sexta-feira, junho 12, 2009

EFEMÉRIDES MUNICIPAIS - XVIII


(Continuação)
A rubrica Efemérides Municipais foi publicada entre Janeiro de 1936 e Março de 1937, no jornal “A Era Nova”. Transitou para o Jornal “A Beira Baixa” em Abril de 1937, e ali foi publicada até Dezembro de 1940. A mudança de um para outro jornal deu-se derivada à extinção do primeiro. António Ribeiro Cardoso, “ARC” foi o autor desde belíssimo trabalho de investigação, que lhe deve ter tirado o sono, muitas e muitas vezes.

O texto está escrito, tal como foi escrito e publicado em 1937.
Os comentários do autor estão aqui na sua totalidade.
Comentário do autor: Em sessão de 2 de Fevereiro de 1781 foi presente á Câmara uma carta do Visconde de Vila Nova de Cerveira, datada de 16 de Janeiro, comunicando a morte da Rainha Mãe, D. Maria Vitória. A Câmara, informada do facto, imediatamente resolveu;
Acta de 1781: “Que se apregoasse logo pellas ruas publicas deste cidade; para que todas as pessoas della botassem luto tres meses rigorozo e ters meses aliviado de forma que completacem sies mezes advertindo àqueles que fossem pobres que não tenham com que possão vestirçe todos de luto se lhes premite de poderem satisfazer a dita obrigação com algum sinal de fumo ou diviza preta, e toda o que o não fizer sera condenado em sinco tostões pagos da cadeya em que estarão outo dias, e que no dia que se determinar se avizará toda a nobreza e povo por pregão para hirem a sistir à celebração das Exezequias que se fizerem debaixo da msema para os que faltarem; pois sendo todo este Reyno tão obrigado a Serenissima Senhora Raynha defunda em razão se ser tão amante dos seus vassalos além das suas Excelentes virtudes morais e politicas deviam todos os Povos e pincipalmente os desta Cidade e termo pella distinta honrra que nos fez no feliz Reynado de Seu Augusto Marido de eregir de novo em cidade esta que antigamente era villa notavel concorrer para o justo sentimento de tão consideravel e relevante perda para o que ainda consideramos ser muito deminutta toda a demonstrassão do nosso sentimento.”
Comentário do autor: Assim, “aquellas pessoas a que he”, se não eram subalternos, apanhavam vinte mil reis para o luto; se eram subalternos apanhariam menos alguma coisa, “o mesmo que estão se praticara”; se não eram pessoas a quem se houvessem de dar os “custumados lutos” tivessem paciência adquirissem o luto á sua custa. Tabem é verdade que para os pobres o luto não ficava caro. Bastava um fumo ou “deviza preta”, que se adquiria com poucos vinténs.
Até aqui ha poucos anos, Pina Manique era para todos os nossos Liberais e até para muitos que se gabavam de o não ser, a verdadeira incarnação do malfeitor, do déspota sem coroa, um homem de coração duro e inteligência curta, que se fizera notar e odiar pela perseguição a todas os espíritos que queriam libertar-se dos velhos preconceitos de uma política retrógrada.
O odioso Independente Geral da Policia da Corte e Reino não era mais nem menos do que isso e por esta razão a sua memória devia ser execrada, amaldiçoada, não se lhe levando sequer em desconto serviços relevantes da fundação da Casa Pia e do extermínio das quadrilhas que infestavam Lisboa.
A Maçonaria, com a qual Pina Manique nunca transigiu, é que ensinou a escrever a historia de uma maneira tão ... Liberal. Hoje a Historia, revista por homens probos e de talento, que se não deixaram arrastar pelo boato em letra redonda pêlos satélites dos “ iluminados”, já fez justiça a Pina Manique, homem de coração e homem de acção, que sabia providenciar e prever; que sabia castigar e premiar; que prendia os ladroes, os arruaceiros e os vadios, mas acudia ás crianças que não tinha quem olhasse por elas; que tinha pulso de ferro para manter a ordem e mão delicada para os acariciar órfãos e desprotegidos da sorte; que tinha olhos de lince para descobrir os que eram uma ameaça para a ordem constituída, mas não perseguia por ódio; que estava em Lisboa, mas nem por isso deixava de fazer sentir a sua influencia benéfica em todo o pais. Temos aqui um exemplo frisante do seu espirito de previdência, o embaixador de Espanha informou que em diversos pontos próximos da fronteira tinha aparecido uma terrível praga de gafanhotos que devastavam por complete os campos, deixando por onde passavam a miséria e a ruína da lavoura.
Pois o terrível Intendente, sem perda de um momento, oficiou aos procuradores das comarcas fronteiriças, recomendando-lhes a maior vigilância e indicando-lhes precauções a tomar.
Um dos exemplares desses ofícios foi lido em sessão da Câmara de Castelo Branco, realizada em 11 de Maio de 1781 e lia-se nele:
Acta de 1781: E como poderão já ter levantado daqueles sítios e infestado algumas terras deste Reyno, vossa mercê, logo, sem a menor perda de tempo, passará pessoalmente e averiguar em todas as terras da sua jurisdição e sítios mais vizinhos da raya se com effeito tem passado para este Reyn gafanhotos e existindo em algumas dellas vossa mercê dará aquellas providencias que parecerem necessárias e se tem dado em outros semelhantes casos, mandando em primeiro logar tapar os poços e fontes com portas á custa dos bens do concelho para que não possam infeccionar as aguas e seguir-se algum contagio nos Povos, havendo toda a cautela com aquellas pessoas que forem tirar agua, para que os não deixem abertos. Convocará vossa mercê as Camaras e os moradores das mesmas terras, para que juntos todos sem excepção de pessoas alguma, vão aos sítios onde elles estiverem, e mandará queimar matos sobre elles antes que possam levantar voo, ou apanha-los em mantas ou toldos para os enterrarem em covas que para isso mandara abrir nos mesmos sítios para desta forma se poder extinguir semelhante praga antes que arruínem as searas e causem mayores prejuisos, dando-me vossa mercê logo parte de tudo o que achar com certesa pello mesmo correyo portador desta para que eu o fazer presente a Sua Majestade e a mesma Senhora poder dar as mais providencias que forem necessárias e esse respeito. E para as averiguações que vossa mercê deve fazer convocara lavradores e homens peritos que tenhão todo o conhecimento das mesmas terras, para poderem melhor explorar os sítios por onde poderão estar a fazer creaçao, mandando-me de tudo um auto por vossa mercê e pellos peritos assignado com a parte que der do que achar. O que vossa mercê assim executará com toda a actividade e zelo por ser mui objecto tão interessante ao Estado e ao público.
Deus Guarde a Vossa Mercê – Lisboa, 3 de Mayo de 1781 – Diogo Ignacio de Pina Manique.
Comentário do autor: Nada escapava ao terrível Intendente. Ordens precisas, claras, o que era preciso fazer para salvar as searas e acautelar a saúde publica, para destruir a praga e evitar que se reproduzisse. E para não haver demora, num tempo em que não havia telégrafo, nem comboios, nem automóveis, vem um correio de propósito e manda que por este mesmo se lhe de conta de tudo o que haja, para Sua Majestade “poder dar as providencias que forem necessárias a este respeito”. Se fosse mais “Liberal”, era capaz de receber a informação do embaixador espanhol e deitar-se dormir.
(Continua)
PsMais uma vez informe os leitores, dos postes, “Efemérides Municipais” que o que acabou de ler é uma transcrição fiel do que saiu em 1937. Modificar, emendar ou alterar estes artigos seria na minha perspectiva um insulto ao seu autor.
O Albicastrense

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