terça-feira, janeiro 01, 2013

PORTADOS QUINHENTISTAS - I

Para começar o ano de 2013, nada melhor que inicia-lo com um conjunto de post’s sobre uma das maiores preciosidades da terra albicastrense.
Em 1979 a revista “Estudos de Castelo Branco” publicou um trabalho do padre Anacleto Pires da Silva Martins, sobre os Portados Quinhentistas da Cidade de Castelo Branco.
Nesse trabalho, Anacleto Martins fez um levantamento dos portados da terra albicastrense, nele ficamos a saber com exactidão quantos eram os portados e em que ruas os podia-mos encontrar: trezentos e sete portados, divididos por quarenta e uma ruas”.
No mesmo trabalho, podemos igualmente constatar a desgraçada e miseravel situação em que muitos dos velhos portados da terra albicastrense se encontravam em 1979.
Perante os números apresentados pelo padre Anacleto Martins, perguntei a min próprio, se trinta e três anos depois da apresentação do seu trabalho, algo se teria alterado no “reino” dos portados da terra albicastrenses.

-  Será  que  os 307 portados  ainda  existem  na  sua totalidade?
- Será que  as palavras de Anacleto Martins cairão em roto, e tudo continua como dantes?
- Ou será, que as palavras de Anacleto Martins abriram os olhos aos responsáveis pela autarquia dessa altura e seguintes, e hoje tudo está diferente?

Para encontrar resposta às minhas interrogações, resolvi postar aqui o trabalho de Anacleto Martins e visitar as 41 ruas, para  desta forma ficar a saber, se efectivamente algo mudou no reino dos portados da terra albicastrense.
Trabalho  que  será  publicado  em vários post’s, que terão anotações minhas sobre as prováveis alterações provocadas pelo tempo e pela incúria dos homens, sobre os  portados referenciados por Anacleto Martins. Desta forma, poderemos avaliar se o padre Anacleto andou a pregar em terra de surdos, ou se pelo contrario, as suas palavras terão contribuído para  ajudar os nossos velhos portados quinhentistas.

