sexta-feira, agosto 15, 2014

A HISTÓRIA DA TERRA ALBICASTRENS - II

História - (II)
Como qualquer outro povoado medieval, Castelo Branco começou por ter o seu castelo, a sua alcáçova, uma igreja e uma cinta de muralhas que protegiam o casario. Logo em 1230 há notícias da alcáçova templária e de uma muralha com quatro portas; e cerca de cem anos mais tarde, no tempo de D. Dinis, fala-se de um aumento do número de portas, que passaram a ser sete, o que teria implicado o alargamento do perímetro das muralhas. Com o crescimento da população, surgiriam ainda mais três portas.
Já nenhuma existe, só alguns espaços perpetuados na memória urbana e alguns topónimos. Apesar de serem escassos os testemunhos, ficaram-nos dois importantes desenhos de Duarte d'Armas, datando da primeira metade do século XVI, inclusos no seu Livro das Fortalezas.
Duarte d'Armas mostra-nos uma alcáçova com uma imponente torre de menagem e um paço (o Palácio dos Comendadores), que aqui se apresenta como uma reconstrução de traça quinhentista, com janelas maineladas e uma "loggia", do primitivo paço templário); e uma cinta de muralhas, com pano duplo junto aos terrenos da planície, defendida por cinco torres, digna de qualquer arquitectura militar de defesa fronteiriça.
No séc. XIII, a vida em Castelo Branco desenrolava-se dentro das muralhas, dominada por um castelo de uma ordem militar e à sombra de uma alcáçova.
As ruas estreitas formavam calçadas muito íngremes em direcção ao topo do outeiro, existindo entre elas algumas zonas agrícolas constituídas por hortas e olivais, como acontecia na maior das urbes intramuros. Entretanto, logo nos finais da Idade Média, com o aumento demográfico e o aparecimento de uma burguesia enriquecida, a vila vai crescer para fora dos muros, surgindo uma nova área urbana em redor da Igreja de S. Miguel (construída a nordeste da muralha) que dá origem à segunda freguesia de Castelo Branco (a primeira era a de Santa Maria, correspondendo à igreja do mesmo nome, que existia no recinto do castelo).
Acompanhado este desenvolvimento, o centro cívico, político e económico vai-se alterando e descendo a encosta: do adro da Igreja de Santa Maria, onde se juntavam os homens-bons, passa para a Rua Nova e de seguida desce, a partir dos finais do séc. XV, para a Praça Velha, ainda dentro das muralhas, mas perto do vale. Nesta Praça Velha, além da Domus Municipalis, do celeiro da Ordem de Cristo (recordemos que, com a extinção da Ordem do Templo, foi a de Cristo que herdou os seus bens) e do pelourinho, existiu uma área reservada para o mercado.
O tecido urbano medieval e quinhentista pouco se alterou, o que permite fazer uma leitura planimétrica muito aproximada da primitiva: as ruas continuam estreitas, dispostas do lado este da colina, perpendicular e paralelamente à antiga alcáçova; mais junto do vale acompanham as variações do terreno. O casario continua compacto, sendo a Praça Velha o único largo existente. As hortas e os quintais, cultivados pela população actual, continuam produtivos. No séc. XVI começaram a surgir construções nos arrabaldes da vila, correspondendo às novas exigências da vida e à necessidade de fixar uma população que não parava de crescer.
É disto exemplo o Chafariz de S. Marcos, obra quinhentista que ajudou a solucionar o problema do abastecimento de água a um pequeno núcleo populacional. E noutros núcleos (bolsas distribuídas de nordeste a sudoeste, acompanhado o plano da muralha medieval) foram aparecendo, com a racionalização do aproveitamento das nascentes e dos poços ou impulsionados pela construção de alguns edifícios religiosos (Convento de Santo António dos Capuchos, Igreja de Nossa Senhora da Piedade e Igreja do Espírito Santo). Também nos finais de quinhentos, o bispo da Guarda, D. Nuno de Noronha, escolhe Castelo Branco para edificar um paço episcopal, destinado a morada de Inverno dos prelados.
Este paço (totalmente remodelado e enriquecido com os seus jardins e quinta ajardinada, por volta de 1711, pela mão de D. João de Mendonça), que encostará a norte da muralha medieval, condicionou o crescimento da cidade, mantendo-se até ao nosso século como uma fronteira do perímetro urbano.
Pouco a pouco as casas foram engolindo as antigas muralhas e uma grande parte da povoação estendia-se pelo campo. Construíram-se ou reconstruíram-se novos conventos, igrejas palácios, dando uma consistência urbana aos arrabaldes, que passaram, em finais do séc. XVIII, a ser conhecidos pelos nomes de Fonte Nova, Oleiros, Cidade e S. Sebastião. Este surto de construções das quais se destacam o restauro da Igreja de S. Miguel (que em 1771, com a criação do bispado de Castelo Branco, passou a ser Sé Catedral) e a edificação do solar dos Viscondes de Portalegre e do Palácio dos Visconde de Oleiros penalizou a parte antiga que, apesar de tudo, acabou por ser salvo de intervenções pontuais, casos a própria altimetria.
(Continua)
In: Ana Cristina Leite: Guia das Cidades Históricas de Portugal - Expresso
O Albicastrense

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