quinta-feira, maio 10, 2018

VISITA DA FAMÍLIA REAL A CASTELO BRANCO

 INAUGURAÇÃO DA LINHA DO CAMINHO DE FERRO DA BEIRA BAIXA

Discurso de boas vindas à família real, quando da inauguração da linha da Beira Baixa em 1891.
O discurso foi publicado pelo jornal; CORREIO DA BEIRA”, no dia 9 de Setembro de 1891.
Segundo consta, o referido discurso foi escrito por Maria Emília Louraça.  
Resta acrescentar, que nestes festejos estiveram os meus avós paternos.                

          A SUAS  MAJESTADES
Obrigado, Senhores, pela vossa visita, que tanto enthusiasmo despertou ao povo albicastrense, certamente merecedor de tal honra, pelo expontaneo affecto e dedicação, que rende á família real portugueza.
Obrigado, Senhores, porque viestes mostrar ao povo português que bem compreendeis a vossa elevada missão, vindo inaugurar o celebérrimo melhoramento com que foi dotada esta província.
Era justo que a monarchia portugueza do fim do século dezanove, filha predilecta dos princípios liberais, que foram a alvorada d’seculo, solemnisasse com a sua augusta presença e manifestação por execellencia da mais arrojada civilização.
A vossa visita foi um imortal exemplo do que devem ser os monarchias constitucionais, a estreita união entre o rei e o povo.
 E quando as grandes potências nos quiserem deslumbrar com o seu poderio dizei-lhes: nós passeamos quasi confundidos no meio d’uma multidão compacta de todas as classes que nos saudava, conversando alegremente com os que por acaso se aproximavam de nós, sem inquirirmos quem eram, nem se nos seriam dedicados, porque a atitude do povo não deixava duvida de que em cada pessoa que nos acompanhava  pulsava um coração amigo.
Dizei ainda a esses que fazem gala dos seus armamentos que a vossa esquadra e couraçados para defeza dos vossos direitos é formada pelo coração de cada portuquez transborda de patriotismo e de dedicação pelos seus reis.
O povo actual, se não comprehende já a realeza ostentosa, cheia de etiquetas anachronicas e tão elevada que só se lhe apreciam os ouropéis, comprehede bem e adora a realeza popular, realçada pela caridade e pela afeição consagrada ao povo.
Continuai pois com firmeza na vossa senda por vezes espinhosa, com a mesma amabilidade e dedicação pelo povo e vivendo com elle, para que, quando for preciso, venha cortar os espinhos que vos impedirem a passagem.
Aquelles a quem enxugasteis as lágrimas, a quem manifestasteis a vossa incomparável amabilidade.
E vós, Senhora, não encarcereis no vosso palácio a amabilidade distinctissima com que a natureza vos dotou, porque haveis de conseguir gravar no coração de todos os que tiverem fortuna de vos apreciar de perto a dedicação que só as grandes sympathias sabem inspirar.
E se por ventura alguma vez vos sentirdes amargurada, recordai-vos, como pderoso balsamo, de que uma noite de cinco de Setembro de 1891 estivesteis risonha e satisfeita entre uma grande massa do povo, que vos manisfestava a sua sympatia, dançando ao som de cantares populares e do tradicional adofe beirão. Acceitai, pois, a saudação d’este povo reconhecido á vossa popularidade e à desvelada caridade com que tratasteis os desprotegidos da fortuna.                         

Ps. O discurso está neste poste, tal como foi 
 publicado no jornal, "CORREIO DA BEIRA", em 1891.
O Albicastrense

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