ESTÁTUA DE JOSÉ LOPES DIAS
FOI COLOCADA EM FRENTE À ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE
Na passado semana foi colocada frente à Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias, uma estatua do seu fundador. Foi uma merecida homenagem a um homem a quem a terra albicastrense muito deve, é o mínimo que posso dizer.
Dos cadernos de cultura da Beira Interior, retirei uma pequena biografia da autoria de Fernando Dias de Carvalho sobre o Dr. José Lopes Dias, biografia que pode ser lida nesta publicação.
EVOCAÇÃO
DO DOUTOR JOSÉ LOPES DIAS
(Fernando Dias de Carvalho)
Foi com muito prazer que aceitei o convite para
falar sobre o Dr. José Lopes Dias, homem invulgar,
com quem convivi largamente mais de uma década
e de quem fui admirador e grande amigo, devendo-lhe muitos ensinamentos de ordem humanista e de
saúde pública.
O Dr. José Lopes Dias nasceu em Vale de Lobo,
hoje Vale da Senhora da Póvoa, concelho de
Penamacor, em 5 de Maio
de 1900, sendo o 2° filho do
casal José Lopes Dias, professor primário, e Carlota
Leitão Barreiros, doméstica,
oriunda de Belmonte.
Tiveram 5 filhos.
Licenciou-se em Medicina
em 1923 pela Universidade
de Coimbra, frequentando
em seguida o Hospital de
Sainte Pietrïere, em Paris,
durante dois anos.
Exerceu a atividade
profissional primeiro em
Penamacor, durante seis
anos, fixando-se em Castelo
Branco, em 1933, onde
viveu até 12 de Janeiro de
1976, data da sua morte.
Aqui exerceu os cargos de
Médico escolar e Delegado
de Saúde do distrito,
sabendo acompanhar e
compreender as profundas
transformações que ocorreram no campo da
medicina.
As suas principais preocupações eram a
prevenção, o ensino para a saúde e o
desenvolvimento, pois sentia bem que uma
sociedade só se torna saudável quando a par da
educação houver desenvolvimento sócio económico e cultural equilibrado e harmonioso.
Três ideias força dominaram a sua vida:
I - Um acrisolado amor a Castelo Branco e à sua
região.
Por ele se fixou
nesta cidade, apesar de vários
convites para cargos superiores da Administração, e Chefe de Serviço Hospitalar de Pediatria.
Investigador de temas médicos
aqui desenvolveu uma ação ímpar na promoção cultural, sendo um dos fundadores da Ação Regional
do Círculo Cultural, da Revista Estudos de Castelo
Branco, além de escrever numerosos artigos na
imprensa regional de então. Analisando toda a sua
atividade na região podemos afirmar que ninguém
a serviu melhor e por isso ninguém a exaltou mais.
Confessava ele próprio que só compreendia a
homenagem que lhe
prestavam “pelo estranho
amor a esta cidade e a esta
província, mas nada é mais
natural e profundo do que
servir ao que se ama”.
II - O médico, onde brotava
e podíamos sentir palpitar de
modo tão desinteressado o
enorme desejo de servir e
comunicar ensinamentos,
sentia bem que a saúde é um
problema eminentemente
político, não podendo
dissociar-se da filosofia de
vida e dos valores de uma
cultura.
Ela não depende
portanto do êxito isolado de
um fator, quer este seja de
natureza biológica, psicológica
ou sociocultural, depende sim
do equilíbrio e da capacidade
de adequação dos
mecanismos de defesa
pessoais, sociais, culturais e
do lugar e importância que a pessoa, o cidadão,
ocupa realmente na vida do país.
Ninguém melhor sentiu e interpretou esta filosofia
de vida que o Dr. José Lopes Dias, sendo uma das
suas paixões lutar contra a ignorância, o
subdesenvolvimento e o consequente baixo nível
sanitário das populações. O seu profundo sentido
de serviço levou-o a debruçar-se com entusiasmo e
esforço sobre problemas ligados à organização
sanitária do distrito, criando obras de indiscutível
merecimento, como a Escola de Enfermagem, hoje
Escola Dr. José Lopes Dias, que vem prestando à
região e ao país precioso auxilio, mercê dos técnicos
aqui formados; O Jardim Escola João de Deus,
porque sabia quanto é importante o ensino pré-escolar para o desenvolvimento da criança; em colaboração com a Junta Distrital de que foi membro,
o Dispensário de Puericultura Dr. Alfredo Mota, com
as suas delegações rurais que englobava o Lactário,
a Puericultura, a Pediatria Social, a Creche e as
Colónias Marítimas para crianças na Praia da Nazaré.
