quinta-feira, dezembro 05, 2024

TRISTEZAS DO PASSADO

                              

JOSÉ ANTÓNIO MORÃO
 (1786-1864

Foi Comissário dos Estudos do Distrito de Castelo Branco (com Carta de 1852), 2º Reitor, mas 1º nomeado, do Liceu de Castelo Branco (08/04/1852-02/05/1853). Formado pela Universidade de Coimbra em Matemática, Filosofia e Medicina 1812, exerceu como médico em Almada e Castelo Branco, foi Governador Civil de Castelo Branco (1848) na qualidade de Vogal do Conselho do Distrito, bem como Provedor da Misericórdia de Castelo Branco e Deputado da Nação pela Beira Baixa (1834
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Em 1 de Agosto de 1864 faleceu em Castelo Branco o distinto médico e bibliófilo Dr. José António Morão, que havia nascido em 3 de Setembro de 1786 do consórcio de José António Morão com D. Isabel Violante. 
Este ilustre clinica do partido municipal da cidade, que foi deputado vogal do primeiro Concelho do Distrito e governador civil, legou a sua valiosa biblioteca ao público municipal de Castelo Branco. São do seu testamento as seguintes disposições:
Na casa da rua do Pina, que habito desde o ano de 1846, acha-se a minha livraria, formada de 3200 e tantos volumes, não contando livros truncados nem manuscritos; com quanto me haja custado muito bom dinheiro, não se venderia hoje por 400 mil réis, atendendo ao uso que dela se tem feito e ao pouco gosto que quase geralmente ah-de de devassar obras de artes e de ciências das quais consta a minha coleção na máxima parte. 
Tal qual é, julgando-a profícua numa terra de segunda ordem e afastada das grandes cidades do reino, tomo a deliberação de conserva-la intacta no próprio local em que ora está posta, para se prestar ás necessidades de pessoas literatas, decentes e bem morigeradas que, em ocasião oportuna e a horas cómodas, ali queiram ir para ter, consultar ou extractor a doutrina dos seus livros que lhe será fornecido e também tinta e papel, por meu sobrinho de meu mesmo nome que, para este efeito, apelido meu fiel comissário, sem que a biblioteca haja de pertencer-lhe em próprio ou a seus sucessores, em sua morte ou por ausência para fora do pais. 
A todos vedo o empréstimo de qualquer dos livros que a constituem, nem por horas, a pessoa alguma, não obstante a maior relação de respeito e amizade que possa liga-los à que semelhante favor deles exista. É pois que o referido meu sobrinho se comprometa (a sua palavra e honradez são por mim acreditadas!) não só a guardar e a bem conservara biblioteca de que se trata mas ainda a dota-la anualmente de novas obras em modo compatível com as suas despesas, para assim o público municipal ser mais vantajosamente servido, peço àquele que se esforce por inspirar a seus sucessores no fiel comissário as mesmas ideias de conservação e de aumento em tal legado.”
O importante espólio do Dr. Morão não interessou à Câmara Municipal: a biblioteca não foi facultada ao público pelo Comendador e Industrial José António Morão, sobrinho herdeiro e fiel comissário do testador e o Município não reivindicou esse direito. 
A despeito de não ter sido revogado a portaria de 9 de Setembro de 1834, em 1867 o governador civil solicitou ao Governo autorização para formar uma biblioteca com os livros dos extintos conventos e em 1870 renovou o pedido. O governo "aquiesceu" sugerindo a conveniência de ser aprovado em sessão da Câmara Municipal um subsídio para a aquisição de livros. Por decreto de 2 de Agosto de 1870 determinou o Governo que se criassem bibliotecas em todos os concelhos do país a expensas das respetivas Câmaras. O município de Castelo Branco continuou, todavia a desinteressar-se pela organização da biblioteca, não dando cumprimento àquela resolução governamental.
PS. O texto é apresentado nesta página, tal qual foi escrito na época.
Publicado no antigo jornal "Beira Baixa" em 1951. Autor; Manuel Tavares dos Santos.

O ALBICASTRENSE

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