Para começar o ano de 2013, nada melhor que inicia-lo com um conjunto de post’s sobre uma das maiores preciosidades da terra albicastrense.
Em 1979 a revista “Estudos de Castelo Branco” publicou um trabalho do padre Anacleto Pires da Silva Martins, sobre os Portados Quinhentistas da Cidade de Castelo Branco.
Nesse trabalho, Anacleto Martins fez um levantamento dos portados da terra albicastrense, nele ficamos a saber com exactidão quantos eram os portados e em que ruas os podia-mos encontrar: “trezentos e sete portados, divididos por quarenta e uma ruas”.
No mesmo trabalho, podemos igualmente constatar a desgraçada e miseravel situação em que muitos dos velhos portados da terra albicastrense se encontravam em 1979.
Perante os números apresentados pelo padre Anacleto Martins, perguntei a min próprio, se trinta e três anos depois da apresentação do seu trabalho, algo se teria alterado no “reino” dos portados da terra albicastrenses.
- Será que os 307 portados ainda existem na sua totalidade?
- Será que as palavras de Anacleto Martins cairão em roto, e tudo continua como dantes?
- Ou será, que as palavras de Anacleto Martins abriram os olhos aos responsáveis pela autarquia dessa altura e seguintes, e hoje tudo está diferente?
Para encontrar resposta às minhas interrogações, resolvi postar aqui o trabalho de Anacleto Martins e visitar as 41 ruas, para desta forma ficar a saber, se efectivamente algo mudou no reino dos portados da terra albicastrense.
Trabalho que será publicado em vários post’s, que terão anotações minhas sobre as prováveis alterações provocadas pelo tempo e pela incúria dos homens, sobre os portados referenciados por Anacleto Martins. Desta forma, poderemos avaliar se o padre Anacleto andou a pregar em terra de surdos, ou se pelo contrario, as suas palavras terão contribuído para ajudar os nossos velhos portados quinhentistas.
Portados
Quinhentistas de Cidade
de
Castelo Branco
Por Anacleto Martins
INTRODUÇÃO
Castelo Branco guarda, na zona limitada pelas
muralhas, e não só, porventura, o mais
notável acervo de portas e janelas quinhentistas do nosso país, não obstante as
frequentes agressões feitas nos últimos anos e que os protestos da imprensa não têm conseguido evitar.
Vamos tentar convencer os albicastrenses deste
valor, para que, sentindo-se orgulhosos dele, o saibam defender e transmitir a
seus filhos, como rico património que urge preservar, como elemento de cultura
e de real turístico.
Pode perguntar-se porque não se preocuparam
outras cidades com a delapidação do seu património artístico e consentiram, sem protesto, na
remodelação das suas ruas e na substituição de tantos dos seus antigos
edifícios.
Cremos que só uma falta de cultura, bem
lamentável, pode explicar tal delapidação. Quer dizer que, durante um largo
espaço de tempo, os portugueses se alhearam do culto do seu património
artístico e, em muitos casos, colocaram
acima desses valores, a preocupação do seu desenvolvimento urbanístico, por
qualquer preço, ou de qualquer maneira.
De certo, não foi uma maior cultura, ou um
mais desenvolvido sentido artístico, que preservaram a nossa cidade da onda
iconoclasta que apagou a face medieval das nossas antigas vilas e cidades.
Para nós a explicação há-de ir buscar-se à
carência de factores de progresso de que
outras vilas e cidades puderam beneficiar, antes de nós, e, acima de todos,
parece-nos, o abastecimento normal de água.
Quando, em 1771, Castelo Branco se tornou sede
de uma nova diocese e, consequentemente, foi elevada à categoria de cidade e a
instalação dos novos serviços urgia o
seu desenvolvimento; quando a preocupação
da instrução, a alargar-se pelas aldeias, trouxe à cidade, sempre mais e
mais estudantes; quando a sua privilegiada situação, como nó de comunicações,
começou a apelar pelo seu alargamento – a falta de água asfixiava, em absoluto,
qualquer veleidade de crescimento.
