ANTÓNIO FORTE SALVADO
Poeta, ensaísta,
antologiador e tradutor natural de Castelo Branco, onde nasceu a 20
de Fevereiro de 1936. É Licenciado em Letras: Filologia Românica
pela Universidade Clássica de Lisboa, esteve profissionalmente
ligado ao ensino e à museologia, docente do Ensino
Técnico-Profissional, do Ensino Superior Politécnico, da Escola
Secundária Nuno Álvares (Liceu) de Castelo Branco, cidade onde foi
Director-Conservador do Museu de Francisco Tavares Proença Júnior e
Vogal do Conselho de Arte e Arqueologia da Câmara Municipal de
Castelo Branco. É membro da Cátedra de Poética Fray Luís de León,
da Universidade Pontifícia de Salamanca. É autor duma escrita
(profícua) de poesia e antologia de várias obras. Dirige a revista
"Estudos de Castelo Branco" (III série; já tinha dirigido
a II), sendo o editor dos Cadernos de Cultura "Medicina na Beira
Interior da Pré-história ao século XX". Tem colaboração
dispersa em vários jornais e revistas, portuguesas ("Palavra em
Mutação") e estrangeiras ("Encontro", do Brasil).
Contrariamente ao habitual desta vez não me vou ficar pela apresentação biográfica da personalidade escolhida, pois se o fizesse estaria a cometer uma grande injustiça.
Tive o privilégio de conhecer o Dr. Salvado em 1976, aquando de uma entrevista para o lugar de servente no quadro do Museu Tavares Proença. O curioso é que trinta anos após a referida entrevista, ainda hoje me recordo perfeitamente da mesma, no entanto se me for perguntado o que fiz há alguns dias, ficarei aflito para responder.
Porque será? Trabalhei com o Dr. Salvado no Museu entre 1976 e 1989, (tempo suficiente para conhecer bem este Homem), no entanto a questão que se me coloca neste momento é a seguinte: Que poderei eu dizer sobre este homem, que ainda não tenha sido dito? Seria trágico e até de muito mau gosto da minha parte, escrever aqui um conjunto de banalidades, (como é costume aliás fazer-se), sempre que se pretende homenagear ou dizer bem de alguém. Direi apenas que Castelo Branco e as suas gentes nunca conseguirão pagar e este homem bom, tudo aquilo que ele nos doou, (e irá continuar a doar), ao longo de uma vida. Ao Dr. António Forte Salvado um grande abraço.
Poema de Natal (IV - Noite Branca)
Melodia macia perfumada
a desta noite: bafo de surpresas,
odor dos troncos a resplandecerem
cabor do Encoberto regressado.
Os astros correm pela Terra acesa
ciciando palavras entre orvalho -
a directriz que denuncia os passos
por onde caminharmos sem receio.
Mistério d'encantamento nascimento,
ela nos cobre com seu manto estranho
bordado a graça a lar a comunhão;
e nunca a voz do fogo foi mais viva;
a labareda cresce ao infinito
gestos d'amor surdindo em nossas mãos.
António Salvado
O Albicastrense
Palavras para quê. De António Salvado nunca se dirá tudo.Pela minha parte privei com ele alguns anos, e muito gostaria de estar mais perto dele, tanto a nível profissional como particularmente, e como epilogo posso dizer que em certa época da minha vida foi para mim um segundo pai. Que mais posso adiantar?
