quarta-feira, maio 20, 2020

TOPONÍMIA ALBICASTRENSE


      RUAS E PRAÇAS DA TERRA ALBICASTRENSE

Ao passar recentemente numa rua da Urbanização Pires Marques, constatei que o nome que a mesma ostentava, era o de Joaquim Porfírio da Silva.
De imediato começou a germinar na minha cabecinha, se o homem que a placa toponímica venerava, era o autor de um pequeno livro sobre a terra albicastrense (pequeno no tamanho, mas grandíssimo na historia que nos relata), que tem por título; “Memorial Cronológico e Descritivo da Cidade de Castelo Branco”, editado em 1853?
Será que este Joaquim Porfírio da Silva, é o Augusto Joaquim Porfírio da Silva, autor do “Memorial Cronológico e Descritivo de Castelo Branco?”
Tenho para mim, que se trata da mesma pessoa. Tentei na Internet descobrir quem foi o homem que consta na placa toponímica, porém nada consegui encontrar sobre ele.
Mais uma vez lamento que as atuais placas toponímicas da terra albicastrense, tenham apenas o nome do ilustre a nada mais. Desta forma, a maioria dos notáveis serão para todo o sempre, distintos desconhecidos para todos nós. Quando e onde nasceu o ilustre, em que atividade se destacou e quando morreu, será assim tao difícil colocar estes dados nas placas?
Não querendo ser mauzinho, até parece que os nomes para as placas toponímicas, são escolhidos de uma lista  onde os nomes dos "Cajos" é a única coisa que interessa.  
PS. Lanço aqui um desafio a quem se interessar pela toponímica albicastrense. Se tiverem dados sobre este homem, podem coloca-los na caixa de comentários, para depois os poder colocar na publicação.

INTRODUÇÃO DO LIVRO: ”MEMORIAL CRONOLÓGICO E DESCRITIVO
DA CIDADE DE CASTELO BRANCO”.
Por, Augusto Joaquim  Porfírio da Silva

Decorria o mêz de Maio de mil oitocentos cinquenta e dois, quando n’uma tarde, me resolvi a ir passear á quinta do Paço Episcopal dessa cidade de Castello Branco, para ali gozar da suavidade que esparge sobre a terra a amena estação da Primavera, que n’ esta região costuma muitas vezes vir áspera e destemperada.
E com efeito, apezar de haverem aparecido desde o seu começo alguns dias frios, carrancudos e chuvosos, aquelle que escolhi para o meu passeio estava bello e ameno. Alli, divulgando de rua em rua, eu ia aspirando a suave fragrância com que a Natureza nos deleita n’esta alegre e pomposa estação, e ouvindo ao mesmo tempo os gorgeios e trinados arrebatadores de inúmeros rouxinoes domiciliados nos gigantescos e frondosos loureiros que orlam a quinta.

Que bello quadro, disse eu comigo! Este passeio é bonito e deleitoso e nem por isso vejo agora aqui outra pessoa que o queira desfrutar! É por isso mesmo que estou só é esta uma boa ocasião para m’entregar sem distração à contemplação d’este bello sitio.
Esta peça não é obra d’agora: a sua edificação foi efeituada em outros tempos: e de certo que  do o seu fundador só existe a memoria e as cinzas, porque, segundo ouço dizer, foi o digno Bispo D. Vicente Ferrer da Rocha quem mandara fazer esta quinta. Sem dúvida que o Paço Episcopal e seus logradouros é uma peça de merecimento, e a de maior valor que há n’esta cidade onde se diz haverem florecido muitas pessoas dignas de veneração por seu saber e virtudes.
Aquelle castello, que lá no alto em frente, já arruinado, campêa e domina estes sítios, é testemunha da existência d’esses distinctos varões que tiveram o ser e o berço n’esta antiga povoação. Oh! e que não tenha eu encontrado um documento que me diga as memoráveis épocas em que existiram esses heróis, e bem assim seus nomes para os admirar e contemplar!...
Vou desde já dar ordem a descobrir positivas noticias de todos eles, bem como de tudo quanto se torna de mais notável n’esta terra; e se a tanto minhas forças chegarem organizarei um opusculo em que narre resumidamente quanto lhe diz respeito”.

Tal foi pois a origem do meu desejo, e deliberação de diligenciar os dados precisos para a organização d’ests minha insignificante obra.´, que vou submeter á critica do judicioso leitor. A quem desde já peço indulgencia e desculpa dos defeitos  ou erros que encontrar.
Dezoito anos consecutivos de residências em Castello Branco; o saber que meus pais aqui contraihram  o santo matrimonio, do qual sou fruto, é sem duvida d’onde nasceu a sympathia que sinto por esta cidade. 
E a amizade que tributo a aluns de seus habitantes com quem tenho adquirido relações, assim como a afeição que tenho a todos em geral.
Esta Sympathia, esta amizade, e o haver eu aqui visto vegetar e murchar a flor da minha joventude,  é motivo bastante para me deixar quasi persuadir  de que é esta a minha terra natal; e tanto basta para me interessar por tudo quanto lhe diga respeito. Eis a razão porque me propuz a fazer uma descripção d’ella, já que outro serviço lhe não poderei prestar. 
Possa pois este meu rude trabalho agradar a todos os que o lerem. Castello Branco 27 de Maio de 1853.
(O Texto está escrito tal como foi publicado em 1853).
A ALBICASTRENSE

2 comentários:

  1. NOTA. Descobri hoje, que Joaquim Augusto Porfirio Da Silva, foi Alferes Miguelista, Oficial da Secretaria do Governo Civil de Castelo Branco, e Escrivão da Misericórdia de Castelo Branco entre 1863/1864. O Memorial Cronológico de Castelo Branco, terá sido o único livro que publicou. Terá morrido em 1875.

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  2. Depois de ter lido um livro sobre a vida do ditador Franco e ao passar em Castelo Branco pela Rua Cadetes de Toledo, pus-me a pensar como é que quase passados 50 anos da morte daquela besta, da limpeza da toponímia levada a cabo em Espanha sobre o que representava aquela época trágica, ainda em Portugal numa cidade do interior se prestava homenagem àquela instituição. De nada me valeu escrever à Assembleia Municipal de Castelo Branco, que nem me respondeu talvez por considerar que eu seria um perigoso anarquista, que estava a levantar uma questão de tão somenos importância. Pelo menos poderiam justificar-me qual foi a origem do nome dessa rua e talvez serenarem a minha estupefação pela sua manutenção. Bons motivos existirão. Podiam ajudar-me?
    Cumprimentos
    Eliseu Gomes

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