Como Delegado de Saúde soube travar uma grande
luta com os então responsáveis pelo Ministério da
Saúde, para conseguir a profilaxia da endemia do
bócio existente nos concelhos da área do pinhal.
Mas um espírito profundo e desejoso de servir com
competência e profissionalismo, sempre
desinteressadamente, sabia que para além das obras
criadas era indispensável transmitir conhecimentos
e por isso escreveu:
Da Higiene da Primeira Infância; Tuberculose
Pulmonar no Distrito de Castelo Branco; Pelos
tuberculosos de Castelo Branco; Um Serviço Social
de Puericultura; Em redor do Serviço Social; Breves
considerações sobre a Tuberculose em Sanidade
Escolar; As criancinhas portuguesas na política da
Assistência; La protection de Fenfant à Ia campagne;
Misericórdias e Hospitais da Beira Baixa;
Apontamentos de Higiene das Escolas Primárias;
Relatórios do Dispensário de Puericultura Dr. Alfredo
Mota; Amato Lusitano - dr. João Rodrigues da Castelo
Branco; Elementos da História da Proteção aos
Estudantes na Idade Média e no séc. XVI; A Confraria
da Caridade dos Estudantes;
O Primeiro Médico
Escolar; Terapêutica de Amato Lusitano; Cantigas
Populares da Beira Baixa, lidas e ouvidas por um
médico; Organização e Técnica da Assistência Rural; Lições de Serviço Social; As Albergarias Antigas
da Beira Baixa; Medicina da “Suma Orientar de Tomé
Pires; Hidrologia Médica do Distrito de Castelo
Branco; Ensaio de Combate à Mortalidade Infantil em
Castelo Branco; Ensaio do Dr. L G. Leibowitz sobre
Amato Lusitano; Duas Cartas de Ricardo Jorge a
Menendez y Pelayo sobre ‘La Celestina”; Epidemia
de Salmonelose Typhimurium; Abreugrafia dm Saúde
Pública, de colaboração com o Dr. Manuel Lopes
Louro; Estudantes da Universidade de Coimbra
naturais de Castelo Branco; Enfermagem, Saúde,
Assistência Rural; Um Médico Esquecido: o Dr. José
António Mourão, Fundador da Biblioteca Municipal
de Castelo Branco; Homenagem ao Dr. João
Rodrigues de Castelo Branco; Manuel Joaquim
Henriques de Paiva, Médico e Poligrafo luso--brasileiro; Tavares Proença Júnior, Fundador do
Museu Regional de Castelo Branco; Dois
documentos inéditos sobre o poeta João Roiz de
Castelo Branco; Um centenário esquecido - o
conselheiro Jacinto Cândido; A Misericórdia de
Castelo Branco - apontamentos históricos; Duas
Cartas Inéditas do Dr. José Henriques Ferreira,
Comissário do Físico-mor e Médico do Vice-Rei do
Brasil, a Ribeiro Sanches; e em colaboração com o
Dr. Firmino Crespo a tradução das Sete Centúrias
de Curas Médicas do Dr. João Rodrigues de Castelo
Branco (Amato Lusitano); e ainda o Relatório sobre
Saúde Pública e Segurança Social em França,
Inglaterra e Espanha feito como bolseiro do Instituto
de Alta Cultura.
III - Como escritor e historiador fica o testemunho
das obras citadas, sem termos esgotado a sua
menção.
O espírito insatisfeito que o caracterizava, levou-o
a cultivar muitos ramos do saber, mantendo
simultaneamente a maior distinção e dignidade em
todas as suas atividades. As obras falam por si. A
sua preparação dá-nos bem a dimensão do homem
que foi o Dr. José Lopes Dias nos omnímodos
aspetos da vida.
Melhorar as condições sanitárias, ensinar e
desenvolver foram as opções de vida deste nosso
ilustre conterrâneo.
Senhoras e Senhores:
Apresentei-vos sucinta e pobremente um dos
grandes do nosso distrito, que bastante por ele
trabalhou e o amou.
O Homem que soube ser
médico, historiador e escritor e soube ainda unir,
numa visão humanista, um ideal de vida, de
civilização e de cultura, baseado no princípio de que
o verdadeiro desenvolvimento tem por centro o
Homem. Foi esta a sua vivência no dia a dia. É esta
a grande lição que o Dr. José Lopes Dias nos legou.
O ALBICASTRENSE
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