ResponderEliminarAgora a cidade e o seu Museu têm uma dívida de gratidão que teima em não redimir. Saúde e um Abraço
Sobre o último livro de poesia de António Salvado:Os Distantes Acenos escreveu-se no blog antologiadoesquecimento.blogspot.com
ResponderEliminarAntónio Salvado (n. 1936) é autor de uma vasta obra, iniciada em 1955, cuja parte mais considerável se encontra reunida em três volumes editados pela A Mar Arte. Os Distantes Acenos, uma das suas colectâneas mais recentes, é uma Edição Estudos de Castelo Branco e mostra-nos o poeta no pleno da sua maturidade. Contemporâneo de autores como António Osório (n. 1933), Pedro Tamen (n. 1934), Maria Teresa Horta (n. 1937), entre muitos outros, Salvado nunca atraiu o reconhecimento e a popularidade que ajudam a colocar alguns dos pares do seu tempo entre os mais importantes do Séc. XX. Poucos leitores de poesia portuguesa do século passado terão ouvido falar do seu nome, ofuscado que foi pela sombra de obras colossais, de Herberto Helder (n. 1930) a Ruy Belo (n. 1933 – m. 1978), de Rui Knopfli (n. 1932 – m. 1997) a Fernando Assis Pacheco (n. 1937 – m. 1995), de E. M. de Melo e Castro (n. 1932) a Alberto Pimenta (n. 1937). Poucos serão também os leitores que terão tido acesso à sua poesia, cuja circulação e divulgação nunca mereceu a mesma vigilância crítica e promocional de outras vozes, cada qual com os seus particularismos. Não penso que se trate de um poeta da mesma dimensão da maioria dos acima referidos, mas é, por certo, um poeta que mereceria outra atenção não fosse o caso de vivermos num país onde "a importância dos poetas" é medida em função das cátedras que os fomentam ao estilo de modas efémeras mas tão rentáveis quanto possível. Talvez precisamente por isso, por ser um poeta avesso a modas, me apeteça chamar a atenção para um certo classicismo que vislumbro na obra de António Salvado. Em poucos poetas da sua geração, mais ainda nos actuais, encontramos uma riqueza lexical e, por consequência, uma densidade linguística como aquela que nos propõe a sua poesia. Resulta isso numa noção de ritmo fiel às formas clássicas, não porém conservadora, que acaba por ser hoje, depois de todos os modernismos, cada vez mais um desafio tremendo à leitura: «Escrevo como quem sem viço colhe / d’um qualquer seco arbusto / exíguas cascas de pequenos brotos / que ali ficaram para quê e mortos / mas que sonharam o sabor de frutos» (p. 37). Os Distantes Acenos é um livro que nos chama permanentemente a atenção para a riqueza da língua portuguesa, respeitando-a na sua forma mais lírica e contribuindo, assim, para uma diversidade que julgo ser o aspecto mais rico da nossa poesia do século passado. Os seus poemas são breves registos, em tom afectuoso, da ambivalência com que o sujeito poético vivencia a realidade. Se os olhos logram comover-se com a pureza, fragilidade, puerilidade, candura, de uma flor abrindo, já o coração parece não conseguir libertar-se da dúvida, do súbito pesadelo da dúvida, da procura inquieta de uma plenitude que a toda a hora escapa. De certa forma há um desconforto, um ruído que exila o coração e que o leva ao pranto, que o adormenta, há, enfim, um mal-estar que teima sobrepor-se à ternura da paisagem. Num belo poema intitulado «Largamente Nevara…», são, no final, os restos mortais de um lobo morto o que acaba por sobressair dentro dos vales, das encostas, das ravinas, da brancura, da calma, do silêncio da floresta. No fundo, Os Distantes Acenos são fragmentos de beleza que não apagam a melancolia que a(tinge) o coração: «Os acenos distantes / não chegam a quebrar melancolias / à cor desvanecida do meu sangue… / E uma nesga de fé não criaria / um novo anelo à minha confiança» (p. 40). Talvez este livro, talvez os poemas deste livro, possam eles mesmos ser um desses acenos distantes, estejamos nós para aí voltados e de coração aberto para a poesia, sem preconceitos a toldarem-nos as opções de leitura.
nunca li nada do setor salvado, mas conheci o homem, e o filho e a filha.Gente muito simpatica.Ja agora vi uma foto no jornal reconquista tirada em frente da camara no dia 26 de abril de 74, que por ser diminuta nao se conseguia distinguir ninguem.Sera que o amigo verissimo e capaz de conseguir por essa foto aqui no blog?eu lembro me desse dia e acho que tambem fiquei nessa foto, era eu ainda um rapazote.Um bom natal
ResponderEliminarAmigo anton.
ResponderEliminarGostaria de poder satisfazer o seu pedido, porém nada tenha a ver com o jornal reconquista, e também não sei a que foto se refere. Dê um salto ao jornal, pode ser que eles tenham o negativo da fotografia, e lhe arranjem a foto que quer.
Bom natal também para si.