A Guerra da Sucessão de Espanha (1704)
II Parte.
(Continuação)
Assento 30
Se fecharam
as portas de Santiago per mandado do Senhor marquês das Minas, general e
governador das Armas da Província.
- Entrou o
inimigo francês e castelhano a conquistar esta vila Dia do Corpo de Deus, que
foi em 22.5.1704, e rendeu-a no dia seguinte. Esteve nela 40 dias, tempo bastante
para a deixar assolada (como deixou), a igreja de Santa Maria queimada, o
castelo e muro arruinados.
-
Publicaram-se as pazes nesta vila, entre o senhor rei de Portugal D. João V e o
senhor rei de Castela D. Filipe V, a 6.5.1715, governando a Igreja o S. P. Clemente
XI e o Bispado o ex. mo Senhor João de Mendonça que, a 11 do dito mês, benzeu o
sítio e pôs a fundamental pedra no Recolhimento que novamente e regeu na dita
vila, acompanhando-o o eclesiástico, nobreza e plebe da terra, (Letra de
Frei António Gomes Assores, Vig° de Stª Maria).
Assento 31
- Os
baptizados, que se seguem, o foram na igreja de S. Miguel por me queimarem os
hereges franceses e um ladrão castelhano a igreja, deixando-ma incapaz de se baptizar
nela. O Vig° Frei António Gomes Assores.
Assento 32
- No ano
de 1704, governando a Igreja de Deus o S. Papa Clemente XI, o reino D. Pedro
II, a província o marquês das Minas, o bispado D. Rodrigo de Moura Teles
(eleito já arcebispo primaz), se fechou as portas desta vila, a 24 de Janeiro. O
Vig° Frei António Gomes Assores.
- Mas
também, a 7 de Julho seguinte, se abriu a de S. Tiago e fui eu o primeiro que,
com a nossa mão sagrada, a comecei a abrir. O Vig° Frei António Gomes Assores.
Assento 33
A 22. 5. 1704,
dia em que caiu 5ª feira do Corpo de Deus, entrou nesta vila o inimigo francês
e castelhano deixando-a roubada e por fim, em paga de 40 dias que aqui moraram
com alcatrão me puseram fogo à Igreja. Deus vingue tão grande desacato! O Vig°
Frei António Gomes Assores.
Assento 34
- Em Junho
de 1704,matou o inimigo a Pedro Simão, do Cebolal, monte desta freguesia de
Santa Maria. Foi sepultado na igreja do dito monte e teve oficio, de que fiz
este termo que assinei. O Vig° Frei António Gomes Assores.
Assento 35
- A 22. 6.
1704, faleceu Catarina Magro, solteira desta vila e freguesia, não fez
testamento. Foi sepultada em Cambas, onde andava (como os demais desta vila) fugida por amor do inimigo; e, no dito
lugar de Campas lhe fez a R. do Prior meio ofício. E, por verdade, fiz este
termo que assinei. O Vig° Frei António Gomes Assores.
Comentário
Nos seis
Assentos acima transladados, o vigário de Santa Maria, Frei António Gomes
Assores, dá-nos algumas notícias sobre os acontecimentos vividos em Castelo Branco
(e em particular na sua freguesia), aquando
da ocupação da vila pelas tropas espanhola se francesas que apoiavam Filipe,
duque de Anjou (e já aclamado Filipe V),
na sucessão ao trono de Espanha.
Portugal
acabara por aceitar o outro candidato - Carlos, arquiduque de Áustria -
proposto pela Inglaterra... Assim, em Maio de 1704, um poderoso exército de
Filipe V, reforçado com um contingente francês do comando de Berwick, penetra
no país pela Beira e apodera-se de Salvaterra do Extremo, Segura, Monsanto e
Castelo Branco. Do sucedido então na transcrever seguidamente: - “Passou o
exército inimigo a invadir a vila de Castelo Branco, a maior de toda aquela província”.
Achava-se esta
vila com pouca ou nenhuma guarnição de soldados e desamparada de muita parte
dos paisanos, porque muitos e os de maior suposição se tinham ausentado com
suas famílias, justamente atemorizados do poder castelhano e das notícias das entradas
que tinha feito nas terras rendidas.
E somente se
acharam em Castelo Branco 80 soldados inglese sou holandeses, que se retiraram
ao castelo; ficou avila defendida com os poucos paisanos que nela ficaram e
estes sem cabo nem governador, porque todos tinham despejado a terra. Com tão
pouca defensa e com uns muros antigos e menos munições, acharam os castelhanos
a vila de Castelo Branco, aonde chegaram com o exército Dia do Corpo de Deus,
22 de Maio do dito ano de 1704.
De tarde,
lançaram cordão à vila e assestaram duas peças de artilharia aos muros, as
quais na noite do dia que chegaram, puseram dentro da igreja de S. Miguel, paróquia
da dita vila (fora dos muros e à distância de um tiro de espingarda) e saíam os
tiros das peças pelas portas da dita igreja, porém sem dano (ou pouco) dos muros.
Resistiu a praça 24 horas e, como o povo se
viu com tão pouca defensa, lançaram bandeiras de paz e fizeram chamada, de que
resultou a entrega da praça ou entrarem logo os franceses dentro da vila, saqueando
as casas e o que podiam. E em poucas horas se rendeu também o castelo, cuja
guarnição e governador foram prisioneiros para Castela, ficando na vila alguns
paisanos com permissão dos castelhanos que, depois da vila entrada, moderaram muito
a fúria dos franceses para não prosseguirem o roubo dos paisanos já rendidos” (40).
O marquês
das Minas, reforçado com tropas do Minho e de Trás-os-Montes, sai de Almeida e
recupera sucessivamente Segura, Idanha, Zebreira, Ladoeiro, Castelo Branco, Rodão,
etc. Berwick, vendo-se ameaçado pelas tropas do marquês da Minas, abandona
Portalegre e retira para Espanha. Dura a luta até 1712, ano em que no dia 7 de
Novembro se faz o armistício entre Portugal e Espanha.
(Continua)
O ALBICASTRENSE
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