XI - O Horror da Falsa
Morte
(Continuação)
Assento 21
José filho legítimo de José António Morão e de sua mulher Luísa
Violante desta cidade, neto paterno de Gaspar Mendes Morão da vila de Idanha-a-Nova
e de Guiomar Henriques da vila do Fundão e, materno, de António José de Paiva
da vila de Idanha-a-Nova e de Branca Maria natural de Salvaterra do Extremo.
Nasceu aos três dias do mês de Setembro de 1787 e foi solenemente baptizado por mim, o vigário abaixo assinado, aos 18 do dito mês e ano, sendo padrinhos o capitão José Pessoa Tavares e Leonor Pereira da Silva (por quem tocou seu filho António) e, sendo testemunhas, o R. do Carlos José Machado e o R. do António da Maia Nogueira, de que fiz este termo que assinei. O Vig° encomendado Manuel dos Reis Soares.
Comentário
O Assento 21, que acabamos de transladar, dá-nos uma rapidíssima visão da primeira cerimónia em que participou como principal figura o baptizado, cujo nome completo seria o mesmo do pai, José António Morão Frequentou a Universidade de Coimbra, onde se matriculou em Matemática e Medicina, formando-se nesta última ciência a 6.7.1812, depois de um curso distinto. No ano seguinte (1813), estreia-se na vida profissional como médico do partido em Almada, ali permanecendo cerca de 10 anos.
De regresso à terra natal, obtém um cargo de médico municipal no qual é confirmado por provisão régia (Lisboa, 14.5.1823) e irá exercer com a maior e irá exercer com a maior proficiência até 1846. No decurso deste período e nos anos seguintes, desempenha com grande zelo e distinção diversas funções de natureza política e administrativa: deputado da nação pela província da Beira Baixa (1834); vogal do primeiro Conselho do Distrito de Castelo Branco (1836) e seu governador civil interino (de que houve louvor pela portaria de 8.1.1848); 2° Reitor do Liceu e Comissário dos Estudos do distrito de Castelo Branco, por carta régia de 12.3.1852(32); Provedor da Misericórdia (1864), etc.
Espírito culto, foi o principal entusiasta e fundador da “Sociedade Civilizadora”, organizada em Castelo Branco nos finais de 1836; conhecedor de várias línguas, traduziu e publicou algumas obras literárias; bibliófilo distinto, reuniu na sua casa da Rua do Pina uma valiosa livraria, constituída por mais de 3000 volumes e que iria legar ao público municipal albicastrense.
Solteiro e com quási 78 anos de idade, continuava a manter uma intensa atividade clínica, vindo a falecer subitamente, vitimado por hemorragia, a cerebral, a 1.8.1864. Nesse dia, como descreve o Dr. José Lopes Dias, tinha regressado das varias das visitas habituais a sua residência e encontrava-se a desinfetar as mãos quando, sem um repelão nem um grito, tombou prostado sobre o lavatório.(33) O testamento do Dr. José António Morão, feito em Castelo Branco a 8.12.1863, proporciona uma curiosa imagem da sua personalidade.
Ele permite-nos penetrar um pouco no íntimo das suas preocupações, entre as quais sobressai o horror que sentia pela falsa morte, como se infere da seguinte determinação: -«Pretendo que o meu corpo não seja soterrado enquanto ele não começar a exalar o cheiro do cadáver, se Deus Nosso Senhor tiver sido servido levar-me de morte repentina; se, porém, esta for em consequência de alguma atroz enfermidade, aguda ou crónica, enquanto o hirto e o glacial de meus membros ou sinais evidentes de gangrena externa não atestarem a extinção completa das funções vitais do meu ser»... Ainda sobre a sua morte, deixou outras disposições interessantes, com que concluímos este comentário:- «Pretendo ser levado à sepultura (rasa e sem qualquer lápide) tão longe da abjecção como da vaidade... Peço, já que não posso proibir, que oa meus parentes não trajem luto por minha morte além do tempo marcado pela pragmática destes reinos e que os meus criados o não vistam por mais de três dias, se tanto ainda quiserem fazer».
