se baptizar nela. O Vig° Frei António Gomes Assores.
Assento 32
- No ano de 1704, governando a Igreja de Deus o S. Papa Clemente XI, o reino D. Pedro II, a província o marquês das Minas, o bispado D. Rodrigo de Moura Teles (eleito já arcebispo primaz), se fechou as portas desta vila, a 24 de Janeiro. O Vig° Frei António Gomes Assores.
- Mas também, a 7 de Julho seguinte, se abriu a de S. Tiago e fui eu o primeiro que, com a nossa mão sagrada, a comecei a abrir. O Vig° Frei António Gomes Assores.
Assento 33
A 22. 5. 1704, dia em que caiu 5ª feira do Corpo de Deus, entrou nesta vila o inimigo francês e castelhano deixando-a roubada e por fim, em paga de 40 dias que aqui moraram com alcatrão me puseram fogo à Igreja. Deus vingue tão grande desacato! O Vig° Frei António Gomes Assores.
Assento 34
- Em Junho de 1704,matou o inimigo a Pedro Simão, do Cebolal, monte desta freguesia de Santa Maria. Foi sepultado na igreja do dito monte e teve oficio, de que fiz este termo que assinei. O Vig° Frei António Gomes Assores.
Assento 35
- A 22. 6. 1704, faleceu Catarina Magro, solteira desta vila e freguesia, não fez testamento. Foi sepultada em Cambas, onde andava (como os demais desta vila) fugida por amor do inimigo; e, no dito lugar de Campas lhe fez a R. do Prior meio ofício. E, por verdade, fiz este termo que assinei. O Vig° Frei António Gomes Assores.
Comentário
Nos seis Assentos acima transladados, o vigário de Santa Maria, Frei António Gomes Assores, dá-nos algumas notícias sobre os acontecimentos vividos em Castelo Branco (e em particular na sua freguesia), aquando da ocupação da vila pelas tropas espanhola se francesas que apoiavam Filipe, duque de Anjou (e já aclamado Filipe V), na sucessão ao trono de Espanha.
Portugal acabara por aceitar o outro candidato - Carlos, arquiduque de Áustria - proposto pela Inglaterra... Assim, em Maio de 1704, um poderoso exército de Filipe V, reforçado com um contingente francês do comando de Berwick, penetra no país pela Beira e apodera-se de Salvaterra do Extremo, Segura, Monsanto e Castelo Branco. Do sucedido então na transcrever seguidamente: - “Passou o exército inimigo a invadir a vila de Castelo Branco, a maior de toda aquela província”.
Achava-se esta vila com pouca ou nenhuma guarnição de soldados e desamparada de muita parte dos paisanos, porque muitos e os de maior suposição se tinham ausentado com suas famílias, justamente atemorizados do poder castelhano e das notícias das entradas que tinha feito nas terras rendidas.
E somente se acharam em Castelo Branco 80 soldados inglese sou holandeses, que se retiraram ao castelo; ficou avila defendida com os poucos paisanos que nela ficaram e estes sem cabo nem governador, porque todos tinham despejado a terra. Com tão pouca defensa e com uns muros antigos e menos munições, acharam os castelhanos a vila de Castelo Branco, aonde chegaram com o exército Dia do Corpo de Deus, 22 de Maio do dito ano de 1704.
De tarde, lançaram cordão à vila e assestaram duas peças de artilharia aos muros, as quais na noite do dia que chegaram, puseram dentro da igreja de S. Miguel, paróquia da dita vila (fora dos muros e à distância de um tiro de espingarda) e saíam os tiros das peças pelas portas da dita igreja, porém sem dano (ou pouco) dos muros.
 Resistiu a praça 24 horas e, como o povo se viu com tão pouca defensa, lançaram bandeiras de paz e fizeram chamada, de que resultou a entrega da praça ou entrarem logo os franceses dentro da vila, saqueando as casas e o que podiam. E em poucas horas se rendeu também o castelo, cuja guarnição e governador foram prisioneiros para Castela, ficando na vila alguns paisanos com permissão dos castelhanos que, depois da vila entrada, moderaram muito a fúria dos franceses para não prosseguirem o roubo dos paisanos já rendidos” (40).
O marquês das Minas, reforçado com tropas do Minho e de Trás-os-Montes, sai de Almeida e recupera sucessivamente Segura, Idanha, Zebreira, Ladoeiro, Castelo Branco, Rodão, etc. Berwick, vendo-se ameaçado pelas tropas do marquês da Minas, abandona Portalegre e retira para Espanha. Dura a luta até 1712, ano em que no dia 7 de Novembro se faz o armistício entre Portugal e Espanha.
(Continua)
                                              O ALBICASTRENSE

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