AMOR E A MORTE NOS (...) REGISTOS PAROQUIAIS ALBICASTRENSES
Por - Manuel da Silva Castelo Branco
“Amores proibidos no paço dos comendadores – (II)”
Entre finais de 1508 e começos de 1509, desenrolara-se também na antiga fortaleza albicastrense, mais precisamente no Paço dos Comendadores e Alcaides-mores, um outro acontecimento dramático, que vamos relatar por forma sucinta...
Era então alcaide-mor da vila D. João de Castelo Branco, 3° filho de D. Filipa de Ataíde e Nuno Vaz de Castelo Branco, vedor da azenda de D. Duarte e D. Afonso V, monteiro-mor e almirante do reino (12.4.1467), etc. Ora, não obstante a sua fama de galante poeta e esforçado cavaleiro, D. João foi muito infortunado no amor. Tinha casado com D. Leonor (filha de D. Isabel de Sousa e Afonso Vaz de Brito alcaide-mor de Souse e caçador-mor de D. Manuel I) e, havendo tomado posse de alcaidaria de Castelo Branco, (c. 1506), ali passou a residir com sua mulher e filha, nos paços da Alcáçova. Porém, D. Leonor apaixonou-se loucamente por Frei António Penalvo, seu capelão e beneficiado na igreja de Santa Maria do Castelo.
Este, instigado pela amante, acometeu certa noite à traição o descuidado alcaide-mor, deixando-o estropiado e quase morto... Sobre o caso existem escassas memórias e delas apresentamos talvez a mais curiosa.
Comentário.
D. Leonor de Sousa, mulher do alcaide-mor D. João de Castelo Branco, fazia-lhe adultério com um clérigo seu capelão e, para mais seguramente continuar no seu delito, ordenou que o dito clérigo o matasse. Para este fim o meteu em sua casa, que era no castelo da vila de Castelo Branco e, entrando D. João pela porta já de noite, lhe deu o dito clérigo com um alfange muitas feridas, deixando-o por morto; e, logo, para desmentirem o delito, se pôs a dita D. Leonor e o clérigo sobre o corpo de D. João a fazer grande pranto contra quem o matara. Acudiu o juiz de fora e fazendo buscar todas as pessoas, que estavam na casa, se achou ao clérigo o alfange ensanguentado pelo que, compreendendo o delito e a origem dele, o prendeu e a D. Leonor.
E dando conta a El-Rei, que estava em Évora, ele os mandou levar àquela cidade e logo mandou degolar a dita D. Leonor e o clérigo foi degradado para S. Tomé, onde seria morto por um parente de D. João, o qual não morreu das feridas mas ficou aleijado. Depois, correndo o tempo e desavindo-se com D. Manuel I, lhe pediu licença para passar a Castela e El-Rei lha deu e também para vender a alcaidaria-mor a D. Diogo de Meneses, cavaleiro da Ordem de Cristo; e D. João, pondo em efeito a sua determinação, se passou àquele reino onde morreu. Uma outra versão refere que D. Leonor de Sousa fora sentenciada «a morrer morte natural por justiça, sem lhe valer a grandeza do nascimento nem a valia dos seus muitos e ilustres parentes», tendo sido degolada na praça de Évora, onde D. Manuel esteve continuadamente desde Outubro de 1508 a Setembro de 1509. Quanto a D. João sofrera profundas cutiladas numa mão, face e vista, de tal modo que quando Duarte de Armas passou por Castelo Branco, em meados de 1509, ainda ele se achava incapacitado para o exercício das suas funções. No entanto, acaba por restabelecer-se e suponho que o epíteto de o «Braço de Ferro», pelo qual é designado algumas vezes, não teria resultado apenas do seu grande valor mas talvez por utilizar qualquer aparelho metálico destinado a corrigir esse membro afectado pela brutal agressão do amante da mulher. Enfim, D. João retoma a sua actividade e, a 13.8.1513, parte de Lisboa na armada capitaneada por D. Jaime, duque de Bragança, que vai tomar Azamor no norte de África. De regresso ao reino (1514), D. Manuel concede-lhe a comenda dos Maninhos, em Castelo Branco, ficando também a usufruir a tença de 10000 réis por ano com o hábito de Cristo... O mesmo rei dá-lhe licença, em 5.6.1516, para trespassar uma tença de 30000 réis em sua única filha D. Maria de Castelo Branco, por virtude do casamento desta com Fernão Cabral, senhor de Azurara e alcaide-mor de Belmonte. Mas, pouco tempo depois, vende a alcaidaria-mor de Castelo Branco a D. Diogo de Meneses, cavaleiro da Ordem de Cristo e retira-se para Castela, onde teve brigas sobre uma dama com "El Grande Capitan», D. Gonçalo Fernandez de Cordoba".