Nasceu aos três dias do mês de Setembro de 1787 e foi solenemente baptizado por mim, o vigário abaixo assinado, aos 18 do dito mês e ano, sendo padrinhos o capitão José Pessoa Tavares e Leonor Pereira da Silva (por quem tocou seu filho António) e, sendo testemunhas, o R. do Carlos José Machado e o R. do António da Maia Nogueira, de que fiz este termo que assinei. O Vig° encomendado Manuel dos Reis Soares.
Comentário
O Assento 21, que acabamos de transladar, dá-nos uma rapidíssima visão da primeira cerimónia em que participou como principal figura o baptizado, cujo nome completo seria o mesmo do pai, José António Morão Frequentou a Universidade de Coimbra, onde se matriculou em Matemática e Medicina, formando-se nesta última ciência a 6.7.1812, depois de um curso distinto. No ano seguinte (1813), estreia-se na vida profissional como médico do partido em Almada, ali permanecendo cerca de 10 anos.
De regresso à terra natal, obtém um cargo de médico municipal no qual é confirmado por provisão régia (Lisboa, 14.5.1823) e irá exercer com a maior e irá exercer com a maior proficiência até 1846. No decurso deste período e nos anos seguintes, desempenha com grande zelo e distinção diversas funções de natureza política e administrativa: deputado da nação pela província da Beira Baixa (1834); vogal do primeiro Conselho do Distrito de Castelo Branco (1836) e seu governador civil interino (de que houve louvor pela portaria de 8.1.1848); 2° Reitor do Liceu e Comissário dos Estudos do distrito de Castelo Branco, por carta régia de 12.3.1852(32); Provedor da Misericórdia (1864), etc.
Espírito culto, foi o principal entusiasta e fundador da “Sociedade Civilizadora”, organizada em Castelo Branco nos finais de 1836; conhecedor de várias línguas, traduziu e publicou algumas obras literárias; bibliófilo distinto, reuniu na sua casa da Rua do Pina uma valiosa livraria, constituída por mais de 3000 volumes e que iria legar ao público municipal albicastrense.
Solteiro e com quási 78 anos de idade, continuava a manter uma intensa atividade clínica, vindo a falecer subitamente, vitimado por hemorragia, a cerebral, a 1.8.1864. Nesse dia, como descreve o Dr. José Lopes Dias, tinha regressado das varias das visitas habituais a sua residência e encontrava-se a desinfetar as mãos quando, sem um repelão nem um grito, tombou prostado sobre o lavatório.(33) O testamento do Dr. José António Morão, feito em Castelo Branco a 8.12.1863, proporciona uma curiosa imagem da sua personalidade.
Ele permite-nos penetrar um pouco no íntimo das suas preocupações, entre as quais sobressai o horror que sentia pela falsa morte, como se infere da seguinte determinação: -«Pretendo que o meu corpo não seja soterrado enquanto ele não começar a exalar o cheiro do cadáver, se Deus Nosso Senhor tiver sido servido levar-me de morte repentina; se, porém, esta for em consequência de alguma atroz enfermidade, aguda ou crónica, enquanto o hirto e o glacial de meus membros ou sinais evidentes de gangrena externa não atestarem a extinção completa das funções vitais do meu ser»... Ainda sobre a sua morte, deixou outras disposições interessantes, com que concluímos este comentário:- «Pretendo ser levado à sepultura (rasa e sem qualquer lápide) tão longe da abjecção como da vaidade... Peço, já que não posso proibir, que oa meus parentes não trajem luto por minha morte além do tempo marcado pela pragmática destes reinos e que os meus criados o não vistam por mais de três dias, se tanto ainda quiserem fazer».
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