O ACHADO ARQUEOLÓGICO
Pedro Salvado,
garantiu ainda tratar-se de “de um caso muito raro em Portugal” pelo que se
torna necessário o seu estudo e preservação, destacando ainda que “é a
confirmação da importância arqueológica do subsolo do Museu”, reforçando por
isso o Investigador a necessidade de uma sondagem do subsolo do Museu, pois não
será, com toda a certeza, a única estrutura nestas condições.
O recente retomar da obra, destinada a um elevador (que se
saúda, a bem do melhoramento das acessibilidades dos utentes com limitações de
locomoção) deixou uma placa de betão que acabou por assentar sobre o achado o
que provoca preocupação e levanta a dúvida sobre qual a solução para
continuarem os estudos e prospecções tendentes a apurar a dimensão do mesmo.
Tomamos e celebramos por isso as palavras do sr. Presidente da Câmara, dr. Luís Correia, realçando a sua importância e afirmando ser uma descoberta “que vai reforçar o interesse patrimonial e o conhecimento da história do palácio”, para que não fique coarctada e comprometidas as investigações que se impõem.
(o Autor escreve segundo a grafia antiga).
por:Júlio Vaz de Carvalho*
No passado dia 7 de Março, a Gazeta do Interior noticiou a descoberta de
um achado arqueológico no hall de entrada do Museu Francisco Tavares Proença
Júnior revelado na sequência das obras que estão a decorrer naquele espaço
cultural. O dr. Pedro Salvado, do Conselho Director da Sociedade de Amigos do
Museu Francisco Tavares Proença Júnior, descreveu a estrutura circular, em
granito aparelhado possivelmente datada de meados do Século XVIII e com forte
probabilidade de a mesma se ter destinado à conservação ou transformação de
produtos (figura 1 – foto de Veríssimo Bispo).
Figura - 1 |
Por este motivo
urge, a bem do enriquecimento histórico e patrimonial da cidade, estudar esta
peça e outras que futuramente possam ser reveladas.Uma pesquisa realizada no
sentido de encontrar estruturas similares, levou-me a uma imagem que ilustra o
ancestral processo de fabrico e conservação de gelo (figura 2), arte milenar
de, Chineses, Persas, Egípcios, Gregos e Romanos, baseado no armazenamento de
gelo e neve prensada em cavernas, silos e abrigos subterrâneos, protegidos com
palha seca de cereais e de outros materiais isolantes. Desta forma tornava-se
possível não só a conservação de alimentos como, igualmente a refrigeração de
bebidas.
Da imagem, em corte transversal, pode observar-se a existência do
sistema de drenagem à semelhança do que sucede com a descoberta no Museu
Albicastrense. Sabe-se que no Palácio Nacional de Queluz eram servidas bebidas
frescas assim como eram elaborados granizados com gelo proveniente provavelmente
da serras de Sintra e Montejunto – convém citar que na Serra de Montejunto está
situada a antiga Real Fábrica do Gelo. Esse gelo era armazenado em silos
similares nas caves do palácio. Tive oportunidade de observar o achado, poucos
dias depois da sua descoberta e de igual forma fiquei curioso, não só pelas
dimensões do que se afigura ser um silo de conservação, mas também pela sua
forma cónica, que possui no fundo, um ralo metálico ou dreno, supostamente para
escoamento de líquidos, coincidente com o da já referida imagem (figura 2).
Na
tentativa de procurar uma possível identificação do achado, revi a literatura
sobre o antigo Paço Episcopal, coevo do Palácio de Queluz, e as referências a
ele feitas em diários e registos de memórias de alguns dos militares das forças
beligerantes, durante a Guerra Peninsular. A maioria dos escritos faz apenas
referências à sua sumptuosidade, contrastando com a restante realidade da
cidade, granjeando
a mesma grandiosidade de alguns palácios e construções abastadas que tinham visto, desde o Litoral até uma zona inóspita e pobre do interior.
a mesma grandiosidade de alguns palácios e construções abastadas que tinham visto, desde o Litoral até uma zona inóspita e pobre do interior.
Quanto à sua arquitectura e área envolvente unicamente se fazem essas
referências, contudo, dos relatos e testemunhos escritos reunidos em obras
locais, cita-se o consumo de refrescos no palácio e o hábito do Bispo, D.
Vicente Ferrer da Rocha, presentear os oficiais franceses com bebidas frescas.
Ora, assim sendo, de onde viria o gelo, essencial para a elaboração dos
refrescos, que A. Roxo, na sua Monografia de Castelo Branco, assevera terem sido
enviados ao General Loison (o tristemente célebre Maneta), estacionado nas
Sarzedas, em 6 de Julho de 1808, ou seja, em pleno Verão?
Ficam no ar as
perguntas que se seguem: Seria o gelo usado para refrescar as bebidas
provenientes da estrutura agora vinda à luz do dia? Estaremos perante um antigo
“frigorífico” do Paço Episcopal? E seria esta estrutura, a confirmar-se a sua
concepção no século XVIII, parte integrante do edifício, ou seja construída de
raiz? Existiria já a mesma tendo sido integrada ou escondida pelo novo
edificado? Será esta uma estrutura isolada ou, no subsolo do que resta do
antigo edificado haverá outros enigmas à espera de serem revelados e estudados?
Esta e outras questões estarão sem resposta até que sejam tomados os passos seguintes, no sentido de enriquecer o Património e Historiografia local e o consequente melhor entendimento e preservação da nossa Memória Colectiva Albicastrense.
Esta e outras questões estarão sem resposta até que sejam tomados os passos seguintes, no sentido de enriquecer o Património e Historiografia local e o consequente melhor entendimento e preservação da nossa Memória Colectiva Albicastrense.
Figura - 2 |
Tomamos e celebramos por isso as palavras do sr. Presidente da Câmara, dr. Luís Correia, realçando a sua importância e afirmando ser uma descoberta “que vai reforçar o interesse patrimonial e o conhecimento da história do palácio”, para que não fique coarctada e comprometidas as investigações que se impõem.
(o Autor escreve segundo a grafia antiga).
*Investigador e Membro da Sociedade dos Amigos do
Museu Tavares Proença Júnior. O
artigo que acabou de ler foi hoje publicado no jornal,
“Gazeta
do Interior".
O
artigo que acabou de ler foi hoje publicado no jornal,
“Gazeta
do Interior".
Ao seu autor, Júlio Vaz de Carvalho, este albicastrense
não pode deixar de dar os parabéns pelo notável trabalho.
Contudo, não posso
deixar de aqui deixar os meus prantos
afirmando o seguinte: que pena não ter a
terra albicastrense
mais pessoas como Júlio Vaz de Carvalho.
O
Albicastrense
Agradeço as suas palavras (e as fotos) amigo Veríssimo. Somos poucos mas bons e a prova está neste blog, resultado da persistência e dedicação do seu Autor; lamenta-se que tantos e tantos conterrâneos se vão alheando destas temáticas. Aos poucos, tentaremos retomar dinâmicas novas.
ResponderEliminarGrande Abraço e Obrigado.
E está o Júlio à distância. Imaginemos se ele estivesse cá. ;)
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