quarta-feira, maio 25, 2016

CADERNOS DE CULTURA - "MEDICINA NA BEIRA INTERIOR". (IV)

O AMOR E A MORTE... NOS ANTIGOS REGISTOS PAROQUIAIS ALBICASTRENSES.
Por Manuel da Silva Castelo Branco
(Continuação)
IV - A «Peste pequena» em Castelo Branco (1600-1602).

Assento 10 (S1 - 1M, fl.417) - Aos 25 dias do mês de Junho de 1600, faleceu Catarina Vilela mulher do Gázeo, do Torrejão. Jaz enterrada para a Amoreira, «impedida», não sei se fez manda.
Assento 11 (Ibid.,fl.420) - Aos 14 de Junho de 1602, faleceu a Doutor André Esteves médico e jaz enterrado em Santo António. Fez testamento e é testamenteiro seu sobrinho Baltazar Leitão, prior no Sarzedo.

Comentário
Com efeito, consideravam-se «impedidos» não só os contagiados como todos os que trabalhavam na luta contra a peste, pois estavam impedidos de contactar as pessoas sãs e eram obrigados a usar sinais. Daqui podemos presumir que o mal já entrara há algum tempo na vila e seu termo... Após o caso acima referido sucedem-se muitos outros, num total de mais de 90 assentos de óbito registados até 22.6.1602 na freguesia de Santa Maria; como desapareceram os da igreja de S. Miguel, correspondentes a este período, os elementos de que dispomos são incompletos mas, mesmo assim, bastante elucidativos... Eles testemunham-nos os «andaços» da chamada «peste pequena», na então vila de Castelo Branco.
A epidemia alastrou também aos Cebolais de Cima, Benquerenças do Meio e Maxiais, atingindo os membros de todas as classes sociais, de qualquer idade, sexo e raça. Muitas famílias foram ceivadas ou quase destruídas, outras procuravam na fuga a esperança da salvação e tenho notícia de que algumas se refugiaram em Alcaíns, Escalos de Cima, Sertã e mesmo no Sabugal; pessoas ocasionalmente na vila, ali vieram encontrar o último dia das suas vidas. (13)
Porém, nesta dramática conjuntura, não podemos olvidar a acção do Dr. André Esteves, médico do partido em Castelo Branco que, a 14.6.1602 (como consta do Assento 11), acabou por sucumbir aos efeitos da doença que havia combatido durante cerca de dois anos. Dos restantes clínicos ali residentes apenas sei que o boticário e cirurgião António Aires (pai do célebre Dr. Filipe Montalto) curara «dedicadamente os doentes do mal contagioso na Casa de Saúde da vila, dando toda a ordem necessária para remédio deles e sem receber salário algum...» (14)
(Continua)
                                                     O Albicastrense

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