terça-feira, março 05, 2013

ELOGIO FÚNEBRE A FRANCISCO TAVARES PROENÇA JÚNIOR


 (Feito por Maria Emília Louraça, directora do Jornal; “A Aurora”.)

Na terça feira pretérita saia a cidade por momentos da sua inercia habitual. Circulava nas bocas de todos os seus habitantes uma tristíssima noticia.
Ia chegar de Lauseanne (Suissa) para recolher ao jazigo da família o cadáver do nosso querido patrício Sr. Francisco Tavares Proença Júnior falecido em plena mocidade.
Muito antes da chegada da locomotiva que trazia aqueles preciosos despojos, começou o povo a caminhar em grupos para a estação do caminho de ferro, onde se acumulou, misturando-se ali sem distinções todos aqueles, que queriam render o seu preito respeitoso àquele morto ilustre. Passando algum tempo poz-se o cortejo em marcha percorrendo silencioso o trajecto que vai da Estação à Igreja Matriz onde foi depositada a urna em magnifico catafalco.
Em todos os rostos se divisava a tristeza da solenidade do momento, deixando-nos a dolorosa impressão duma perda irreparável.
Ontem realizou-se o enterro que escusado é dizer revestiu um carácter imponente; tudo o que de Castelo Branco tem de melhor estava ali representado não falando no povo que se apinhava em massa em extensão compacta. 
Enaltecer as qualidades do morto não pertence a mim fazê-lo, por ser medíocre na arte de escritora, deixo isso a quem tiver competência para o fazer; direi apenas que o Sr. Proença Júnior, era moço distinto de excelentes qualidades e um belo carácter.
Castelo Branco está de luto por ter falecido um dos seus filhos mais diletos; neste pequeno torrão que o viu nascer no palácio dos seus maiores, teve o Sr. Proença Júnior o seu berço de oiro.
Parecia que nada lhe faltava para ser feliz; tinha um pai que o adorava e uma mãe que o estremecia; em sua carinhosa irmã a Sr. D. Barbara Tavares de Proença colhia ele um verdadeiro amor fraternal: o dinheiro tinha-o sempre à farta, e não lhe faltavam amigos em cada pessoa que conhecia. 
De repente acontecimentos políticos lavaram-no para longe de nós, e actualmente para achar alivio à doença que há muito o vinha martirizando via-se obrigado a viver na Suíça onde os seus não o podiam acompanhar por a saúde de seu pai ser também muito precária.
Ultimamente agravaram-se os sofrimentos do simpático moço, e lá morreu longe da terra que o viu nascer, e da pátria que muito amava.
Triste odisseia duma existência que parecia tão florida, e ainda mais triste o desenlace, que a todos acabrunhou deixando-nos um vácuo tarde ou nunca preenchido porque a sua saudosa memoria ficara na alma de todos.
Os albicastrenses que esperavam abraçá-lo um dia cheio de vida e mocidade, apenas puderam ter a consolação de acompanhar os seus restos ao jazigo da família onde ficaram depositados.
Que descanse em paz o nosso querido, e nunca assás chorado patrício e amigo, e a sua família enlutada as suas sentidas condolências lhe enviam os colaboradores e a redacção do Jornal “A AURORA” .

PS. O texto está tal como foi escrito na época.
 (Jornal. "A Aurora", nº 2, de 15-10-1916).
O Albicastrense

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