(Continuação)
Os trabalhos interrompidos no
dia 1 de Janeiro continuaram no dia 6. Predominaram as arrematações. É
interessante dar delas, pelo menos sucinta notícia, porque nos dão a conhecer
os recursos de que a Câmara dispunha em 1655 e os meios de que se servia para a
realização de certas obras. Uma vez conhecido, já podemos caminhar mais
depressa, demorando-nos apenas com os casos mais interessantes.
Comentários sobre a acta:
Neste dia 6 de Janeiro de 1655,
procedeu-se logo de entrada à a Rematação de Renda do verde nas aldeias.
Depois das palavras
sacramentais do principio do termo, sempre as mesmas, lê-se que não havendo
quem milhor lanso fizese do que foi Francisco de matos que lansou em adita
Renda Sento e dês mil Reis esete côvados depano verde para amenza do
tabahais e hu alpendre com três colunas lavradas depedra e otelhdo reboquado de
cal quanto diz da quinha de Manuel Fernandes bigodes até ocabo do poial à porta
de Maria gezoina o que será feito por todo omes de marso e quatro Resmas de
papel paguas logo e com das estas condisois o dito lansador foi contente e os
ditos offisiais de Camera lhe mandarão arrematar o que foi satisfeito por
bernardo dovale porteiro da Camera que lhe meteo oramo na mão…
Com todas estas ocisas de
arrematações nunca as cautelas eram de meias, como ainda hoje o não são, e por
isso foi preciso um fiador. A este respeito diz o auto:
“e logo pareseo Manuel da costa
aalvarenga e dise que ele afiava as quebras emcaso que as ouvese e assim mais
ao principal…”
Vê-se assim que a arrematação
dos verdes nas aldeias dava para a Câmara uma parte em dinheiro e outra em
obras, outra ainda em mercadorias, desde o pano verde para “ameza dos
tabaliais” até as resmas de papel.
Deve observar-se que as resmas
de papel, “pagus” logo, não eram sempre pagas na espécie, antes a maior parte
das vezes o eram a dinheiro.
A seguir á arrematação da renda
do verde das aldeias veio a a Remataçao do verde dalém deponsul. O melhor lanço
foi o de Jurdão Fernandes que lansou na dita Renda quarenta etres mil
Reis pagos aos quartéis como he costume equatro Resmas depapel paguas
loguo digo as ordinárias costumadas paguas loguo com obrigasão mais de levantar
mais dois palmos as paredes das ilharguas do tanque e hua delas aquerescentada
mais para o meio e cobrilas ambas depedra lavrada de cantaria e assim também as
asquadas depedra lavrada e as ilharguas do tanque da mesma sorte.
Apareceu, é
claro. O clássico fiador, que desta vez foi “Miguel Lourenço” que: dise que
ofiava as quebras e dava fiansa acontento dos vereadores dentro emquinze dias.
Vem logo outra arrematação:
É a A Remataçao da Renda do
Verde deste vila.
O melhor lanço foi o de:
Francisco Ruiz puxa que lansou na dita Renda sento evinte edois mil Reis paguos
aos quartéis como he costume ehú pano de cochonilha com sua frania verde deseda
para amenza da Camera eas ordinárias costumadas paguas logo. Serviu de
fiador “Miguel Martins, que assinou Migel miz e que diz o mesmo de todos os
fiadores, que dão fiansa acontento dos vereadores.
Mas ainda não ficaram por aqui
as arrematações. Houve ainda a A Remataçao da Siza dos bens derais dos montes
da fregusia de Santa Maria.
O arrematante desta vez
foi: Manuel frz sapateiro que lansou nela três mil e cem Reis pagos aos
quartéis como he costume.
Palavra do autor:
Espanta que tão pouco rendesse
a Siza dos bens de raiz dos montes da freguesia de Santa Maria, atendendo a que
esta freguesia não só abrangia a parte da cidade que ficava da rua de Santa
Maria para o castelo, mas além disse, as actuais freguesias de Benquerenças e
do Retaxo. Também de
fracos recursos devia dispor o mestre sapateiro “Manuel frz”, que não se
atrevem a pagar de uma só vez a importância da arrematação, “três mil e cem
Reis”, antes fez consignar que seriam pagos aos quartéis como he costume.
No dia 6 de Janeiro ficaram por
aqui as arrematações, o que não quer dizer que não houvesse ainda muitas a
fazer. Havia, como oportunamente veremos que andarão muitos dias emperguão;
especialmente para o pregoeiro, e por isso se tornava necessário variar os
assuntos a tratar.
Assim é que, nesta mesma sessão, depois de se darem por
encerradas as arrematações, se abriu a pauta do lugar de Malpiqua, para que os
bons Malpiqueiros não ficassem sem juízes, como os tinham já desde cinco dias
antes outras freguesias. Por isso, a seguir ao último termo de arrematação, se
lê:
Acta
Logo nadita Camera abrirão
apauta do lugar de malpiqua etirarão porjuizes pedro dias guordo francisco
Gonçalves epor procurador domingos alvares Rey eojuiz lhe deo juranmento dos
santos avangelhos, etc.
Nas cortes de 1641, os procuradores de Castelo Branco reclamaram contra o imposto chamado “ renda das penas” por o julgarem vexatório. A reclamação não foi atendida logo nem o foi até 1655, porquanto em 9 de Janeiro desse ano foi mandado por emperguao a Renda das penas desta vila, e quem melhor lanço ofereceu foi Manuel frz samcristao.
Nas cortes de 1641, os procuradores de Castelo Branco reclamaram contra o imposto chamado “ renda das penas” por o julgarem vexatório. A reclamação não foi atendida logo nem o foi até 1655, porquanto em 9 de Janeiro desse ano foi mandado por emperguao a Renda das penas desta vila, e quem melhor lanço ofereceu foi Manuel frz samcristao.