No «Cancioneiro Geral» de Garcia de Resende (1516), vemos uma só poesia da sua autoria dirigida a D. Guiomar de Meneses e nela declara: “Se vos eu vira, senhora, antes de ter o mal meu”.
www.historiadamedicina.ubi.pt/
Era então alcaide-mor da vila D. João de Castelo Branco, 3° filho de D. Filipa de Ataíde e Nuno Vaz de Castelo Branco, vedor da azenda de D. Duarte e D. Afonso V, monteiro-mor e almirante do reino (12.4.1467), etc. Ora, não obstante a sua fama de galante poeta e esforçado cavaleiro, D. João foi muito infortunado no amor. Tinha casado com D. Leonor (filha de D. Isabel de Sousa e Afonso Vaz de Brito alcaide-mor de Souse e caçador-mor de D. Manuel I) e, havendo tomado posse de alcaidaria de Castelo Branco, (c. 1506), ali passou a residir com sua mulher e filha, nos paços da Alcáçova. Porém, D. Leonor apaixonou-se loucamente por Frei António Penalvo, seu capelão e beneficiado na igreja de Santa Maria do Castelo.
Este, instigado pela amante, acometeu certa noite à traição o descuidado alcaide-mor, deixando-o estropiado e quase morto... Sobre o caso existem escassas memórias e delas apresentamos talvez a mais curiosa.
Comentário.
D. Leonor de Sousa, mulher do alcaide-mor D. João de Castelo Branco, fazia-lhe adultério com um clérigo seu capelão e, para mais seguramente continuar no seu delito, ordenou que o dito clérigo o matasse. Para este fim o meteu em sua casa, que era no castelo da vila de Castelo Branco e, entrando D. João pela porta já de noite, lhe deu o dito clérigo com um alfange muitas feridas, deixando-o por morto; e, logo, para desmentirem o delito, se pôs a dita D. Leonor e o clérigo sobre o corpo de D. João a fazer grande pranto contra quem o matara. Acudiu o juiz de fora e fazendo buscar todas as pessoas, que estavam na casa, se achou ao clérigo o alfange ensanguentado pelo que, compreendendo o delito e a origem dele, o prendeu e a D. Leonor.
E dando conta a El-Rei, que estava em Évora, ele os mandou levar àquela cidade e logo mandou degolar a dita D. Leonor e o clérigo foi degradado para S. Tomé, onde seria morto por um parente de D. João, o qual não morreu das feridas mas ficou aleijado. Depois, correndo o tempo e desavindo-se com D. Manuel I, lhe pediu licença para passar a Castela e El-Rei lha deu e também para vender a alcaidaria-mor a D. Diogo de Meneses, cavaleiro da Ordem de Cristo; e D. João, pondo em efeito a sua determinação, se passou àquele reino onde morreu. Uma outra versão refere que D. Leonor de Sousa fora sentenciada «a morrer morte natural por justiça, sem lhe valer a grandeza do nascimento nem a valia dos seus muitos e ilustres parentes», tendo sido degolada na praça de Évora, onde D. Manuel esteve continuadamente desde Outubro de 1508 a Setembro de 1509. Quanto a D. João sofrera profundas cutiladas numa mão, face e vista, de tal modo que quando Duarte de Armas passou por Castelo Branco, em meados de 1509, ainda ele se achava incapacitado para o exercício das suas funções. No entanto, acaba por restabelecer-se e suponho que o epíteto de o «Braço de Ferro», pelo qual é designado algumas vezes, não teria resultado apenas do seu grande valor mas talvez por utilizar qualquer aparelho metálico destinado a corrigir esse membro afectado pela brutal agressão do amante da mulher. Enfim, D. João retoma a sua actividade e, a 13.8.1513, parte de Lisboa na armada capitaneada por D. Jaime, duque de Bragança, que vai tomar Azamor no norte de África. De regresso ao reino (1514), D. Manuel concede-lhe a comenda dos Maninhos, em Castelo Branco, ficando também a usufruir a tença de 10000 réis por ano com o hábito de Cristo... O mesmo rei dá-lhe licença, em 5.6.1516, para trespassar uma tença de 30000 réis em sua única filha D. Maria de Castelo Branco, por virtude do casamento desta com Fernão Cabral, senhor de Azurara e alcaide-mor de Belmonte. Mas, pouco tempo depois, vende a alcaidaria-mor de Castelo Branco a D. Diogo de Meneses, cavaleiro da Ordem de Cristo e retira-se para Castela, onde teve brigas sobre uma dama com "El Grande Capitan», D. Gonçalo Fernandez de Cordoba".
No «Cancioneiro Geral» de Garcia de Resende (1516), vemos uma só poesia da sua autoria dirigida a D. Guiomar de Meneses e nela declara: “Se vos eu vira, senhora, antes de ter o mal meu”.
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O Albicastrense
já nesse tempo de cornos o ambiente era de cortar á faca
ResponderEliminarna floresta robin dos boques era mais feliz
Nesses tempos realmente era tudo resolvido à lei da faca... Evoluímos bastante em 500 anos, (alguns de nós e não em todo o lado, infelizmente), e que saberá onde estaremos daqui a mais 500 anos. Se hoje olhamos para este passado e vemos tanta barbárie, como reagirão os nossos descendentes no futuro?
ResponderEliminarUm abraço!