sexta-feira, setembro 26, 2025

JOSÉ LOPES DIAS - UMA JUSTA HOMENAGEM

ESTÁTUA DE JOSÉ LOPES DIAS
 FOI COLOCADA EM  FRENTE À ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE

Na passado semana foi colocada frente à Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias, uma estatua  do seu fundador. Foi uma merecida homenagem a um homem  a quem a terra albicastrense muito deve, é o mínimo que posso dizer. 
 Dos cadernos de cultura da Beira Interior, retirei uma pequena biografia da autoria de Fernando Dias de Carvalho sobre o Dr. José Lopes Dias, biografia que pode ser lida nesta  publicação.  
EVOCAÇÃO DO DOUTOR JOSÉ LOPES DIAS 
(Fernando Dias de Carvalho)
 Foi com muito prazer que aceitei o convite para falar sobre o Dr. José Lopes Dias, homem invulgar, com quem convivi largamente mais de uma década e de quem fui admirador e grande amigo, devendo-lhe muitos ensinamentos de ordem humanista e de saúde pública. 
 O Dr. José Lopes Dias nasceu em Vale de Lobo, hoje Vale da Senhora da Póvoa, concelho de Penamacor, em 5 de Maio de 1900, sendo o 2° filho do casal José Lopes Dias, professor primário, e Carlota Leitão Barreiros, doméstica, oriunda de Belmonte. 
Tiveram 5 filhos. Licenciou-se em Medicina em 1923 pela Universidade de Coimbra, frequentando em seguida o Hospital de Sainte Pietrïere, em Paris, durante dois anos. Exerceu a atividade profissional primeiro em Penamacor, durante seis anos, fixando-se em Castelo Branco, em 1933, onde viveu até 12 de Janeiro de 1976, data da sua morte. Aqui exerceu os cargos de Médico escolar e Delegado de Saúde do distrito, sabendo acompanhar e compreender as profundas transformações que ocorreram no campo da medicina. As suas principais preocupações eram a prevenção, o ensino para a saúde e o desenvolvimento, pois sentia bem que uma sociedade só se torna saudável quando a par da educação houver desenvolvimento sócio económico e cultural equilibrado e harmonioso. Três ideias força dominaram a sua vida: 
I - Um acrisolado amor a Castelo Branco e à sua região. 
Por ele se fixou nesta cidade, apesar de vários convites para cargos superiores da Administração, e Chefe de Serviço Hospitalar de Pediatria. Investigador de temas médicos aqui desenvolveu uma ação ímpar na promoção cultural, sendo um dos fundadores da Ação Regional do Círculo Cultural, da Revista Estudos de Castelo Branco, além de escrever numerosos artigos na imprensa regional de então. Analisando toda a sua atividade na região podemos afirmar que ninguém a serviu melhor e por isso ninguém a exaltou mais. Confessava ele próprio que só compreendia a homenagem que lhe prestavam “pelo estranho amor a esta cidade e a esta província, mas nada é mais natural e profundo do que servir ao que se ama”. 
II - O médico, onde brotava e podíamos sentir palpitar de modo tão desinteressado o enorme desejo de servir e comunicar ensinamentos, sentia bem que a saúde é um problema eminentemente político, não podendo dissociar-se da filosofia de vida e dos valores de uma cultura. 
Ela não depende portanto do êxito isolado de um fator, quer este seja de natureza biológica, psicológica ou sociocultural, depende sim do equilíbrio e da capacidade de adequação dos mecanismos de defesa pessoais, sociais, culturais e do lugar e importância que a pessoa, o cidadão, ocupa realmente na vida do país. 
 Ninguém melhor sentiu e interpretou esta filosofia de vida que o Dr. José Lopes Dias, sendo uma das suas paixões lutar contra a ignorância, o subdesenvolvimento e o consequente baixo nível sanitário das populações. O seu profundo sentido de serviço levou-o a debruçar-se com entusiasmo e esforço sobre problemas ligados à organização sanitária do distrito, criando obras de indiscutível merecimento, como a Escola de Enfermagem, hoje Escola Dr. José Lopes Dias, que vem prestando à região e ao país precioso auxilio, mercê dos técnicos aqui formados; O Jardim Escola João de Deus, porque sabia quanto é importante o ensino pré-escolar para o desenvolvimento da criança; em  colaboração com a Junta Distrital de que foi membro, o Dispensário de Puericultura Dr. Alfredo Mota, com as suas delegações rurais que englobava o Lactário, a Puericultura, a Pediatria Social, a Creche e as Colónias Marítimas para crianças na Praia da Nazaré. 
