domingo, fevereiro 03, 2013

EFEMÉRIDES MUNICIPAIS - LXX


A rubrica Efemérides Municipais foi publicada entre Janeiro de 1936 e Março de 1937, no jornal “A Era Nova”. Transitou para o Jornal “A Beira Baixa” em Abril de 1937, e ali foi publicada até Dezembro de 1940. A mudança de um para outro jornal deu-se derivada à extinção do primeiro. António Rodrigues Cardoso, “ARC” foi o autor desde belíssimo trabalho de investigação, (Trabalho que lhe deve ter tirado o sono, muitas e muitas vezes).

O texto está escrito, tal como foi publicado.
Os comentários do autor estão aqui na sua totalidade.

(Continuação)
Vem depois a sessão de 24 de Abril e nela apareceu Manuel Nunes Sanches e Francisco Nunes se Sequeira a pedir, “por parte do povo”, que o açougue da nobreza fosse arrematado a Manuel da Fonte e António José Rodrigues, porque estes, tendo sido arrematantes do referido açougue, sempre tinham cumprido, dando carne em abundância e servido com prontidão, ao passo que o arrematante que ultimamente tivera à sua conta o mesmo açougue, e acudia pelo nome de Euzebio Ferreira, “não cumprio bem dando rezão a varias queixas já pela rezão da qualidade das carnes e rezes menos aptas que fazia entroduzir e já porque não era pronto”.

Os queixosos assinaram a queixa com os seus nomes, feitos com um esmero que devia deixar o escrivão Aranha a morder-se de inveja, e a seguir dia a acta assim:

E logo pelos ditos Ministros e officiais da Camara foy detreminado que por lhes constar da verdade do requerimento dos Misteres e por ter andado o assougue em prassa desde o principio da Quaresma athe o dia da Paschoa e não haver quem lançasse nelle menos da quantia de quarenta reis pelo arratel da vaca e trinta e sinco reis por cada arratel de chibato e carneyro e vinte e sinco reis por cada arratel de cabra em todo o anno e em atenção tãobem a terse mandado deitar hum pregão no dito dia da Paschoa em que se declarava que não havia quem menos desse do dito preço ficando por isso esta Camara com direito de escolher tanto pelo tanto aquele a rematante que tivessa milhores qualidades para servir o publico com excluzão de outro qualquer ainda mesmo que se não revestisse da notoria innabelidade do pertendido excluzo em atenção tambem a aparesserem depois do dito dia Domingo de Paschoa Manuel da Fonte e António Jozé Rodrigues offeressendo menos do dito Lanço mandarão se a rematasse a estes pelas rezoens exostas”.

Fizemos esta transcrição por a acharmos interessante por vários motivos e, muito especialmente, para que todos os que nos lêem possam, pela comparação dos preços das carnes nos últimos anos do século XVIII com os preços de hoje, fazer uma ideia aproximada da diferença do valor da moeda de então.
A carne de vaca tinha obtido em praça no Domingo de Páscoa do ano de 1794, isto é, nos princípios do mês de Abril, 40 réis por arratel; a carne de carneiro e chibato, 35 réis; a carne de cabra, 25 réis. Mas a acta diz-nos que, depois disse, os arrematantes Manuel da Fonte e António José Rodrigues tinham oferecido “menos do dito lanço”, por conseguinte seriam fornecidas por eles ainda por menos de 40, 35 e 25 réis respectivamente.

Como o arratel tinha 459 gramas, o quilograma tinha um pouco mais de dois arrateis, por conseguinte o quilograma da carne de vaca não custava então mais de 80 réis, e a de carneiro e chibato não valeria mais de 70 réis e a de cabra 50 réis, visto que o arratel das respectivas carnes ainda foi arrematada por menos de 40, 35 e 25 réis respectivamente.

Comparem com os preços actuais e sem esforço concluirão que aqueles dois contos de réis que a Câmara mandou cobrar e guardar, em sessão de 21 de Abril de 1783, para “as despesas a fazer com as festas a realizar pelo feliz parto que esperavam da Princeza Nossa Senhora”, não valiam menos de duzentos contos da moeda de hoje e que por conseguinte razão tivemos para dizer, quanto à acta da aludida sessão nos referimos, que as tais festas deviam ser coisa de alto lá com elas.
(Continua)
PS. Mais uma vez informe os leitores dos postes “Efemérides Municipais”, que o que acabou de ler é, uma transcrição fiel do que foi publicado na época.
O Albicastrense

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