A
rubrica Efemérides Municipais foi publicada entre Janeiro de 1936 e
Março de 1937, no jornal “A
Era Nova”.
Transitou para o Jornal “A
Beira Baixa”
em Abril de 1937, e ali foi publicada até Dezembro de 1940. A
mudança de um para outro jornal deu-se derivada à extinção do
primeiro. António Rodrigues Cardoso, “ARC”
foi o autor desde belíssimo trabalho de investigação, (Trabalho
que lhe deve ter tirado o sono, muitas e muitas vezes).
O
texto está escrito, tal como foi publicado.
Os
comentários do autor estão aqui na sua totalidade.
(Continuação)
Vem
depois a sessão de 24 de Abril e nela apareceu Manuel Nunes Sanches
e Francisco Nunes se Sequeira a pedir, “por
parte do povo”,
que o açougue da nobreza fosse arrematado a Manuel da Fonte e
António José Rodrigues, porque estes, tendo sido arrematantes do
referido açougue, sempre tinham cumprido, dando carne em abundância
e servido com prontidão, ao passo que o arrematante que ultimamente
tivera à sua conta o mesmo açougue, e acudia pelo nome de Euzebio
Ferreira, “não
cumprio bem dando rezão a varias queixas já pela rezão da
qualidade das carnes e rezes menos aptas que fazia entroduzir e já
porque não era pronto”.
Os
queixosos assinaram a queixa com os seus nomes, feitos com um esmero
que devia deixar o escrivão Aranha a morder-se de inveja, e a seguir
dia a acta assim:
“E
logo pelos ditos Ministros e officiais da Camara foy detreminado que
por lhes constar da verdade do requerimento dos Misteres e por ter
andado o assougue em prassa desde o principio da Quaresma athe o dia
da Paschoa e não haver quem lançasse nelle menos da quantia de
quarenta reis pelo arratel da vaca e trinta e sinco reis por cada
arratel de chibato e carneyro e vinte e sinco reis por cada arratel
de cabra em todo o anno e em atenção tãobem a terse mandado deitar
hum pregão no dito dia da Paschoa em que se declarava que não havia
quem menos desse do dito preço ficando por isso esta Camara com
direito de escolher tanto pelo tanto aquele a rematante que tivessa
milhores qualidades para servir o publico com excluzão de outro
qualquer ainda mesmo que se não revestisse da notoria innabelidade
do pertendido excluzo em atenção tambem a aparesserem depois do
dito dia Domingo de Paschoa Manuel da Fonte e António Jozé
Rodrigues offeressendo menos do dito Lanço mandarão se a rematasse
a estes pelas rezoens exostas”.
Fizemos
esta transcrição por a acharmos interessante por vários motivos e,
muito especialmente, para que todos os que nos lêem possam, pela
comparação dos preços das carnes nos últimos anos do século
XVIII com os preços de hoje, fazer uma ideia aproximada da diferença
do valor da moeda de então.
A
carne de vaca tinha obtido em praça no Domingo de Páscoa do ano de
1794, isto é, nos princípios do mês de Abril, 40 réis por
arratel; a carne de carneiro e chibato, 35 réis; a carne de cabra,
25 réis. Mas a acta diz-nos que, depois disse, os arrematantes
Manuel da Fonte e António José Rodrigues tinham oferecido “menos
do dito lanço”, por conseguinte seriam fornecidas por
eles ainda por menos de 40, 35 e 25 réis respectivamente.
Como
o arratel tinha 459 gramas, o quilograma tinha um pouco mais de dois
arrateis, por conseguinte o quilograma da carne de vaca não custava
então mais de 80 réis, e a de carneiro e chibato não valeria mais
de 70 réis e a de cabra 50 réis, visto que o arratel das
respectivas carnes ainda foi arrematada por menos de 40, 35 e 25 réis
respectivamente.
Comparem
com os preços actuais e sem esforço concluirão que aqueles dois
contos de réis que a Câmara mandou cobrar e guardar, em sessão de
21 de Abril de 1783, para “as despesas a
fazer com as festas a realizar pelo feliz parto que esperavam da
Princeza Nossa Senhora”, não valiam menos de duzentos
contos da moeda de hoje e que por conseguinte razão tivemos para
dizer, quanto à acta da aludida sessão nos referimos, que as tais
festas deviam ser coisa de alto lá com elas.
(Continua)
PS.
Mais uma vez informe os leitores dos postes “Efemérides
Municipais”,
que o que
acabou de ler é, uma transcrição fiel do que foi publicado na
época.
O
Albicastrense
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