O
AMOR E A MORTE... NOS ANTIGOS REGISTOS PAROQUIAIS ALBICASTRENSES.
Por Manuel da Silva Castelo Branco
V - A derradeira «Aventura» de D. Pedro de Meneses/Amor proibido no paço dos comendadores.
(Continuação)
Assento 12 (S1 - 10, fl. 39) - Ao derradeiro dia do mês de Abril de 1624,
mataram o senhor D. Pedro de Meneses, filho do senhor D. António de Meneses, comendador
desta vila e seu alcaide-mor. Morreu duma espingardada na Costeira, ao fundo do
chão que foi de Pero Gonçalves, donde dizem que lhe atiraram pela uma hora...
Deu a alma
a Deus, foi confessado e ungido. Ao dia seguinte, o levaram a enterrar ao mosteiro
de Santo António e, no dia seguinte depois do seu enterro, lhe disseram missa
de presente e um oficio de 9 lições por sua alma os padres de Santo António e
os de Nossa Senhora da Graça; e, ao outro dia, lhe fizeram os padres seculares
(todos os que acharam presentes na terra) outro oficio e, por verdade, assinei/Frei
Martim Dias Caldeira.
Assento 13 (Ibid., fl. 39v) - Ao derradeiro dia do mês de Abril de 1624,
mataram Manuel de Matos e, segundo se disse, morreu de uma espingardada em companhia
do senhor D. Pedro, cujo criado era. Foi confessado e ungido e morreu de morte
apressada; não fez manda e jaz enterrado em Santo António.
Disse-se-lhe
missa de presente ao dia seguinte e, por verdade, assinei. / Frei Martim Dias.
Comentário
Assim finalizaram tragicamente as aventuras «galantes» em que D. Pedro de Meneses se envolvera, quer com raparigas solteiras quer com mulheres casadas da vila, sem atender ao seu estado e condição social. D. Pedro, filho 2° de D. Constança de Távora e D. António de Meneses alcaide-mor e comendador de Santa Maria de Castelo Branco, vivera os primeiros anos na corte e, depois, andara embarcado nas Armadas, mas viera encontrar aqui o ambiente propício para satisfazer as suas inclinações «sentimentais» pelo sexo oposto...
Assim finalizaram tragicamente as aventuras «galantes» em que D. Pedro de Meneses se envolvera, quer com raparigas solteiras quer com mulheres casadas da vila, sem atender ao seu estado e condição social. D. Pedro, filho 2° de D. Constança de Távora e D. António de Meneses alcaide-mor e comendador de Santa Maria de Castelo Branco, vivera os primeiros anos na corte e, depois, andara embarcado nas Armadas, mas viera encontrar aqui o ambiente propício para satisfazer as suas inclinações «sentimentais» pelo sexo oposto...
Adicionar legenda |
A primeira
pertencia a uma numerosa família de cristãos - novos, sendo casada com Duarte
Rodrigues também da mesma nação; na ausência deste e sem o consentimento dela,
sua irmã D. Isabel de Lucena facultava a D. Pedro a entrada da casa,
favorecendo assim os seus «ilícitos e desonestos amores»... (15) A segunda era
irmã de Simão da Silva de Almeida e ambos filhos do doutor João de Almeida,
desembargador da Casa da Suplicação, que servira de provedor da Misericórdia (1615-1616)
e juiz de fora de Castelo Branco; D. Pedro «conversava» com ela aproveitando a
complacência do boticário Manuel Jordão e de sua mulher D. Maria Lopes, por
cuja residência penetrava na contígua do pai de D. Ana «tirando umas tábuas do
sobrado»... (16)
De tudo
isto resultaram discórdias e ódios mortais, pelo que o desembargador Francisco
Borges de Faria veio a Castelo
Branco tirar devassa, em 1622, com o fim de pôr cobro a tão melindrosa e
degradante situação; e, no ano seguinte, D. Pedro e D. Fernando de Meneses (seu
irmão mais velho) recebem ordem para regressar à corte.
E, então,
sucede o inacreditável!... A vila divide-se em dois partidos: de um lado, os
que consideram benéfica e indispensável a saída dos dois fidalgos, pois
sentiam-se vexados com as suas liberdades e prepotências; do outro, os que lhe
são favoráveis. Estes últimos acabam por dominar a situação, levando a própria
Câmara a fazer uma representação a Filipe III, datada de 7.5.1623,
manifestando-se contrária à retirada de D. Fernando e D. Pedro de Meneses «fidalgos
tão ilustres e de tanta consideração e importância, pois eram amparo e refúgio
de todas as necessidades da gente pobre e miserável com as sua pessoas e rendas,
despendendo-as com tanta caridade e liberalidade e fazendo amizade e concórdia em
proveito comum do povo» e, igualmente, opondo-se à devassa dos dois irmãos por
tal medida resultar da inimizade que lhes tinham o juiz de fora da vila e dois
homens dela (Diogo Pais Freire e Simão da Silva de Almeida) e mais gente
«apaixonada por questões e delitos que se poderiam castigar e remediar por
outras vias»... (17)
Efetivamente,
o juiz de fora não subscreve este documento, nem as pessoas indicadas e outras
mais, mas o certo é que os dois fidalgos permanecem na vila.
Entretanto,
D. Pedro mete-se em nova aventura, pois enamora-se de D. Maria de Mendonça
filha de Antão da Fonseca Leitão, fidalgo da Casa Real e senhor do grande
morgado de Oledo, o qual assistia havia alguns anos com a sua família na velha
urbe albicastrense. Segundo vários autores, D. Pedro teria desonrado a jovem
com promessas de casamento; outros referem que, andando a requestá-la, seus
parentes o advertiram para «cessar nos amores e se queria casar com ela a
pedisse ao pai»... (18) Em qualquer
caso, a atitude de D. Pedro foi de afrontamento e esquiva pelo que, ferida na
honra, a orgulhosa família do Fonseca Leitão decidiu vingar-se e terminar de
vez com a causa da sua vergonha. Assim, na noite de 30.4.1624, um grupo de
vários homens chefiados por Manuel da Fonseca Leitão (irmão de D. Ana)
emboscou-se junto aos muros do castelo, defronte da porta da Traição e, quando
D. Pedro de Meneses cavalgava pelo caminho da Costeira, de regresso à Alcáçova,
acompanhado por Bernardo da Silva Castelo Branco e Manuel de Matos (seu
criado), atiraram sobre eles... para matar!... Era uma hora da madrugada... Apanhados de surpresa
e antes de poderem ripostar, D. Pedro e Manuel de Matos foram atingidos cada um
por 5 balas e Bernardo da Silva ficou com os três dedos principais da mão
esquerda esfacelados.
Alertados pelo
tiroteio e gritaria, acorreram criados e alguns soldados da guarnição, que
transportaram os feridos para o Paço da Alcáçova.
Ali faleciam, no mesmo dia e depois
de confessados e receberem a extrema-unção, tanto D. Pedro como o seu criado. Quanto
a Bernardo da Silva sobreviveu aos ferimentos, permanecendo no castelo durante
algum tempo sob os cuidados do médico e cirurgião Dr. Francisco de Luna (irmão
do célebre Dr. Filipe Montalto).
(Continua)
O Albicastrense
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