Nos
finais do século XIX e princípios do seguinte, decidiram as
vereações de determinados municípios, que os seus velhos
pelourinhos, eram “símbolos de tempos
passados que interessava mandar abaixo!...” vai daí,
mandavam demolir aquilo que afinal mais não era, que um marco puro
da passada autonomia municipal, secular padrão das suas antigas
liberdades.
Os
pelourinhos eram erguidos no largo principal das povoações, quando
estas subiam à categoria de vila. Em Castelo Branco, o velho Pelourinho com alguns séculos de existência, não escapou à onda
destruidora e, também ele foi mandado abaixo.
Do livro; "Pelourinhos e Forcas" de Jaime Lopes dias, aqui fica um pequeno apontamento, sobre o antigo pelourinho da terra albicastrense.
CASTELO
BRANCODe
origem remotíssima, Castra Leuca dos romanos, sucessora da Belcagia
ou de castro mais antigo, Castelo Branco, Vila Franca no alvorecer
da nacionalidade, povoação formosa que se reclina na esbelta
elevação que se impõe e destaca no dilatado horizonte que corre
da Gardunha às Talhadas e ultrapassa a fronteira, teve forais dados
por D. Sancho I em 1188, por Pedro Alvitis, mestre da Ordem do
Templo, em 1213, por Pedro de Sousa, grão-mestre da Ordem de
Cristo, em 1495, e por D. Manuel em 1 de Junho de 1510. Vila desde a
fundação, classificada de notável por D. João II, D. José
elevou-a à categoria de cidade em 21 de Março de 1771.
Sede
de Correcção, cabeça de Comarca, teve como não podia deixar de
ter, com tais pergaminhos, o seu pelourinho na Praça, hoje conhecida
por Praça Velha, em frente dos antigos Paços Municipais.
Viu-o
ainda, e em seus degraus se sentou o sr. dr. Augusto de Sousa
Tavares, e com ele certamente pessoas de sua idade, que bem poucas
são já hoje em Castelo Branco. Não é possível reproduzi-lo ou
desgrave-lo em sua minúcia, mas pode em todo o caso, afirmar-se,
segundo as absequiosas informações do sr. dr. Augusto Tavares, que
a plataforma se compunha de dois degraus quadrados sendo a coluna,
capitel e remate de arquitectura pobre.
A
existência do pelourinho, e não só do pelourinho mas também da
forca de Castelo Branco, é-nos atestada ainda pelo seguinte
capitulo do Compromisso da Misericórdia, de 1 de Novembro de 1596,
reduzido do da cidade de Lisboa, e mandado guardar por provisão de
17 de Junho de 1597, “Capitulo
XXVII dos padecentes”.
“Quando
alguma pessoa houver de padecer por justiça, irão o Provedor e
irmãos da mesa a acompanhá-lo, e irá a bandeira, a qual levará um
irmão metido em um balandrao, e dois da mesma maneira com tocheiros
acessos, e um irmão com uma vara junto à bandeira, e os Capellais
da casa em precisão, e outro irmão com outra vara regendo, e o
crucifixo, no couce da procissão, e quatro irmãos vestidos, com
seus balandraos com tochas acesas e um dos enfermeiros levará as
consolações convenientes para esforçarem o padecente, e mandarão
lavar uma caldeira com água benta, e nesta ordem irão até à porta
da cadeia, onde esperarão até tirar a justiça, o padecente, que
virá metido em uma vestia branco de pano de linho, que os mordomos
da Capella mandarão fazer quando tiveram recado que há-de padecer,
mandando primeiro a campainha com a insígnia, que se costuma andar
pelos padecentes, para ser notório aos que o quiserem acompanhar:
elle em saindo se assentará em joelhos diante do crucifixo, e lhe
darão a beijar, e se assentarão todos em joelhos, os Capellais
começarão a ladainha, e não se levantarão até dizerem – Santa
Maria – o que todos responderão – Ora pro nobis – e então se
levantarão, e começarão
a andar prosseguindo a ladainha na mesma ordem, em que vierão,
passando os quatro irmão que iam detrás do crucifixo para diante
junto aos Capellais, e ficará o padecente detrás do crucifixo; e os
pregoeiros irão diante da bandeira de Nossa Senhora por não fazerem
tumassa com os pregões ao padecente, e chegando a alguma Igreja
pôr-se-ão todos de joelhos, e dirão três vezes em voz alta –
Senhor Deus Misericórdia – e em se levantando o que levar o
crucifixo dá-lho a beijar nos pés ao padecente, e chegando à
Igreja do Espírito Sancto osterá uma missa presta para nella, de
fora, ver a Deus,
e lhe pedir perdão de seus pecados, e irão continuando até ao
lugar onde houver de padecer; e então neste aperto, começarão os
ditos Capellais a cantar o: Ne recorderis pecato mea Domine –
lançando água benta sobre o dito padecente até dar sua alma a
Deus, que a criou, e remiu com o seu precioso sangue.
