quinta-feira, outubro 13, 2022

O AMOR E A MORTE... NOS ANTIGOS REGISTOS PAROQUIAIS ALBICASTRENSES – (15)

Por Manuel da Silva Castelo Branco


XII - Quando neste mundo só era feliz
 o que aceitava morrer bem. 

(Continuação)
Assento 22 
- OL. do Francisco Rafeiro, natural desta vila, faleceu com todos os sacramentos em os 26 do mês de Janeiro de 1738. Fez testamento, em que deixou 1500 missas por sua alma e outras mais por parentes, e outros legados mais; e, ultimamente, instituiu a sua alma por herdeira e vinculou a sua fazenda com obrigação de missas por sua alma, como consta do mesmo testamento. E, para constar, fiz este assento que assinei dia, mês e ano «ut supra». (Declaro que foi sepultado nesta igreja em cova de fábrica)
 O Vig° Frei Manuel Rodrigues Corugeiro.

Comentário.
Francisco Rafeiro, natural de Castelo Branco e baptizado na igreja de Santa Maria a 21.2.1661, era filho do boticário António Vaz Mendes e de sua mulher D. Branca Rafeiro Frequentou a Universidade de Coimbra, onde se matriculou em Medicina a 1.10.1681 e concluiu o seu curso a 26.6.1687, passando ao exercício da clínica médica na terra natal e ali falecendo, solteiro, a 26.1.1738 (Assento 22). Seguindo a inspiração e o exemplo de outros varões ilustres, o Dr. Francisco Rafeiro deixou o seu nome ligado a diversas acções de benemerência.
Assim: legou à Misericórdia de Castelo Branco todos os bens de raiz; instituiu ainda um legado de 100000 réis para dote de casamento de 5 órfãs; doou as suas casas «novas e nobres», sitas na Rua do Postiguinho de Valadares, para vivenda dos párocos de S. Miguel; custeou a magnífica obra de azulejo, levada a cabo na antiga ermida de S. Gregório  (actualmente, capela de Nossa Senhora da Piedade).
Por tal motivo, no pavimento da referida capela e defronte da porta travessa, foi gravado em azulejo o seguinte letreiro: - Esta obra de azulejo e /Pavimento se fez com o /dinheiro do doutor Francis/co Rafeiro já defunto p/edese um P. Nosso Ave Maria pela sua alma/1739.
Por se encontrar doente e «com excessiva dor no braço direito», não pôde o Dr. Francisco Rafeiro redigir o seu testamento, lavrado a 26.12.1737 pelo patrício e amigo, o Padre - Mestre Frei Manuel da Rocha, doutorado em teologia pela Universidade de Coimbra, Abade Geral dos monges de Alcobaça, membro da Academia Real da História, etc. Dele extraímos uma parte que consideramos muito significativa. -«Em nome de Deus trino e uno, Amen. 
Este é o testamento que faço eu Francisco Rafeiro, estando enfermo na cama e em meu juízo perfeito, qual o mesmo Senhor foi servido de me dar. Primeiramente, encomendo a minha alma a Deus, que a criou e a remiu com o seu preciosíssimo sangue e em cuja santa fé cristã fui criado, vivi e determino morrer, recorrendo às chagas de meu Senhor Jesus Cristo para que, mediante elas, consiga perdão das minhas grandes culpas. Da mesma sorte, rogo e peço à Virgem Santíssima da Piedade a queira ter comigo, sendo minha advogada e intercessora diante de seu unigénito Filho para que, quando a minha alma se afastar do meu corpo e for chamada ajuízo, me assista a valha; para que, por sua infinita misericórdia, se me conceda aquele sumo bem e felicidade eterna de que gozam os seus escolhidos e santos ... Considerando a pouca duração do mortal e que neste mundo só é feliz o que acerta morrer bem que o corpo se deve dar à terra de que foi formado, ordeno e mando que, quando Deus for servido de me chamar para si, seja o meu corpo amortalhado no hábito de S. Francisco e sobre ele a véstia de meu Padre S. Pedro, de que sou indigno irmão; e, assim, que me levem à igreja de S. Miguel e nela me sepultem, junto quanto for possível das sepulturas em que jazem minha mãe e minha irmã e minha sobrinha, que é junto do degrau do altar de S. Francisco Xavier... 
Mais mando que, no dia do meu oficio, se dê a cada preso dos que se acharem na cadeia um tostão de esmola e a cada enfermo, que então se achar no Hospital, outro tostão ... À Senhora da Piedade, minha especial advogada, deixo uma moeda de ouro, que o meu testamento aplicará para aquilo que julgar mais necessário para o seu altar” ...
 (Continua) 
O ALBICASTRENSE

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