quinta-feira, março 25, 2010

EFEMÉRIDES MUNICIPAIS - XXIX


A rubrica Efemérides Municipais foi publicada entre Janeiro de 1936 e Março de 1937, no jornal “A Era Nova”. Transitou para o Jornal “A Beira Baixa” em Abril de 1937, e ali foi publicada até Dezembro de 1940.
A mudança de um para outro jornal deu-se derivada à extinção do primeiro. António Ribeiro Cardoso, “ARC” foi o autor desde belíssimo trabalho de investigação, que lhe deve ter tirado o sono, muitas e muitas vezes.
O texto está escrito, tal como publicado em 1937.
Os comentários do autor estão aqui na sua totalidade
.
A Câmara, a seguir, descansou durante quase dois messes, pois que só torna a reunir-se em sessão no dia 27 de Fevereiro. Nesta sessão aparece um tal João António a requerer que se lhe adjudique o fornecimento da vaca “a trinta e sinco reis todo o anno, de chipato e carneyro a trinta todo o anno, cabra a vinte reis todo o anno” A Câmara, porem, correu com o homem, jogando-lhe à cabeça as seguintes arrochadas:
Acta de 1788: “Sendo proposto o mesmo requerimento na prezença dos procuradores do Povo determinou que a arematação que já se achava feita a António Rodrigues subsistisse porque tendo estes a arematado anno antecedente as mesmas carnes a experiencia mostrou se devião conservar por serem de muita verdade dando o pezo a seu dono por darem carne com muita abundância e prontidão e da milhor como havia tam boa serventia em beneficio de todo o Povo tanto na bondade como na abundância e pelo contraio o referido João António nos muitos annos que servia sempre foy com grande incomodo deste Povo porque alem de não dar carne preciza sobre que ouve muitas queixas como tão bem a respeito do pezo foy constante por fatos que se averiguarão ao certo que elle ocultamente metia nos asougues carnes mortas e corruptas do que resultou haver muitas moléstias clamando o Povo e os mesmos médicos que os referidos males heram causados pellas ditas carnes e má qualidade dellas á vista do que desprezarão o mesmo requerimento e mandarão subsistisse a aremataçao já feita”.
Comentário do autor: Ora apanha lá essa, João António. Para que não tornes a roubar o povo no peso e lhe não voltes a fornecer “carnes mortas e corruptas”, o teu requerimento não foi sequer indeferido, porque os vereadores o desprezaram. Foi muito bem feito.
Nesta mesma sessão adoptaram-se ainda outras resoluções de secundária importância, mas no fim dela aparece isto: Alegava-se que assim se procedia, porque a Câmara tinha sido ouvida e concordara com a tal derrama e por isso… A Câmara não esteve pelos ajustes. Deu volta aos livres e não encontrou coisa que com isso se parecesse; mas, ainda que tivesse encontrado isso ou coisa perecida, não estava disposta a consentir que sobre o povo caísse o raio da finta de dois contos e quinhentos. Apelaria para Sua Majestade e tinha a certeza de que seria atendida, porque a Soberana atenderia a que já não pouco o que os Povos desta comarca estavam a pagar para vários trabalhos de utilidade publica
Estavam a pagar uma finta para a ponte do rio Alva. Estavam a pagar, por provisão de 14 de Maia de 1785, uma taxa avultada para as pontes da Ocreza e do Alvito. Era já bastante, não era de justiça que se lhe exigisse mais. A tal calçada do Mondego e respectiva ponte, não havia duvida, eram de interesse para todo o reino, mas também as pontes da Ocreza e do Alvito o eram e as gentes da Guarda não pagavam nada para eles.
Tinha razão Câmara. Ou pagavam todos para tudo, ou… a Guarda que tivesse paciência, que se arranjasse como pudesse.
Em sessão de 5 de Março apareceram queixas várias a respeito dos estragos que causavam no pão das folhas os touros que nelas andavam à solta.
Determinou-se que, por pregões, se fizesse constar aos donos dos touros que sem demora os retirassem do pão das folhas. Se assim o não fizessem, os bichos seriam levados, da primeira vez, para o curral do concelho; depois, se rescindissem, pagariam seus donos os prejuízos causados.
Nesta mesma sessão foi posto às ordens do corregedor da comarca a quantia de cem mil réis para as obras da Corredoura, que é como se sabe, a Rua Bartolomeu da Costa. Com os cem mil réis e “ o dinheiro das condenações” fez-se toda a despesa daquela obra, que hoje custaria uns bons pares de contos.
PS – Mais uma vez informe os leitores dos postes, “Efemérides Municipais” que o que acabou de ler é uma transcrição fiel do que saiu em 1937.
O Albicastrense

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