Portados Quinhentistas de Cidade
de
 Castelo Branco
        Por Anacleto Martins
INTRODUÇÃO
Castelo Branco guarda, na zona limitada pelas muralhas, e não só, porventura, o  mais notável acervo de portas e janelas quinhentistas do nosso país, não obstante as frequentes agressões feitas nos últimos anos e que os protestos da imprensa não têm conseguido evitar.
Vamos tentar convencer os albicastrenses deste valor, para que, sentindo-se orgulhosos dele, o saibam defender e transmitir a seus filhos, como rico património que urge preservar, como elemento de cultura e de real turístico.
Pode perguntar-se porque não se preocuparam outras cidades com a delapidação do seu património  artístico e consentiram, sem protesto, na remodelação das suas ruas e na substituição de tantos dos seus antigos edifícios.
Cremos que só uma falta de cultura, bem lamentável, pode explicar tal delapidação. Quer dizer que, durante um largo espaço de tempo, os portugueses se alhearam do culto do seu património artístico e, em  muitos casos, colocaram acima desses valores, a preocupação do seu desenvolvimento urbanístico, por qualquer preço, ou de qualquer maneira.
De certo, não foi uma maior cultura, ou um mais desenvolvido sentido artístico, que preservaram a nossa cidade da onda iconoclasta que apagou a face medieval das nossas antigas vilas e cidades.
Para nós a explicação há-de ir buscar-se à carência de factores  de progresso de que outras vilas e cidades puderam beneficiar, antes de nós, e, acima de todos, parece-nos, o abastecimento normal de água.
Quando, em 1771, Castelo Branco se tornou sede de uma nova diocese e, consequentemente, foi elevada à categoria de cidade e a instalação  dos novos serviços urgia o seu desenvolvimento; quando a preocupação  da instrução, a alargar-se pelas aldeias, trouxe à cidade, sempre mais e mais estudantes; quando a sua privilegiada situação, como nó de comunicações, começou a apelar pelo seu alargamento – a falta de água asfixiava, em absoluto, qualquer veleidade de crescimento.
Assim se explica que, desde o século XVI, quase nada se tivesse alterado na maior parte das ruas da nossa cidade antiga, até aos nossos dias, precisamente até 1933, data em que a Câmara conseguiu  resolver, pelo menos para então, o problema  vital da água.
E a verdade é que, nesta altura, apesar de tudo, já se desenvolvera, a nível local, e nacional, uma certa consciência da necessidade de se preservarem os valores artísticos do passado. Por outro lado, já se não fazia sentir a necessidade de construir  dentro das muralhas cuja protecção se tornara apenas simbólica.
Assim, Castelo Branco encontrou-se, quase sem se dar conta, possuidora de um acervo de valores artísticos medievais que fazem justamente, inveja às cidades suas congéneres e fruto, afinal da estagnação urbanística imposta, sobretudo, pela falta de água. Seria caso para dizermos , com o antigo rifão: há males que vêm por bem!
Temos de verificar, no entanto, que embora o arranque para o seu impressionante desenvolvimento se tenha dado em tempos de relativa sensibilidade aos problemas  da arte, não têm conseguido as Câmaras dos últimos anos impedir autênticos “crimes”, consentindo em demolições  e construções, na zona medieval, sem um mínimo de respeito para com as características do meio ambiente, sendo a última destas aberrações a construção, adentro das muralhas, do novo edifício dos Correios – aliás uma construção magnifica que muito valorizou a nova cidade.
 Ali, onde está, levantou-se à custa de outros valores e nem espaço circundante tem para se poder admirar, no valor arquitectónico que, realmente, possui. Para que se pare, de vez, com tais aberrações,  para que não mais sejam possíveis delapidações ao ainda tão rico acervo artístico de Castelo Branco, nós decidimos a fazer este estudo, pensando no povo humilde e simples que, em geral, habita na zona medieval da nossa cidade para que respeite e faça respeitar o precioso património que, do passado, herdámos.
Cremos não ter perdido inteiramente o tempo que vamos destinando a esta causa.
Já vamos encontrando um caso ou outro em que, nas obras de restauro, se respeitam e até se valorizam os elementos artísticos dos edifícios em  questão,  sobretudo, restituindo às cantarias a sua beleza original, limpando-as  das camadas de cal e, por vezes de reboco, com que as tinham mascarado.
Vamos registar os portados quinhentistas  que encontramos e que se situam, naturalmente, dentro das muralhas ou na sua proximidade. Não é muito simples esta tarefa, até porque muitos desses portados, chanfrados ou biselados, ao sabor e segundo o estilo da época, e alguns  deles com lintéis trabalhados, com belos ornatos manuelinos, foram alterados, concretamente, no caso muito frequente, dos portados geminados, em que uma das portas foi transformada em janela.
(Continua)

NOTA. Tal como disse anteriormente, o trabalho do padre Anacleto Martins, será aqui publicado em vários post’s para impedir que se torne demasiado maçador e, por ser demasiado extenso para ser publicado de uma só vez. No post inicial,  apenas constará a introdução do trabalho, nos seguintes vou postar oito ruas por post. 
 O Albicastrense

3 comentários:

  1. Anónimo22:41

    Parabéns pela inciativa
    Eduardo Aroso

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  2. Anónimo17:49

    Parabéns pela vossa dedicação e trabalho.
    De facto, atualmente, já vamos verificando a preservação desses testemunhos da nossa história. Em Castelo Branco e em muitos outros locais.Ainda bem!
    Morei em CBranco, na Rua dos Ferreiros, de onde saí há mais de 40 anos.
    Com amizade, desejo-vos um feliz ano novo.
    Carlos

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  3. Caro anónimo.
    Bem-haja pelas suas palavras.
    Um bom ano também para si.

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