E
porque a Misericórdia de Deus a todos abrange, é bem que os que
padecem não sejam de todos esquecidos, se ordenou pelo irmão, e
fundadores desta casa, que o ano que houver padecentes se faça
memoria delles pelo dia de todos os Santos, e depois da missa do dia
mandará o mordomo da Capella a insígnia pela Vila para que se
ajuntem os irmãos na casa da Misericórdia para depois de vésperas
irem em procissão vestidos com seus balandraos, e círios nas mãos,
com bandeira e crucifixo, e uma tumba buscar a ossada dos que tiveram
padecido, e tornando à Misericórdia, e posta a tumba no meio da
igreja haverá pregação, e ele acabado enterrarão a ossada.
E
o que padecer por justiça no pelourinho, ou em outros lugares
particulares, terá o mordomo da Capella cuidado de o mandar enterrar
quando forem horas, conforme seu regimento, e se alguns morrerem
queimados por justiça, morrendo na Fé Católica, logo naquele dia à
tarde em que padecem, o mordomo da Capella mandará um servidor da
casa, que vá ajuntar a ossada que ficar por queimar do tal
padecente, e o trará em um lençol para se enterrar em lugar
sagrado, porque a caridade que Nosso Senhor deixou encarregado que
usássemos com nossos próximos será de todo cumprido com os
padecentes”.
Sobre
a data da destruição, lavada a efeito em consequência de
edificações em redor da Praça e para regularização da mesma,
nada conseguimos averiguar ao certo.
Em
todo o caso, a avaliar pelo que escreveu o Bispo de Angra, D. João
Maria Pereira de Amaral e Pimental (obr. Cit., pág. 221) deve ela
ter-se efectuado posteriormente a 1880. Diz assim, o venerando
antiste:
“Nem
esta moda está tão vulgarizada que se envergonhem de possuírem
seus pelourinhos, a Sertã, cabeça de comarca, Castelo Branco,
cabeça de distrito, e Lisboa, capital do reino.... Oleiros quis,
porém avantajar-se a estas terras, e no dia 22 de Março do corrente
ano de 1880, fez apear o padrão da sua maior gloria”.
Em
resposta à circular da associação dos Arqueólogos, de 19 de Junho
de 1900, já atrás referida, disse a Câmara Municipal do Conselho
de Castelo Branco, em 4 de Julho do mesmo ano, que no território do
município não existiam pelourinhos. Das
transcrições feitas é fácil concluir que: Castelo Branco teve
pelourinho e forca, aquele destruída há mais de 50 anos; e que o
caminho para a forca, se fazia pelo Espírito Santo, capela em que os
padecentes pediam pela ultima vez perdão a Deus. Localização
exacta? Pergunta para qual eu não consegui resposta e que aqui deixo
com sincero desejo de que algum mais feliz investigador, possa
esclarecer.
Jaime
Lopes Dias
PS.
Sessenta e muitos anos depois da publicação deste artigo, o tal
investigador que Jaime Lopes Dias esperava que um dia aparecesse para
fazer luz sobre o destino que teria sido dado ao velho Pelourinho da
terra albicastrense, nunca apareceu, continuando tudo na mesma. As imagens publicadas nesta publicação, são da autoria do aguarelista, Fernando Perfeito de Magalhães, publicadas no livro; "Pelourinhos e Aguarelas", editado pelo Museu Francisco Tavares Proença Júnior em 1977.
O
Albicastrense
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