Assim se explica que, desde o século XVI,
quase nada se tivesse alterado na maior parte das ruas da nossa cidade antiga,
até aos nossos dias, precisamente até 1933, data em que a Câmara conseguiu resolver, pelo menos para então, o problema vital da água.
E a verdade é que, nesta altura, apesar de
tudo, já se desenvolvera, a nível local, e nacional, uma certa consciência da
necessidade de se preservarem os valores artísticos do passado. Por outro lado,
já se não fazia sentir a necessidade de construir dentro das muralhas cuja protecção se tornara
apenas simbólica.
Assim, Castelo Branco encontrou-se, quase sem
se dar conta, possuidora de um acervo de valores artísticos medievais que fazem
justamente, inveja às cidades suas congéneres e fruto, afinal da estagnação
urbanística imposta, sobretudo, pela falta de água. Seria caso para dizermos ,
com o antigo rifão: há males que vêm por bem!
Temos de verificar, no entanto, que embora o
arranque para o seu impressionante desenvolvimento se tenha dado em tempos de
relativa sensibilidade aos problemas da
arte, não têm conseguido as Câmaras dos últimos anos impedir autênticos “crimes”,
consentindo em demolições e construções,
na zona medieval, sem um mínimo de respeito para com as características do meio
ambiente, sendo a última destas aberrações a construção, adentro das muralhas,
do novo edifício dos Correios – aliás uma construção magnifica que muito
valorizou a nova cidade.
Ali, onde está, levantou-se à custa de outros
valores e nem espaço circundante tem para se poder admirar, no valor
arquitectónico que, realmente, possui. Para que se pare, de vez, com tais
aberrações, para que não mais sejam
possíveis delapidações ao ainda tão rico acervo artístico de Castelo Branco,
nós decidimos a fazer este estudo, pensando no povo humilde e simples que, em
geral, habita na zona medieval da nossa cidade para que respeite e faça
respeitar o precioso património que, do passado, herdámos.
Cremos não ter perdido inteiramente o tempo
que vamos destinando a esta causa.
Já vamos encontrando um caso ou outro em que,
nas obras de restauro, se respeitam e até se valorizam os elementos artísticos
dos edifícios em questão, sobretudo, restituindo às cantarias a sua
beleza original, limpando-as das camadas
de cal e, por vezes de reboco, com que as tinham mascarado.
Vamos registar os portados quinhentistas que encontramos e que se situam,
naturalmente, dentro das muralhas ou na sua proximidade. Não é muito simples
esta tarefa, até porque muitos desses portados, chanfrados ou biselados, ao
sabor e segundo o estilo da época, e alguns
deles com lintéis trabalhados, com belos ornatos manuelinos, foram
alterados, concretamente, no caso muito frequente, dos portados geminados, em
que uma das portas foi transformada em janela.
(Continua)
NOTA. Tal como disse anteriormente, o trabalho do padre Anacleto Martins, será aqui publicado em vários post’s para impedir que se torne demasiado maçador e, por ser demasiado extenso para ser publicado de uma só vez. No post inicial, apenas constará a introdução do trabalho, nos seguintes vou postar oito ruas por post.
O Albicastrense
Parabéns pela inciativa
ResponderEliminarEduardo Aroso
Parabéns pela vossa dedicação e trabalho.
ResponderEliminarDe facto, atualmente, já vamos verificando a preservação desses testemunhos da nossa história. Em Castelo Branco e em muitos outros locais.Ainda bem!
Morei em CBranco, na Rua dos Ferreiros, de onde saí há mais de 40 anos.
Com amizade, desejo-vos um feliz ano novo.
Carlos
Caro anónimo.
ResponderEliminarBem-haja pelas suas palavras.
Um bom ano também para si.