Como Delegado de Saúde soube travar uma grande luta com os então responsáveis pelo Ministério da Saúde, para conseguir a profilaxia da endemia do bócio existente nos concelhos da área do pinhal. Mas um espírito profundo e desejoso de servir com competência e profissionalismo, sempre desinteressadamente, sabia que para além das obras criadas era indispensável transmitir conhecimentos e por isso escreveu: Da Higiene da Primeira Infância; Tuberculose Pulmonar no Distrito de Castelo Branco; Pelos tuberculosos de Castelo Branco; Um Serviço Social de Puericultura; Em redor do Serviço Social; Breves considerações sobre a Tuberculose em Sanidade Escolar; As criancinhas portuguesas na política da Assistência; La protection de Fenfant à Ia campagne; Misericórdias e Hospitais da Beira Baixa; Apontamentos de Higiene das Escolas Primárias; Relatórios do Dispensário de Puericultura Dr. Alfredo Mota; Amato Lusitano - dr. João Rodrigues da Castelo Branco; Elementos da História da Proteção aos Estudantes na Idade Média e no séc. XVI; A Confraria da Caridade dos Estudantes;
O Primeiro Médico Escolar; Terapêutica de Amato Lusitano; Cantigas Populares da Beira Baixa, lidas e ouvidas por um médico; Organização e Técnica da Assistência Rural; Lições de Serviço Social; As Albergarias Antigas da Beira Baixa; Medicina da “Suma Orientar de Tomé Pires; Hidrologia Médica do Distrito de Castelo Branco; Ensaio de Combate à Mortalidade Infantil em Castelo Branco; Ensaio do Dr. L G. Leibowitz sobre Amato Lusitano; Duas Cartas de Ricardo Jorge a Menendez y Pelayo sobre ‘La Celestina”; Epidemia de Salmonelose Typhimurium; Abreugrafia dm Saúde Pública, de colaboração com o Dr. Manuel Lopes Louro; Estudantes da Universidade de Coimbra naturais de Castelo Branco; Enfermagem, Saúde, Assistência Rural; Um Médico Esquecido: o Dr. José António Mourão, Fundador da Biblioteca Municipal de Castelo Branco; Homenagem ao Dr. João Rodrigues de Castelo Branco; Manuel Joaquim Henriques de Paiva, Médico e Poligrafo luso--brasileiro; Tavares Proença Júnior, Fundador do Museu Regional de Castelo Branco; Dois documentos inéditos sobre o poeta João Roiz de Castelo Branco; Um centenário esquecido - o conselheiro Jacinto Cândido; A Misericórdia de Castelo Branco - apontamentos históricos; Duas Cartas Inéditas do Dr. José Henriques Ferreira, Comissário do Físico-mor e Médico do Vice-Rei do Brasil, a Ribeiro Sanches; e em colaboração com o Dr. Firmino Crespo a tradução das Sete Centúrias de Curas Médicas do Dr. João Rodrigues de Castelo Branco (Amato Lusitano); e ainda o Relatório sobre Saúde Pública e Segurança Social em França, Inglaterra e Espanha feito como bolseiro do Instituto de Alta Cultura. 
III - Como escritor e historiador fica o testemunho das obras citadas, sem termos esgotado a sua menção. 
O espírito insatisfeito que o caracterizava, levou-o a cultivar muitos ramos do saber, mantendo simultaneamente a maior distinção e dignidade em todas as suas atividades. As obras falam por si. A sua preparação dá-nos bem a dimensão do homem que foi o Dr. José Lopes Dias nos omnímodos aspetos da vida. Melhorar as condições sanitárias, ensinar e desenvolver foram as opções de vida deste nosso ilustre conterrâneo. Senhoras e Senhores: Apresentei-vos sucinta e pobremente um dos grandes do nosso distrito, que bastante por ele trabalhou e o amou. 
O Homem que soube ser médico, historiador e escritor e soube ainda unir, numa visão humanista, um ideal de vida, de civilização e de cultura, baseado no princípio de que o verdadeiro desenvolvimento tem por centro o Homem. Foi esta a sua vivência no dia a dia. É esta a grande lição que o Dr. José Lopes Dias nos legou. 
O ALBICASTRENSE

Sem comentários:

Enviar um comentário

JOSÉ LOPES DIAS - UMA JUSTA HOMENAGEM

ESTÁTUA  DE JOSÉ LOPES DIAS  FOI COLOCADA EM   FRENTE À ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE Na passado semana foi colocada frente  à Escola Superior de...