UM ESPÍRITO DO PASSADO
DEAMBULANDO PELA NOSSA ZONA HISTÓRICA
Percorri ontem as
ruas de S. Maria e Ferreiros para recordar tempos em que por ali podíamos contemplar
vida. Tempos em que nestas ruas não habitava um deserto de vida, mas antes, um oceano
de existência e de sorrisos de crianças.
- Os malandros
estão-se borrifando, para isto tudo.
Percebi
rapidamente que alguém estava muitíssimo zangado com a situação da nossa zona
histórica. Olhei, e vi um velhote com cara de poucos amigos ao qual perguntei.
- Quem é que se
está borrifando para isto tudo?
- Vossemecê sabe muito
bem quem eles são?
Perante esta resposta
embaraçosa, resolvi fazer-me de pateta e perguntar.
- Está a falar do
Presidente?
- Do Presidente e
dos outros.
A conversa parecia agora prometedora, por
isso, deitei lenha prá fogueira na tentativa de saber quem eram os outros.
- Por que razão,
se está borrifando o Marcelo para isto tudo, e quem são os outros todos?
- Vossemecê está
a gozar comigo?
- Deus me livre
de estar a gozar consigo, pois tenho muito respeito pelos mais velhos.
A conversa
prometia, pois eu ao fazer-me de parvo para lhe sacar os nomes dos malandros
que se estavam “borrifando para isto tudo”, estava a irrita-lo.
- O meu amigo
disse que era o presidente e os outros todos.
- Pois disse, mas
não disse que era o Marcelo.
Perante esta
conversação que parecia não levar a lado nenhum, resolvi perguntando-lhe os
nomes que eu queria que ele dissesse, mas que ele não queria dizer.
- Se não é o
Marcelo, então é o presidente da nossa autarquia, e os outros, são a restante
vereação.
- Olha! Afinal vossemecê
sabe quem eles são.
A situação estava
bem difícil, pois tinha sido apanhado na minha própria ratoeira, por isso,
resolvi ser mais perspicaz.
- Você parece ter
cagaço, em dar nome aos malandros de que fala.
- Eu sou uma alma
tranquila e de boa paz, por isso, prefiro que o meu amigo os diga.
O velhote
começava a ficar demasiado calmo par o meu gosto, por isso, resolvi atiça-lo um
pouco.
- O meu amigo fala
e volta a falar, mas diz praticamente nada.
- Agora está a
chamar-me empata qualquer coisa?
A coisa não
andava nem desandava, por isso, resolvi continuar a dar-lhe música para ver se
homem se descosia.
- O meu amigo
desculpe, mas eu nunca tive intenção de lhe chamar o que quer que fosse, mas você
chispa-se aos nomes.
- Está enganado!
Eu chispe-me é a atrevidos que sabendo que eu sei que eles sabem, fingem não saber
de nada.
Como ele não
dizia os nomes e como eu não consegui que ele os dissesse, resolvi acabar com
esta conversa desconsolada e arrematar a questão final:
- Eu tenho estado
a magicar para comigo próprio que o conheço de algum lado, contudo, não consigo
recordar-me quem vossemecê é.
- Sou alguém que
aqui nasceu, que aqui viveu, que aqui casou, que aqui viu os filhos nascer e
crescer, que viu os casar e ter filhos e que aqui morreu.
- Morreu!
- Sim, sou um
albicastrense do passado, albicastrense cujo o espírito regressa a um sítio
onde foi feliz, a um local despedaçado pelos albicastrenses do presente, a um
lugar onde os albicastrenses do futuro não irão encontrar memórias do passado.
Perante a minha
estupefação, segui o seu caminho sem olhar uma única vez para trás. Quem
demónio seria o homem? Uma alma retornada do passado com saudades do local onde
foi feliz, ou eu fechei os olhos, dormitei e tudo isto foi um sonho?
(Crónicas da nossa Zona Histórica).O ALBICASTRENSE
Joaquim Lalanda Roseiro Boavida
ResponderEliminarPenso que foi uma oportunidade perdida. Por se tratar de uma voz do além, mais importante que saber quem se está a marimbar, era importante saber o que feito de mal ou não foi e devia ter sido feito.
Se alguma coisa está mal no espaço público, a culpa é de todos nós.
(Comentário feito no facebook).
Claro que concordo consigo amigo Joaquim.
EliminarOs Albicastrense são os principais culpados pela miserável situação em que se encontra a nossa zona histórica.
Abraço
Álvaro Barreiros
EliminarAntónio Veríssimo Bispo somos culpados porque deixamos na nossa terra entrar nas listas tipos que não são de CB.
(Comentário feito no facebook).
Joaquim Baptista
EliminarÁlvaro Barreiros Essa é grande verdade e continua na mesma.
(Comentário feito no facebook).
Adilia Antunes
ResponderEliminarTanta mão de obra que ali havia. Como me lembro das marteladas ,o som lindo que faziam adorava velos ,todos sentados para a rua ,e faziam aqueles cobres martelados que bom.
(Comentário feito no facebook).
Joaquim Baptista
ResponderEliminarícone do distintivo
Que belo texto com verdade nua e crua.
(Comentário feito no facebook).
Abraço, amigo Baptista.
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