Palavra do autor: Agora
vejam até onde chegou a coragem deste sacristão nesta arrematação de renda das
penas da notável vila de Castelo Branco:
Acta
Lansou na dita Renda oitenta
eseis mil Reis paguos aos quartéis como he costume e hua porta feita na casa
daaudiencia com sua grade deferro como a que está nacasa da Camera e outrosim
cinsertar aponte docabo dos olivais caminho dealcains e hu batorel aolongo da
orta na comrespondencia daponte até acabo da parede e comsertar a calsada que
serão duas brasas dabanda de que da ponte oque será feito por todo ames de
marso e hupano de cochonilha com sua frania verde na confirmidade da Remataçao
pasada e que são oito mil Reis ou apano paguas e limpeza das Ruas como he
costume.
Palavra do autor:
Era de respeito, como se vê. O
dinheiro não seria de mais, se bem que oitenta e seis mil réis em 1655
correspondiam hoje a alguns milhares de escudos; mas o reste dos encargos que
assumiu o Sr. Manuel frz samcristão valia bem mais. Uma porta com grades de
ferro as casas da audiência, o concerto da ponte do cabo dos olivais no caminho
de Alcains, com bastorel ao longo da horta na correspondência da ponte, o
concerto de duas braças de calçada para a ponte, um pano de cochonilha com sua
franja verde ou oito mil réis, seu valor em dinheiro e, ainda por cinda, a
limpeza das ruas, tudo isso a somado valia muito dinheiro.
Era preciso que a renda das
penas fosse coisa de importância e que o bom sacristão se não descuidasse na
cobrança, que com certeza lhe não havia de valer muitas simpatias, para se sair
bem da arrematação; e razões de sobra tinham os procuradores do concelho ás
cortes de 1641, para pedirem a suspensão de tal imposto como vexatório. ara
garantia do pagamento do imposto precisava o arrematante de fiador e este não
lhe faltou. Prestou-se a isso domingos frz domingão que assinou o
termo… de cruz. E a cruz que fez no fim do termo era de respeito em
tamanho.
Não era sensivelmente
menor do que a da igreja onde o samcristão tocava os sinos, com certeza. Também
não é de estranhar que assim fosse. Se o homem não era só domingos, mas era
domingão, possivelmente era algum gigante. E regulava o tamanho das cruzes
pelo seu corpo. “Arc”.
(Continua)
PS - Publicado no Jornal
“A Era Nova” em 1927
O Albicastrense
É fantástico. Nada como um bocado de história para afastar a polémica não é Sr. Veríssimo?
ResponderEliminarPara quando essa reportagem sobre a desgraça dos nosos parques infantis onde oos há ecomo é que se encontram?
Caro anónimo.
ResponderEliminarDeixe que lhe diga que não tenho o poder da multiplicação, (bem gostaria de o ter!!!) se o tivesse talvez pudesse falar aqui sobre muitos outros assuntos.
Como deve saber… não é fácil falar do passado, pois esta tarefa obriga-me a gastar muito meu tempo livre na nossa biblioteca, ficando sem tempo muitas vezes para observar melhor o que se passa à minha volta.
No entanto prometo dar uma volta pelos Parques infantis da nossa cidade, assim que me for possível.
Se tiver dados sobre este tema pode deixa-los aqui, pois serviram de base para esse trabalho.
Caro Veríssimo
ResponderEliminarA história é sempre um bom assunto e algumas informações que nos são extremamente utéis, mas deve conferir toda a informação quando ignora o significado do mesmo. Por exemplo, a renda do verde não incide sobre bens de raiz, mas concerne a coimas aplicadas por danos provocados pelo gado nos cultivos
Com este último comentário é que se vai preocupar ARC! Quem é que deve conferir o quê, tratando-se da transcrição de um artigo publicado num jornal local antigo?
ResponderEliminar1º Caro Anónimo.
ResponderEliminarOs dados aqui apresentados são da autoria de António Rodrigues Cardoso, (8/7/1864 - 28/1/1944) e foram publicados no jornal “A ERA NOVA”.
O objectivo que me motivou a colocar aqui algumas das actas, que António Rodrigues Cardoso (Arc) estudou e publicou no jornal onde era director, na sua rubrica “Efemérides Municipais” é o de dar a conhecer aos albicastrenses de hoje, um trabalho que caiu no nosso esquecimento colectivo.
Se existem erros de interpretação ou de esclarecimento dos factos, teremos que passar por cima deles, pois este trabalho de pesquisa que durou quatro longos anos!!! Deve ter tirado o sono, (muitas vezes) ao seu autor.
Caro anónimo, vamos esquecer qualquer erro e agradecer e este grande homem, que embora não sendo albicastrense, (Nasceu na Sobreira Formosa) tomou a nossa cidade como sua, e fez por ela, mais que a grande maioria dos que aqui nasceram.
Um abraço.
2º Anónimo.
ResponderEliminarDiz o segundo anónimo: Quem é que deve conferir o quê, tratando-se da transcrição de um artigo publicado num jornal local antigo?
Caro amigo: Tratando-se de uma transcrição antiga, (com mais setenta anos). A mesma deve ser transcrita como foi publicada na referida época, (na minha modesta opinião).
Não seria correcto da minha parte, (e mesmo que o quisesse fazer não poderia, em virtude de não possuir os conhecimentos necessários para tal).
Fazer alterações ao trabalho de António Rodrigues Cardoso (Arc) seria da uma autêntica barbaridade da minha parte, porém nada impede que futuros investigadores o façam em trabalhos a realizar neste sector.
Um abraço.
Concordo com o que diz Albicastrense.Segundo Anónimo
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