O
AMOR E A MORTE... NOS ANTIGOS REGISTOS PAROQUIAIS ALBICASTRENSES.
Por Manuel da Silva Castelo Branco
(Continuação)
IV - A «Peste pequena» em Castelo Branco
(1600-1602).
Assento 10 (S1 - 1M, fl.417) - Aos 25 dias do mês de Junho de 1600, faleceu Catarina
Vilela mulher do Gázeo, do Torrejão. Jaz enterrada para a Amoreira, «impedida»,
não sei se fez manda.
Assento 11 (Ibid.,fl.420) - Aos 14 de Junho de 1602, faleceu a Doutor André
Esteves médico e jaz enterrado em Santo António. Fez testamento e é
testamenteiro seu sobrinho Baltazar Leitão, prior no Sarzedo.
Comentário
Com efeito, consideravam-se «impedidos» não só os contagiados como todos os que trabalhavam na luta contra a peste, pois estavam impedidos de contactar as pessoas sãs e eram obrigados a usar sinais. Daqui podemos presumir que o mal já entrara há algum tempo na vila e seu termo... Após o caso acima referido sucedem-se muitos outros, num total de mais de 90 assentos de óbito registados até 22.6.1602 na freguesia de Santa Maria; como desapareceram os da igreja de S. Miguel, correspondentes a este período, os elementos de que dispomos são incompletos mas, mesmo assim, bastante elucidativos... Eles testemunham-nos os «andaços» da chamada «peste pequena», na então vila de Castelo Branco.
Com efeito, consideravam-se «impedidos» não só os contagiados como todos os que trabalhavam na luta contra a peste, pois estavam impedidos de contactar as pessoas sãs e eram obrigados a usar sinais. Daqui podemos presumir que o mal já entrara há algum tempo na vila e seu termo... Após o caso acima referido sucedem-se muitos outros, num total de mais de 90 assentos de óbito registados até 22.6.1602 na freguesia de Santa Maria; como desapareceram os da igreja de S. Miguel, correspondentes a este período, os elementos de que dispomos são incompletos mas, mesmo assim, bastante elucidativos... Eles testemunham-nos os «andaços» da chamada «peste pequena», na então vila de Castelo Branco.
A epidemia
alastrou também aos Cebolais de Cima, Benquerenças do Meio e Maxiais, atingindo
os membros de todas as classes sociais, de qualquer idade, sexo e raça. Muitas
famílias foram ceivadas ou quase destruídas, outras procuravam na fuga a esperança
da salvação e tenho notícia de que algumas se refugiaram em Alcaíns, Escalos de
Cima, Sertã e mesmo no Sabugal; pessoas ocasionalmente na vila, ali vieram
encontrar o último dia das suas vidas. (13)
Porém, nesta dramática conjuntura, não podemos olvidar
a acção do Dr. André Esteves, médico do partido em Castelo Branco que, a
14.6.1602 (como consta do Assento 11), acabou por sucumbir aos efeitos da
doença que havia combatido durante cerca de dois anos. Dos restantes clínicos
ali residentes apenas sei que o boticário e cirurgião António Aires (pai do
célebre Dr. Filipe Montalto) curara «dedicadamente os doentes do mal contagioso
na Casa de Saúde da vila, dando toda a ordem necessária para remédio deles e
sem receber salário algum...» (14)(Continua)
O Albicastrense
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